Friday, May 25, 2007

Providencial

Dizer mal é fácil e apetece. Temos muitas razões para dizer mal; da Ordem dos Arquitectos, dos arquitectos sem ordem; da Bastonária titubeante; resumindo: de tudo.
Mas hoje vou dizer Bem!:
Do Sr. Provedor da arquitectura, Arqº Francisco Silva Dias.
Assim que tive conhecimento da figura de Bastonário da Ordem, enviei para esta entidade um e-mail a relembrar o escândalo que consiste na construção ilegal e arbitrátria de um edifício desqualificado e clandestino, no lugar do edifício que eu conquistei, ainda muito novo (há mais de 15 anos) por unanimidade, em Concurso Público, acompanhado pela ex- Associação dos Arquitectos (A.A,).
Não hesitei em manifestar o meu desagrado pela negligência (para não usar um termo mais contundente)da Ordem perante este flagrante abuso de poder (da parte da autarquia).
Pura e simplesmente, a O-A "esteve-se nas tintas" para um assunto que, desde logo, atenta descaradamente contra os Estatutos e o Código Deontológico que reje a nossa profissão.
Não tenho um registo rigoroso das tentativas que fiz para que a O-A cumprisse os seus compromissos estatutários.
A negligência, a roçar a cumplicidade, permitiu que, no lugar do edifício que eu conquistei por unanimidade dos elementos do júri (entre eles estsva um representante da Associação dos Arquitectos) fosse construído, ilegalmente e com a conivência da Câmara municipal de Beja e do BejaPolis um mamarracho que, até hoje, não serve para nada.
O nosso Provedor recebeu esta denúncia. Tardou em responder (o processo tem 15 anos e concerteza precisou de se inteirar dos factos.
De louvar é a sua resposta. Não a reproduzo aqui porque não tenho o seu consentimrnto para isso. Mas posso dizer, sem violar as regras da boa educação, que o conteúdo do seu texto, para além de ter um tom de sincera educação e integra postura, anexa a carta que, sobre esse assunto enviou à nossa "Presidente".
Um texto que eu entendi como cauteloso mas directo

Tuesday, May 22, 2007

"Árvore de Noé"



Mais uma viagem a uma das províncias de Angola, desta feita o Cunene, no Sul do país.



Mais uma descoberta reveladora da criatividade e espontaneidade plástica deste povo, “oferecida” pelo meu amigo e Eng.º Paulo Silveira, a quem muito agradeço.



Estávamos ontem em Onjiva, capital dessa província fronteiriça e o Paulo desviou-nos do caminho para o aeroporto para nos levar "a um local muito especial para vermos uma árvore”.
O tempo era escasso. A hora de apanhar o único avião desse dia para regressar a Luanda aproximava-se, ameaçadora.
Ao princípio, antes de chegar ao sítio, pensei que se trataria de mais um dos gigantescos imbomdeiros que ali se podem observar.



Quando chegámos, olhei para a árvore que ele nos apontava e, de longe, pareceu-me uma árvore bonita mas sem nada de extraordinário.


Porém, quando me aproximei percebi a razão da insistência do Paulo;
Estava perante uma obra de arte incrível; O enorme tronco da árvore era uma complexa e encantadora escultura viva. Representava o povo e, sobretudo, a fauna deste país.




As formas naturais criadas pelos ramos tinham sido genialmente transformadas em elefantes, gazelas, crocodilos, macacos, etc.
O tempo não chegou para descobrir e apreciar cada uma das figuras ali esculpidas. O próprio Paulo (para ele este é um "local de culto") descobriu, comigo, algumas novas figuras.




As imagens, captadas um pouco à pressa, dificilmente traduzirão o espanto e a alegria quase infantil com que percorri com os olhos, e com as mãos, aquela “jóia”.



Mais uma vez ficou uma enorme curiosidade e a vontade de saber quem foi, ou quem foram, os seus anónimos autores.

Cuanhama



Os Cuanhamas são os naturais da região do Cunene, no Sul de Angola, junto à Namibia.


É um povo nómada que vive essencialmente da criação de gado.


A sua enorme coragem e o seu espírito guerreiro transformaram-nos desde há seculos num mito e num exemplo de resistência aos seus imimigos.
Onjiva, Baixo Cunene, 05/2007

Friday, May 11, 2007

"Studio"




"Studio" Soyo, Angola 05/2007

Thursday, May 10, 2007

Obra


Ontem tive a minha primeira reunião de obra “a sério” em Angola.
Foi no Soyo, norte do país, fronteira com o Congo.


O motivo foi a construção do edifício misto (agência do Banco Espírito Santo de Angola (BESA) no Soyo e dois apartamentos) cujo projecto já aqui introduzi sintéticamente, numa fase conceptual.
Para além da enorme satisfação / realização de ver crescer a minha primeira obra “angolana” de alguma dimensão física, mas sobretudo “estratégica”, tive ainda o prazer de lidar com pessoas de uma grande disponibilidade e de um notável profissionalismo.
Tanto da parte do Dono da Obra (BESA) como do empreiteiro (Teixeira Duarte) como ainda da Fiscalização (PROGEST).
Quando regressei a Luanda, ainda no avião, dei por mim a reflectir sobre os “efeitos secundários” que este país (Angola) e este continente (África) provocam nas pessoas, nomeadamente nos portugueses que para cá vieram trabalhar e se adaptaram com grande entusiasmo.

Já tenho, depois de muitos anos de trabalho e experiências diversas, algum conhecimento da “obra” e dos distintos interesses e ambições que estão normalmente em jogo.
Confesso que parti para esta reunião com algum alguma apreensão;
- A obra é longe de Portugal e, noutro contexto, de Luanda;
- O projecto é relativamente complexo e foi exaustivamente pormenorizado;
- A assistência à obra, nestas condições, exige uma preparação grande e um trabalho de síntese de todas as partes.

E, foi exactamente isso que eu constatei – não houve “facilitismos” nem “oportunismos”.
O empreiteiro não entrou “a matar”, para marcar posição, como tantas vezes acontece.
Nem a fiscalização fez o antipático, mas recorrente, papel de “dar uma no cravo e outra na ferradura, numa espécie de arbítrio intocável adornado por sorrisos amarelos.
Da minha parte entrei com a postura que aprendi a ter em obra para "levar a água ao meu moinho": - a procura de um equilíbrio satisfatório entre as cedências que posso fazer e a exigência que tenho de impõr quando o projecto tem “autoridade” para tal. E essa autoridade só se demonstra com o trabalho, traduzido nos inúmeros desenhos e textos que compõem um projecto de execução.
No fundo, tudo se resume a um exercício de alguma humildade. Perceber onde está o fundamental (pelo qual tenho de me bater até "fazer sangue") e onde fica o acessório (muitas vezes desadequado à realidade construtiva), os chamados “requintes de malvadez” que não têm qualquer importância, mas que tão bem ficam nos “zooms revisteiros”.
Os problemas e as dúvidas foram previamente ponderados e a preparação de obra funcionou.
Ninguém quis “pagar o almoço” a ninguém...
Comemos todos em casa de um “amigo” local que já tinha a mesa posta para 9.
Ao almoço (por sinal um bacalhau excelente) falou-se de tudo menos da obra.

Ah! é verdade - não foi para mostrar obra que decidi fazer este post.
Lá chegarei, mais tarde, quando houver matéria que justifique e ilustre essa abordagem. Foi para partilhar uma "fantástica" descoberta de um dos engenheiros conhecedores daquele ermo (por enquanto) local (o desenvolvimento dessa região está iminente com a implantação das petrolíferas e com a criação de uma enorme fábrica de gás natural); - Uma pintura mural feita no único café da zona, em duas paredes e com escalas distintas ainda que com um tema comum: “a festa, a noite, o encanto, a magia, a dança e a alegria genuína dos angolanos.
Uma verdadeira obra de arte executada (viemos a saber pelos locais) por um velho artista natural dali.
Não houve tempo para o procurar e felicitar por aquele inesperado tesouro.
Mas fica para a próxima.








Saturday, May 05, 2007

Revelação


"O seu a seu Dono"

Há relativamente pouco tempo editei aqui um post sobre uma obra lindíssima(uma Igreja) da arquitectura modernista feita por um arqº Português na cidade angolana de Benguela.
Quando o fiz desconhecia, apesar de ter pesquisado, o nome do seu autor.
Agora já sei! com a preciosa ajuda do meu amigo engº Paulo Nóbrega a quem muito agradeço.
A obra é da autoria do arquitecto António Campino e foi supervisionada pelo não menos notável Engº Manuel Resende (Progest).
Numa breve pesquisa fiquei a saber muito pouco mais sobre o Arq. Campino, mas num artigo do "expresso" assinado por José Manuel Fernandes (Geração Africana) encontrei referências a outras obras do mesmo autor, que também conheçia e admirava sem saber o "nome do pai".
Quando é que alguém (Olá Ordem dos Arquitectos!) faz uma pequena pausa na repetitiva, cansativa e previsível divulgação dos "do costume e da moda" e investe com seriedade e dedicação numa investigação profunda e bem documentada desta Grande Geração de Arquitectos (G.G.A.).
Assim os jovens arquitectos em formação, os escravos (a quem a O-A) chama pomposamente "estagiários"e também os mais graúdos (grandes consumidores das revistas da especialidade), podiam juntar aos badalados nomes da arquitectura que em portugal se vai fazendo mais alguma informação.
Os empenhados estudantes, que sabem de "cor e salteado" os complicados nomes dos mais revisteiros arquitectos Holandeses, conseguiam articular mais alguns nomes em bom Português, o que só lhes ficava bem.
Do mesmo modo, os senhores professores das diversas (independentes ou não) faculdades podiam brilhar, mostrando aos seus alunos grande parte do "adubo" que fez crescer a nossa reconhecidamente boa (apesar de escassa) arquitectura contemporânea.
Pelo meu lado continuarei a tentar .

fotografia


"A cascata do palácio"
Luanda, 2007

Sono

Vou-me deitar a pensar no tempo que gasto nesta merda.

"Ele há coisas"...

Há coisas que me fazem muita confusão nesta coisa da blogosfera e que me inquietam profundamente e diáriamente.
Por ex.: se eu aqui escrever um texto a dizer que o arquitecto "X", muito conhecido e mediático, é um cabrão de um vaidoso "narciso-arquitectónico" tenho um post de garantido sucesso.
Vêm todos; os outros cabrões que acham que o gajo a quem eu chamei cabrão é mesmo cabrão, mas não lhes convém dizer... mandam umas bocas ambíguas e "bazam".
Os "cabrõezinhos" que defendem com unhas (os gajos não têm unhas) e dentes os ilustres a quem eu eventualmente me atrevi a chamar cabrão.
E, meus caros amigos, reparem bem na sonoridade e beleza da palavra "CABRÃO".
Mas, se eu fizer uma posta (ou bosta) que não diz mal de ninguém mas aborda temas supostamente interessantes e susceptíveis de provocar uma didáctica troca de opiniões, não tenho, garantidamente mais do que um (amigo) que comente.
A malta está toda formatada ao estilo do Canal 4.
Não dizem o que sabem (Olá exmº vogal da Ordem Pedro Verissimo, nem sabem o que dizem... (Os meus cumprimentos à nossa "espécie de Bastonária" (tudo bem, é uma variação...) ou uma aberração.
Tenho tentado ultimamente, no meu individualista blog, abordar alguns temas supostamente interessantes da nossa (nossa senhora...) prática profissional, por ex. A excelente arquitectura (diria genial) que se fez, contra o regime, nas ex-colónias portuguesas em África.
Interesse = a ZERO. Não tem conteúdo, não está na moda...
Desculpem a expressão de quem, neste preciso momento está em África, Angola, Luanda, mas tenho mesmo que dizer: Foda-se!

Friday, May 04, 2007

"Sabão Azul e Branco" Um post sobre Luanda escrito em Luanda.







Um dos reflexos mais evidentes, e aquele sobre o qual posso opinar com conhecimento de causa, é a exponencial descaracterização das suas belas cidades.
Luanda, é o melhor exemplo do mal que a cegueira e a embriaguez que o enriquecimento fácil e sem regras provocam,traduzidos numa espécie de”vómito cultural” 3D…



Uma das características que distingue (distinguia) e torna (tornava) ímpar esta cidade era a sua grande homogeneidade e a generosidade do seu traçado (pensado para 750000 habitantes, hoje com mais de quatro milhões.

Primeiro, a guerra de 30 anos provocou um desgaste acelerado nas infra-estruturas e nas construções, que, ainda assim, resistiram no essencial e conservaram a sua dignidade.


A guerra levou a um êxodo do povo marterizado das regiões mais massacradas (Huambo, Bié, etc.) para a capital onde se instalaram e fizeram crescer anarquicamente bairros periféricos gigantescos (o maior Musseque ultrapassa 1 milhão de habitantes)sem as mais elementares condições de salubridade.
A estes refugiados juntaram-se também muitos outros com origem em países africanos diversos; Mali, Nigéria, Zaire, etc.
As consequências eram previsíveis e são de todos amplamente conhecidas; as infra-estruturas entraram em colapso. A energia eléctrica não chega, nem de perto, para as necessidades. Em qualquer lado e com a maior impunidade se rouba energia com habilidosas ligações directas.
Nas habitações da classe alta é familiar o gerador e o depósito de água.

Depois veio a tão desejada paz e o desaparecimento do Líder fundador da U.N.I.T.A. Jonas Malheiro Savimbi.
Criadas as condições mínimas de estabilidade, consolidados os Bancos e as facilidades de investimento, a economia angolana entrou numa espiral de desenvolvimento ímpar.
As grandes multinacionais e muitas pequenas e médias empresas portuguesas e estrangeiras encontram hoje, em Angola, a saída para a crise que os vem progressivamente estrangulando sobretudo na Europa.
“Angola está na moda”, ouve-se por todos os lados.
“Não há um angolano com “Kumbú” (dinheiro) que não ande com um projecto debaixo do braço” também é frequente ouvir.

No meio de tudo isto, o parque automóvel aumentou quase proporcionalmente ao crescimento populacional já referido. Os automóveis não cabem nas ruas e avenidas da cidade. As estradas mais parecem “picadas” tantos são os buracos e as “crateras” que se encontram.

O transito ultrapassa qualquer adjectivo mais contundente que “o caos”.
A rede de táxis populares, os emblemáticos “Kandongueiros” ascende aos 20.000 dos quais só aproximadamente 3.000 estão legalizados.





Com as inesperadas e violentas chuvas que assolaram o país nos últimos meses, a realidade e o dia-a-dia do povo tornaram-se ainda mais (como é possível?) insustentáveis.
Para as pessoas que vivem nos bairros e trabalham na cidade já não chega despertarem às cinco da manhã para chegar a horas aos seus locais de trabalho. Muitas optaram por passar a fazer a viagem a pé para salvaguardar os seus postos de trabalho.
Mas, poderão questionar, - o que é que todo este relambório tem que ver com a arquitectura?
Tudo!



A fúria empreendedora e a facilidade de obter sucesso, num mercado ávido e carente de tudo, levou rapidamente à construção sem regras de mastodontes erguidos a partir de projectos “prontos a consumir” importados do Brasil, da China, de Portugal, etc.



Edifícios “sem sítio” desenhados por arquitectos sem princípios, ética ou o mínimo conhecimento do contexto e do modo de vida angolano começam a poluir e a ferir para sempre o tecido delicado, feito de uma teia de engenhosas e criativas soluções de ensombramento e ventilação, com os seus projectos “modernos” de fachadas cortina e chapas de alumínio tipo “Alucobond”.



Os mais críticos e esclarecidos chamam a estes projectos o “Sabão azul e branco”.
É um sabão muito utilizado em Angola porque serve para tudo, em qualquer lugar e é barato.

Acontece que não estou a escrever sobre higiene corporal.
Revolto-me pela total ausência de escrúpulos de quem permite, compactua e enche os bolsos com este descalabro e pela falta de higiene intelectual” dos que participam neste pandemónio.

Gostava de ainda "cá andar" quando chegar a hora (porque vai chegar) de atribuir responsabilidades... Ah!, como eu gostava!