Wednesday, January 25, 2012

Arquitectura - Condomínio Adelaide, Talatona, Luanda, 2007/2010


ACTUALIZAÇÃO - 2012-07-16

ACTUALIZAÇÃO - 2012-04-25 (CONTEXTUALIZAÇÃO)

«Este ainda não é «o post» sobre o condomínio Adelaide. Entendo que, para além das fotografias e dos desenhos importa, agora de novo, reflectir sobre o fenómeno dos Condomínios, sobre a especificidade da vida nesses "jardins", em Angola, como em Portugal.
Por isso, esse post vai ter de aguardar. Mostro, por agora e porque esta obra o foi objecto de algum interesse (cá e lá), sobretudo pelo conceito que esteve na origem do projecto.»

Assim pensava quando decidi fazer esta publicação.


Deparo-me agora com alguma dificuldade em dá-lo por encerrado.

A vantagem de publicar arquitectura num blogue ( sem grandes pretensões) é a de poder, em qualquer momento e com alguma facilidade, actualizar, corrigir e acrescentar informação.

No entanto, essa liberdade editorial transforma-se, muitas vezes, (por falta de tempo ou por quaisquer outros motivos) num fardo que se carrega - uma obrigação adiada.

Este post só terá um "ponto final" daqui a alguns anos - quando as plantas crescerem, depois de os moradores se apropriarem das suas casas (com tudo o que de bom e de mau isso acarreta), após da patine que o tempo sempre confere.

No entanto, achei necessário fazer aqui uma pausa para, mais tarde, (provavelmente) voltar "à carga".

Importa, por isso contextualizar esta obra no que se refere ao fenómeno dos condomínios fechados em Luanda, nomeadamente naquilo em que esse modelo mudou desde a concepção do projecto (em 2005) até aos dias de hoje.

Mudou tudo.

«A partir de 2002, o quadro angolano mudou. Paz, estabilidade política, crescimento económico e reconstrução nacional passaram a formar o vector sobre o qual muitas oportunidades se abririam, em um período que passou a ser conhecido como o “boom do pós-guerra”. Em Luanda, onde está 30% da população do país, as transformações começaram a aparecer para quem circulava pela cidade. E o ritmo intenso das obras continua: homens e máquinas se espalham por muitos bairros, abrindo e recuperando avenidas, realizando obras de infra-estrutura para saneamento e fornecimento de água e construindo escolas, edifícios e casas. » (1)

Os condomínios fechados surgiram em Luanda por volta de 1988. O pioneiro e mais conhecido foi o "Atlântico Sul".

«Em 1997, quando a Odebrecht lançou seu primeiro projeto imobiliário em Angola – o condomínio residencial Atlântico Sul –, o país ainda vivia o conflito interno que se estendia por duas décadas. A situação política não estava delineada e os investimentos estrangeiros eram tímidos – com poucas exceções, como a Odebrecht, que estava presente no país desde os primeiros anos da década de 80. Apesar de o Atlântico Sul não ter sido absorvido de imediato pelo mercado, representava uma aposta na retomada do crescimento de Angola e na idéia de oferecer imóveis de alto padrão na planta.» (1)

«No novo contexto, o Atlântico Sul deslanchou e tornou-se o residencial mais cobiçado do país. Todas as 105 casas, de quatro suítes, em terreno de 900 m2, foram vendidas e os proprietários que hoje quiserem passá-las adiante encontram, com facilidade, compradores dispostos a adquiri-las com até 300% de ágio.» (1)

Dar resposta à enorme procura de habitação de qualidade (em segurança) que surgiu com a estabilização da situação politica e social de Angola e com a abertura ao investimento estrangeiro.

Multinacionais, pequenas e grandes empresas e também investidores (especuladores imobiliários) angolanos, ou não, que já não "cabiam" na superlotada e caótica Luanda encontraram, desse modo, a cerca de 17 km da capital, espaço para criar os seus "microclimas".

Feito o loteamento do espaço, a procura excedeu rapidamente a oferta com consequências óbvias no custo/m2.

Em 2005 Luanda Sul, e mais concretamente Talatona, eram, basicamente, uma extensão residencial da cidade de Luanda.

Havia (julgo que ainda há) uma entidade - a EDURB que supostamente regulava e fiscalizava os projectos e as obras para este território.

Luanda Sul tinha então uma vocação essencialmente residencial. Havia normas rígidas contidas num regulamento, uma espécie de Plano Director, que impunha limites e procurava garantir uma determinada harmonia (índices de ocupação, cérceas, afastamentos e funcionalidades).

Depois da construção do maior Centro Comercial de Luanda - o Belas Shopping -

«O mais novo investimento imobiliário da Odebrecht é o Belas Shopping, localizado no bairro de Luanda Sul. O primeiro shopping center de Angola começará a funcionar antes do Natal deste ano. Projetado pelos arquitetos brasileiros André Sá e Francisco Mota, o Belas terá 21 mil m2 de área construída em sua primeira etapa, para a qual está prevista a operação de três lojas âncora (uma delas um supermercado da rede sul-africana Shoprite, que ocupará 4 mil m2), mais 95 lojas, oito salas de cinema, praças de alimentação, jardins e tudo o que um shopping center moderno pode oferecer. Outras cinco etapas de expansão estão previstas no projeto.»

Foi, em 2008, foi inaugurado o Centro de Convenções de Talatona (uma espécie de FIL) e posteriormente o Hotel Centro de Convenções de Talatona (HTCA) - o mais luxuoso e caro hotel de Angola, ambos, (digo em abono da verdade) edifícios de alguma valia arquitectónica.

Hoje, o que constato, é a total subversão das regras, dos limites e das funcionalidades que prevaleciam quando elaborei este projecto.

A conjugação de vários factores (o trânsito intenso e desordenado, as longas horas para percorrer aqueles 17 KM, a segurança (sempre a segurança...) fez com que se instalassem em Talatona as mais variadas valências (sedes de empresas, hotéis, espaços comerciais, escritórios) albergadas nos mais estranhos e inusitados edifícios.

Em suma: Talatona é hoje uma "manta de retalhos" precariamente cosida por interesses financeiros, pelo negócio, corroída pela corrupção, gerida como muito bem entendem os "senhores" do(s) poder(es).

Os condomínios fechados, constituídos maioritariamente por casas de R/C e primeiro andar "convivem" agora, paredes meias, com edifícios "esquisitos" de uma "arquitectura de catálogo" presumivelmente moderna, importada sobretudo do Dubai.

Por outro lado, como em qualquer mercado nessas circunstâncias, a oferta acabou por exceder a procura. Há actualmente em Luanda Sul uma enormidade de casas por vender, (com preços irracionais) em condomínios de todos os "feitios" e em progressiva degradação.

Cabe, no meu entender e pela minha experiência, sobretudo à EDURB a responsabilidade desse colapso. Antes da EDURB, e com maior gravidade está naturalmente o Governo Provincial de Luanda (GPL), entidade a quem ,à semelhança das nossas Câmaras Municipais, compete a gestão e a fiscalização do espaço urbano.

Tratando-se de uma zona onde o solo é, basicamente constituído por argila expansiva, seria sensato, no mínimo, exigir e fazer cumprir projectos de estabilidade adequados, específicos e imunes aos interesses e à ganância tanto dos promotores como dos construtores, empresas de fiscalização e derivados. As redes viárias e as infra-estruturas, por outro lado, não foram pensadas para a previsível densificação desta pequena cidade.

Condomínios de luxo muito procurados como o "Riviera Atlântico" (neste caso um modelo brasileiro) apresentam um elevado grau de degradação - rachas, fissuras, danos estruturais, etc.

«O Riviera Atlântico
O novo condomínio terá 101 casas, de padrão similar às do Atlântico Sul, mas em terrenos de 600 m2. As 34 casas da primeira etapa, que serão entregues em janeiro de 2007, foram vendidas em 15 dias, antes mesmo do lançamento oficial do projeto. As 34 casas da segunda etapa, cuja venda ainda não foi iniciada, estão todas reservadas (pré-vendidas). E as 33 da terceira etapa, que ainda não foram anunciadas, já têm procura. “Chegamos ao estágio que queríamos: vender o empreendimentoo antes de iniciarmos sua construção”, revela José Carlos de Camargo, da Odebrecht, Responsável por Empreendimentos Imobiliários e Investimentos em Angola. “Não havia em Angola o costume nem as condições sociais para a compra antes da obra pronta, mas a confiança que conquistamos com o Atlântico Sul, como resultado do nosso compromisso com a qualidade, entrega das obras no prazo pactuado e a satisfação de nossos clientes, além da demanda provocada pelos investidores nacionais e internacionais, mudaram a situação.” » (1)

O projecto do Condomínio Adelaide foi pensado e desenhado tendo em conta o já referido (previsível) crescimento populacional de Talatona. As infra-estruturas foram dimensionadas a pensar no futuro, as fundações das casas calculadas tendo em consideração o poder avassalador do solo de argila expansiva. A equipa projectista integrou técnicos consagrados e com comprovada experiência de trabalho em terras angolanas.

Evidentemente, esse rigor e essa perspectiva de futuro implicaram custos elevados (relativamente à norma) de construção. Não foi fácil lidar com os interesses de uma construtora que, fazendo o seu papel, pretendeu retirar da obra o maior lucro possível, uma fiscalização (no mínimo ambígua) e um Dono de Obra que, apesar de sensível aos argumentos técnicos e conceptuais dos projectistas, por vezes hesitou e acabou por ceder aos às pressões do construtor com prejuízos e consequências por agora imprevisíveis. Acontece "lá" como acontece "cá".

Fica, por agora este post encerrado, falta apenas uma selecção de imagens que ilustre as diversas "realidades" abordadas neste texto.

Quanto ao futuro de Luanda Sul e de Talatona não posso nem quero fazer conjecturas. Como disse, tudo muda... De um dia para o outro.

Pode ser que mude para melhor. Pode ser...





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Vistas aéreas obtidas pelo 'Google Earth'


Sobre esta obra que projectei para a área de expansão da capital angolana - Luanda Sul - e mais concretamente em Talatona editei aqui aqui em 2006 um Post onde sintetizava, por um lado ao meu entendimento (ou desentendimento) do viver em condomínio mas que, por outro lado mostrava um sonho que então começava a tomar forma.
Sobre esta obra voltei. neste artigo já em 2007.





Curiosamente e , de certo modo, estranhamente, passei o Natal e celebrei o fim-do-ano de 2011 numa das casas deste pequeno bairro.

Este ainda não é «o post» sobre o condomínio Adelaide. Entendo que, para além das fotografias e dos desenhos importa, agora de novo, reflectir sobre o fenómeno dos Condomínios, sobre a especificidade da vida nesses "jardins", em Angola, como em Portugal.
Por isso, esse post vai ter de aguardar. Mostro, por agora e porque este projecto foi objecto de algum interesse (cá e lá), sobretudo pelo conceito que esteve na origem do projecto 
 (...)   
O conceito de condomínio é para mim, e para muita gente, um conceito contraditório num país onde se pretende diminuir as desigualdades e as injustiças sociais. No entanto, o argumento da segurança ainda é determinante sobretudo quando se trata de criar habitação dirigida a classe alta ou aos muitos empresários, técnicos e investidores estrangeiros que procuram fixar-se em Luanda. O "Condomínio privado" parece-me, portanto, incontornável nos anos mais próximos..

A questão neste caso passou mais por criar um conceito diferente de condomínio.

Resumindo: Abdicar de uma enorme faixa central do terreno para aí fazer um parque ajardinado que pode ser acedido a partir de qualquer jardim das habitações privadas;

Limitar a circulação dos automóveis à periferia do lote, criando uma via de circulação a partir da qual se acede directamente às garagens das habitações;

Propor duas tipologias de base (uma em banda e uma de moradias isoladas) possibilitando formas de habitar distintas.

Criar espaços comuns de lazer.

Relativamente ao projecto de Execução houve a necessidade de converter o edifício denominado C.D.02 numa tipologia de habitação semelhante às restantes da banda "C", sendo trabalhada como remate de topo desse corpo.

O volume C.D. 01, próximo da piscina "grande" foi também objecto de uma reformulação com vista a rentabilizar o investimento; passou a manter as funções de cafetaria e sala de condóminos no piso térreo, albergando agora, no piso superior, um sofisticado apartamento com acesso independente a partir da rua.(...)

Não vou aqui, agora nem depois, justificar alguns, muitos dos precalços e/ou dificuldades que acompanharam os três anos desta obra de razoável dimensão nem tão pouco as consequências (umas boas, outras más) que esses provocaram no resultado final.

Sinto, sinceramente que o «ESSENCIAL» foi conseguido e que o «ACESSÓRIO» (muitas vezes importante) que pelo caminho ficou, pouco ou nada importa agora.
Edito, sem comentar, algumas fotografias de  Dezembro 2010 e espero, em breve, aqui mostrar (e explicar), a cores, um pouco mais profundamente. 




Vista sobre a Portaria



O grande parque entre as duas tipologias
(Do lado esquerdo a Tipologia «B», do lado oposto a tipologia «A»
Este é um espaço verde, sem acesso automóvel e com o qual comunicam os pátios privativos de cada casa.








Tipologia «B» (a mais económica) - desenhada com base nas típicas moradias da baixa de Luanda - R/C com um pátio, primeiro e segundo andares. 






Tipologia B (remate - topo norte / área técnica / cobertura)


Acesso a partir do Piso 1 à àrea técnica localizada na cobertura
Tipologia «B» - A cozinha interior estende-se para o pátio - lugar de convívio e das "obrigatórias" festas nas amenas noites de Luanda




Áreas técnicas localizadas nas coberturas


Tipologia «A» - um conjunto de 10 casas com piscina individual, dirigidas a uma procura de maior poder económico


Tipologia B (interior - Hall de entrada)


Interior (quarto)


Interior (instalação sanitária)


Vista (sala/cozinha - passa-pratos)





Tipologia A - vistas sobre a piscina


Detalhe (Chuveiro anexo à piscina)




Detalhes das portadas de ensombramento em madeira



Detalhe de uma das casas da Tipologia «A»



Área de circulação interior



Corredor de acesso aos quartos



Interior de um quarto


Interior (cozinha)

Vista de conjunto das casas de maior dimensão «A» - O acesso automóvel é feito perifericamente com entrada directa (a partir da rua) para a garagem interior, evitando-se, deste modo qualquer conflito entre a circulação automóvel e a vivência exterior.






Um caso particular. Uma construção que alberga um apartamento (no primeiro piso) e, no piso térreo, um conjunto de valências comuns aos condóminos: bar de apoio à piscina comum, serviços administrativos.

Fotorafias: Gonçalo Afonso Dias. Dezembro 2011


1 comment:

Sara said...

Como é bom que estas coisas acontecem, eu espero que em algum momento a passar o mesmo em outros lugares e que as pessoas podem receber essas coisas, agora vou ver como a situação como Argentina acontece se você pegar um Aluguel temporada buenos aires