Thursday, May 10, 2007

Obra


Ontem tive a minha primeira reunião de obra “a sério” em Angola.
Foi no Soyo, norte do país, fronteira com o Congo.


O motivo foi a construção do edifício misto (agência do Banco Espírito Santo de Angola (BESA) no Soyo e dois apartamentos) cujo projecto já aqui introduzi sintéticamente, numa fase conceptual.
Para além da enorme satisfação / realização de ver crescer a minha primeira obra “angolana” de alguma dimensão física, mas sobretudo “estratégica”, tive ainda o prazer de lidar com pessoas de uma grande disponibilidade e de um notável profissionalismo.
Tanto da parte do Dono da Obra (BESA) como do empreiteiro (Teixeira Duarte) como ainda da Fiscalização (PROGEST).
Quando regressei a Luanda, ainda no avião, dei por mim a reflectir sobre os “efeitos secundários” que este país (Angola) e este continente (África) provocam nas pessoas, nomeadamente nos portugueses que para cá vieram trabalhar e se adaptaram com grande entusiasmo.

Já tenho, depois de muitos anos de trabalho e experiências diversas, algum conhecimento da “obra” e dos distintos interesses e ambições que estão normalmente em jogo.
Confesso que parti para esta reunião com algum alguma apreensão;
- A obra é longe de Portugal e, noutro contexto, de Luanda;
- O projecto é relativamente complexo e foi exaustivamente pormenorizado;
- A assistência à obra, nestas condições, exige uma preparação grande e um trabalho de síntese de todas as partes.

E, foi exactamente isso que eu constatei – não houve “facilitismos” nem “oportunismos”.
O empreiteiro não entrou “a matar”, para marcar posição, como tantas vezes acontece.
Nem a fiscalização fez o antipático, mas recorrente, papel de “dar uma no cravo e outra na ferradura, numa espécie de arbítrio intocável adornado por sorrisos amarelos.
Da minha parte entrei com a postura que aprendi a ter em obra para "levar a água ao meu moinho": - a procura de um equilíbrio satisfatório entre as cedências que posso fazer e a exigência que tenho de impõr quando o projecto tem “autoridade” para tal. E essa autoridade só se demonstra com o trabalho, traduzido nos inúmeros desenhos e textos que compõem um projecto de execução.
No fundo, tudo se resume a um exercício de alguma humildade. Perceber onde está o fundamental (pelo qual tenho de me bater até "fazer sangue") e onde fica o acessório (muitas vezes desadequado à realidade construtiva), os chamados “requintes de malvadez” que não têm qualquer importância, mas que tão bem ficam nos “zooms revisteiros”.
Os problemas e as dúvidas foram previamente ponderados e a preparação de obra funcionou.
Ninguém quis “pagar o almoço” a ninguém...
Comemos todos em casa de um “amigo” local que já tinha a mesa posta para 9.
Ao almoço (por sinal um bacalhau excelente) falou-se de tudo menos da obra.

Ah! é verdade - não foi para mostrar obra que decidi fazer este post.
Lá chegarei, mais tarde, quando houver matéria que justifique e ilustre essa abordagem. Foi para partilhar uma "fantástica" descoberta de um dos engenheiros conhecedores daquele ermo (por enquanto) local (o desenvolvimento dessa região está iminente com a implantação das petrolíferas e com a criação de uma enorme fábrica de gás natural); - Uma pintura mural feita no único café da zona, em duas paredes e com escalas distintas ainda que com um tema comum: “a festa, a noite, o encanto, a magia, a dança e a alegria genuína dos angolanos.
Uma verdadeira obra de arte executada (viemos a saber pelos locais) por um velho artista natural dali.
Não houve tempo para o procurar e felicitar por aquele inesperado tesouro.
Mas fica para a próxima.








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