Wednesday, October 31, 2012

ENSAIOS SOBRE A DOR

 
 
Desenhos: Gonçalo Afonso Dias, 2008
 
"Acontece que, por vezes, a dor é tanta que deixa de doer"

Tuesday, October 30, 2012

NUNCA MAIS !

 
 
Desenho: Gonçalo Afonso Dias, 2012

Sunday, October 28, 2012

Da Relevância de ter um Diário (2), e um amigo também....

 
Fotografia: Gonçalo Afonso Dias, 10/2012


Desde que aprendi a escrever mantenho um Diário.

Todas as pessoas deviam ter um Diário e "falar" com ele, contar-lhe tudo, registar sentimentos, momentos, paixões e desilusões. Confiar nele como se de o "Maior Amigo" se tratasse. E trata.

Nele colar fotografias, notas, recados, recordações que ilustrem os dias que se sucedem.

Assim, o Diário torna-se não só um confidente fiel como uma espécie de depoimento ilustrado da vida que se vou vivendo.

Numero todas as páginas dos meus pequenos "moleskines" - os meus Diários - e quando essas páginas se esgotam e o caderno chega aofim faço um índice do que ele contém, onde contém - para lá poder "voltar" quando quiser, quando precisar.

Assim, um dia, quando chegar a altura, escreverei com rigor e com verdade "As minhas memórias",


talvez na forma de uma "Banda Desenhada"...

Todas as pessoas deviam ter um Diário e todas as pessoas deviam também, quando chegasse a altura, deixar escritas as suas memórias, o registo das suas efémeras passagens por este mundo.

Porque todas as vidas são únicas, todas são importantes.

Todas as experiências que conferiram autenticidade, singularidade e conteúdo de todas as vidas são válidas e não deviam morrer "caladas".

Por outro lado, escrever conversando com o Diário, é uma terapia porque, enquanto se escreve se pensa, se reflecte, se analisa.

É por isso que eu hei-de ter sempre um Diário. E se não for eu a contar a minha passagem por aqui os meus filhos o farão.

É para eles que escrevo, todos os dias.

Gonçalo Afonso Dias,
23 de Outubro de 212

Eu, Eu e Eu

 
 
Desenho: Gonçalo Afonso Dias, 10/2012

Saturday, October 27, 2012

É a Vida... (1)

 
 
Desenho: Gonçalo Afonso Dias, 10/2012

CÓDIGO DE BARRAS


 
Imagem e edição: Gonçalo Afonso Dias, 10/2012



CÓDIGO DE BARRAS

era abril de 1974

soltavam-se as amarras.

hoje os políticos são só retrato

nós um código de barras.



(eduardo roseira)

in: "a colheita íntima"

poesia, 2003Ver mais



Maria Morbey - Jazz - Divulgação

 
 
Fotografias e edição: Gonçalo Afonso Dias, 10/2012
 
 
Maria Morbey é licenciada em Psicologia Aplicada - ramo Psicologia Clínica, pelo ISPA. Maria estudou canto lírico e jazz e nos últimos anos tem colaborando com os vários serviços educativos do país na criação de objectos artísticos em que abordagem psicossomática à arte é uma constante. O trabalho com universo infantil surge por um acaso da vida, no entanto é um universo que considera frutífero para a aproximação das gerações na apreciação da Arte, exemplo disso é o projecto “Banjazz, um bichinho esquisito” (encomenda para o CCB/Fábrica das Arte) em que é responsável pela concepção, direcção artística e interpretação. Na performance músical, Maria Morbey intitula “Lua à Janela” o seu projecto de vida em que interage com os músicos numa lógica de comunicação que vai para além da música em si, viaja pela poesia e revela-se numa encenação estéctica cuidada e emocional. Nesta Gala Maria Morbey será acompanhada pelo pianista Emílio Robalo e pelo contrabaixista João Custódio. Surgirá como convidado especial o conhecido músico J.P. Simões com quem preparou um dueto para o efeito

 

A minha desforra são as palavras


 
Desenho: Gonçalo Afonso Dias, 10/2012
 

A minha desforra são palavras.

Levanto-me de manhã amarrotado

pelo peso inclemente das mentiras

e vazo no real outro real

das letras que ninguém vislumbrará.

O pássaro que canta é uma palavra,

é uma carta escrita a este, àquele,

que me saiu do lápis da amargura;

tudo se refaria se jamais feita fosse

alguma coisa que a minha mão não desse.

Desforro-me sem gosto. Desforro-me sem gasto,

acorrentado ao que me vem de trás

e ao que virá e que não sei se quero.


(Pedro Tamen)

Thursday, October 25, 2012

Sou o que sou e pouco mais



Sou o que sou e pouco mais...

Sou o que sou e pouco mais.
Dócil e meigo com quem eu "sinto"
Violento, agressivo com o que eu não consinto.
Mau - com a escumalha, com o compadrio, com o esterco onde vivem alegremente os corruptos, os invert...
ebrados, os acéfalos de gravata de seda.
MAU - Ao ponto de matar, por dentro - quem sabe? - Um dia, por fora - em silêncio, depois de muito esperar por esse momento "festivo".
Sou solidário com aqueles que como eu são apenas "o que são". Nada.
Vingativo também, porque a vingança, por vezes é uma cobra que se tem de alimentar

Aqueles que se "acham", espalhando pedras no meu caminho, mais tarde ou mais cedo, irão de cócoras, no limite da humilhação, apanhá-las e comê-las.
Sou o que sou e lá estarei, quando esse dia chegar, para me rir do ridículo que eles são. Do "nada" absoluto de que foram feitos.Ver mais

Gonçalo Afonso Dias, 10/2012

Os Teus Pés

Os Teus Pés
Quando não te posso contemplar
Contemplo os teus pés.

Teus pés de osso arqueado,
Teus pequenos pés duros,

Eu sei que te sustentam
E que teu doce peso
Sobre eles se ergue.

Tua cintura e teus seios,
A duplicada purpura
Dos teus mamilos,
A caixa dos teus olhos
Que há pouco levantaram voo,
A larga boca de fruta,
Tua rubra cabeleira,
Pequena torre minha.

Mas se amo os teus pés
É só porque andaram
Sobre a terra e sobre
O vento e sobre a água,
Até me encontrarem.


(Pablo Neruda)

 
 
Fotografias: Gonçalo Afonso Dias - (Durante um concerto de jazz com Maria Morbey no Chá da Barra, Oeiras, 2012)
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Da Relevância de ter um Diário




Desde que aprendi a escrever mantenho um Diário.

Todas as pessoas deviam ter um Diário e "falar" com ele, contar-lhe tudo, registar sentimentos, momentos, paixões e desilusões. Confiar nele como se de o "Maior Amigo" se tratasse. E trata.

Nele colar fotografias, notas, recados, recordações que ilustrem os dias que se sucedem.

Assim, o Diário torna-se não só um confidente fiel como uma espécie de depoimento ilustrado da vida que se vou vivendo.

Numero todas as páginas dos meus pequenos "moleskines" - os meus Diários - e quando essas páginas se esgotam e o caderno chega aofim faço um índice do que ele contém, onde contém -  para lá poder "voltar" quando quiser, quando precisar.

Assim, um dia, quando chegar a altura, escreverei com rigor e com verdade "As minhas memórias",

talvez na forma de uma "Banda Desenhada"...

Todas as pessoas deviam ter um Diário e todas as pessoas deviam também, quando chegasse a altura, deixar escritas as suas memórias, o registo das suas efémeras passagens por este mundo.

Porque todas as vidas são únicas, todas são importantes.

Todas as experiências que conferiram autenticidade, singularidade e conteúdo de todas as vidas são válidas e não deviam morrer "caladas".

Por outro lado, escrever conversando com o Diário, é uma terapia porque, enquanto se escreve se pensa, se reflecte, se analisa.

É por isso que eu hei-de ter sempre um Diário. E se não for eu a contar a minha passagem por aqui os meus filhos o farão.

É para eles que escrevo, todos os dias.

Gonçalo Afonso Dias,
23 de Outubro de 212

Wednesday, October 24, 2012

Filho Perdido - Arquitectura, Obra e (Re)sentimentos

 
 
Desenhos e fotografias: Gonçalo Afonso Dias
(Clique para ampliar)


Filho Perdido

Nasceu sem que eu soubesse apesar de tanto o ter desejado, apesar de de tanto o ter sonhado. Por tanto, tanto tempo...

Nasceu onde eu quis que ele nascesse - na cidade que me viu crescer, na cidade onde fui feliz - o Lobito.

Mais tarde, muito mais tarde, soube que o parto não correu bem, que foi feito "à pressa" e que não tinha nascido saudável.

Foi parido no esterco dos feitiços em que o dinheiro e o poder confiam e a que se entregam.

Cegamente...

Vi-o, de longe, no "outro dia". Não me quis aproximar, não quis que ele soubesse que tem um pai exilado pelo Poder dos que pouco Podem mas muito "se Acham".

Ele cresceu depressa, muito depressa - porque assim quiseram que ele crescesse - à força, Apenas bonito por fora.

Mas por dentro está doente, muito doente, agonizante...

E eu, algemado, nada posso fazer. Apenas sofrer e esperar.

Quando ele for grande e o tempo já tiver passado, aquelas parteiras porcas, imundas, que lhe tiraram o pai e a saúde, estarão no sítio onde vão ficar... No Inferno.

Até lá vou continuar a espreitá-lo clandestinamente através das grades que o cercam, que o sufocam e o impedem de "Ser".

Um dia, essas grades hão-de ser derrubadas pela força da verdade.

Há sempre um dia, mais tarde ou mais cedo.


(Dedicado ao Moisés, ao Rui, à Mafalda e à Susana)

 

 

 

 

Tuesday, October 23, 2012

O Caderno em branco

 
 
Desenho: Gonçalo Afonso Dias, 10/2012

Quero tudo novo de novo. Quero não sentir medo. Quero entregar -me mais, jogar-me mais, amar mais.
Viajar até cansar. Quero sair pelo mundo. Quero fins-de-semana de praia. Aproveitar os amigos e abraçá-los mais. Quero ver mais filmes e comer mais pipoca, ler mais. Sair mais. Quero um trabalho novo. Quero não me atrasar tanto, nem me preocupar tanto. Quero morar sozinha, quero ter momentos de paz. Quero dançar mais. Comer mais brigadeiro de panela, acordar mais cedo e economizar mais. Sorrir mais, chorar menos e ajudar mais. Pensar mais e pensar menos. Andar mais de bicicleta. Ir mais vezes ao parque. Quero ser feliz, quero sossego, quero outra tatuagem. Quero olhar-me mais. Cortar mais os cabelos. Tomar mais sol e mais banho de chuva. Preciso de me concentrar mais, delirar mais.
Não quero esperar mais, quero fazer mais, suar mais, cantar mais e mais. Quero conhecer mais pessoas. Quero olhar para frente e só o necessário para trás. Quero olhar nos olhos do que fez sofrer e sorrir e abraçar, sem mágoa. Quero pedir menos desculpas, sentir menos culpa. Quero mais chão, pouco vão e mais bolinhas de sabão. Quero aceitar menos, indagar mais, ousar mais. Experimentar mais. Quero menos “mas”. Quero não sentir tanta saudade. Quero mais e tudo o mais.
“E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha".

(Fernando Pessoa)

[Este post é dedicado ao meu irmão Manuel.]

Sunday, October 21, 2012

Bom Domingo

Por vezes...

 
 
Desenho: Gonçalo Afonso Dias, Outubro 2012


Por Vezes...
Por vezes tenho inveja de quem tem a "cabeça arrumada".
Outras vezes, muitas vezes, não.

(GAD)

Saturday, October 20, 2012

Tudo o que quero é voar.

Tudo o que quero é voar, para onde não sei
(GAD)

 
Fotografia: Gonçalo Afonso Dias, Benguela, Angola, Outubro 2012

Saturday, October 13, 2012

OS SONHOS NÃO SE PODEM MATAR


 
Desenho: Gonçalo Afonso Dias, Outubro 2012


Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais conseguirão deter a primavera inteira.(Che Guevara)

Friday, October 12, 2012

EU




SOU LOUCO e tenho por memória
Uma longínqua e infiel lembrança
De qualquer dita transitória
Que sonhei ter quando criança.
...
Depois, malograda trajetória
Do meu destino sem esperança,
Perdi, na névoa da noite inglória,
O saber e o ousar da aliança.

Só guardo como um anel pobre
Que a todo herdeiro só faz rico
Um frio perdido que me cobre

Como um céu dossel de mendigo,
Na curva inútil em que fico
Da estrada certa que não sigo.

(Fernando Pessoa)

Desenho: Gonçalo Afonso Dias, 2012

Da Solidão Povoada

 
Fotografia: Gonçalo Afonso Dias, Lisboa, Outubro 2012


Gosto dos Aeroportos como gosto das Áreas de Serviço nas auto-estradas...

Ambos desertos sem oásis.



Pragmáticos, servem para o que servem e nada mais.

E o que mais gosto nesses "não-sítios" é sentir a "solidão povoada"...

Gente, muita gente, todos diferentes, todos rendidos a um sonho qualquer.

E apesar dessa "tanta gente" ali sinto um silêncio profundo, verdadeiro, apaziguador.


Entretenho-me a "descobrir" essas pessoas, a tentar adivinhar os seus destinos, as suas ambições, os seus motivos...

Para onde vão? O que os espera? O que os move?

Anestesiado por esses pensamentos esqueço-me do meu. Há! , pois é!... Também eu tenho um destino...

Adormeço "por dentro" até ao momento em que uma voz anónima, saída dos altifalantes, me acorda e me lembra que chegou a hora de seguir a minha viagem. Pois...


(Gonçalo Afonso Dias, Outubro de 2012)


Thursday, October 11, 2012

Tributo aos meus Fantasmas


Tributo aos meus Fantasmas

Habitam-me desde que me lembro de me habitar também.
Gostos deles e sem os sentir não sonho.
Porque sim.

 
 
Desenho: Gonçalo Afonso Dias, Outubro 2012

Encostei-me

 
 
Fotografia: Gonçalo Afonso Dias, 2012

Tuesday, October 09, 2012

Estão a fazer de nós...

... Um imenso e nauseabundo viveiro de minhocas para as faustosas "pescarias" de Passos Coelho e seus acólitos...

Nota: Este é um protesto/denúncia apartidário. Quem nele se reveja que o divulgue como entender. Pode ser que chegue a uma qualquer "praia"...
Desenho e texto: Gonçalo Afonso Dias


NÓS ESTAMOS A MORRER...

 
 
 
Desenho: Gonçalo Afonso Dias, Outubro 2012


Nós estamos a morrer...

Enlevados,


Os poetas estão a falar da morte,

Falando talvez de uma gota

Que de no ar ir crescendo,

Sem nome, primeiro,

Numa nuvem nascida,

Com nome,

Crescida,

Voando sem fronteiras, depois, 


Talvez do peso,

Talvez cansada da vida,

A gota ao cair morreu…



Mas nós, não,

Nós estamos a morrer…


(José Rodrigues Dias)

Monday, October 08, 2012

Da Violência

Quando não se possa escolher senão entre a cobardia e a violência, aconselharei a violência. (Mahatma Gandhi)

O Mito de Sisífo

Benguela, Angola, 2012



 
Fotografia: Gonçalo Afonso Dias, Benguela, Angola, 2012


Postfácio

"Nem preciso de te ver a cara para sentir a angústia que te consome."

 
Fotografia: Gonçalo afonso Dias, 2012

Sunday, October 07, 2012

SEI QUE NÃO VOU POR AÍ !

 




Fotografia e edição: Gonçalo Afonso Dias, Outubro 2012


Cântico Negro

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

(José Régio)


"NÃO SEI QUEM SOU"

 
 
Fotografia: Gonçalo Afonso Dias, Parede, 2012


Sonho. Não sei quem sou neste momento.
Durmo sentindo-me. Na hora calma
Meu pensamento esquece o pensamento,
Minha alma não tem alma.

Se existo é um erro eu o saber. Se acordo
Parece que erro. Sinto que não sei.
Nada quero nem tenho nem recordo.
Não tenho ser nem lei.

Lapso da consciência entre ilusões,
Fantasmas me limitam e me contêm.
Dorme insciente de alheios corações,
Coração de ninguém.

(Fernando Pessoa, in "Cancioneiro")

"Naquele momento era um homem violento, capaz de tudo...
Não podia parar - a cobra negra que matou o meu sonho e que sufocava os meus sentimentos, sufocando-me também, tinha de saír toda..."

 

 Desenho: Gonçalo Afonso Dias, Outubro de 2012

Saturday, October 06, 2012

ANIMAL FERIDO

Desenho: Gonçalo Afonso Dias, Outubro 2012




ANIMAL FERIDO

Sou o improvável por detrás da cortina da neblina que me sublima. Distraída morro nos versos desconexos que me alucinam e que devoram as minhas horas sem rima. Corro em disparada em direção ao infinito, carregando, no meu dorso, a minha carga e soltando talvez o meu último grito de animal ferido. A luz do sol queima a minha pele e abre os meus poros. Banho-me no sal do meu suor na tentativa de aliviar a dor de minhas feridas expostas. A minha boca está seca, a língua rachada, tenho fome, sede e febre alta. Estou exausta. Antropofágica, devoro a minha própria carne e sacio a minha sede bebendo no oásis de minhas próprias lágrimas, com furor. Como uma corredora, no deserto de minhas fragilidades, vou em frente. A brisa que sopra acaricia o meu corpo quente e o deixa dormente, abstraído de sua condição. Neste exato momento, sou toda coração e para cumprir mais essa etapa, cuja única meta é conseguir chegar ao final da estrada, libero o que sobrou de mim para vibrar no ritmo de sua pulsação.


(Rosa Berg)

 

Aqui já não vejo futuro...

 
 
 
Fotografia: Gonçalo Afonso Dias, Lisboa, Outubro 2012

Friday, October 05, 2012

Já não me importo ...

 

 
Desenho: Gonçalo Afonso Dias, Outubro 2012
 
 
Já não me importo

Já não me importo
Até com o que amo ou creio amar.
Sou um navio que chegou a um porto
E cujo movimento é ali estar.

Nada me resta
Do que quis ou achei.
Cheguei da festa
Como fui para lá ou ainda irei

Indiferente
A quem sou ou suponho que mal sou,

Fito a gente
Que me rodeia e sempre rodeou,

Com um olhar
Que, sem o poder ver,
Sei que é sem ar
De olhar a valer.

E só me não cansa
O que a brisa me traz
De súbita mudança
No que nada me faz.
 
(Fernando Pessoa)

Thursday, October 04, 2012

ÁFRICA

 
 
Fotografia: Gonçalo Afonso Dias, Angola, Outubro 2012

Check - in

 
 
Fotografia: Gonçalo Afonso Dias, Aeroporto de Benguela, Angola, Outubro 2012