Thursday, October 30, 2008

A propósito de Contentores e do Porto de Lisboa - (actualizado 31/11/08)

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"Habitação colectiva". gad, 2008



Pouco ou nada sei, em concreto, sobre o Projecto Nova Alcântara apresentado pelo Governo em Maio deste ano. Aliás pouco ou nada sei, em concreto sobre qualquer projecto com impacto social e/ou urbanístico que o Governo apresente ou tenha apresentado…

A verdade é que nunca há tempo para esse conhecimento imparcial já que os assuntos mais sérios, ligados aos grandes investimentos, nunca são tecnicamente transparentes, abertos a uma discussão alargada, isenta e devidamente ponderados, transmitidos à opinião pública sem ser numa dimensão para a qual já é obrigatório usar uns óculos especiais. Como nos filmes 3D.

Se este caso me interessa agora particularmente, mesmo sem conhecer os “contornos”, os interesses, as verdadeiras motivações que excitam o Governo, o Porto de Lisboa e a oposição, acrescentada por um denominado “Movimento de cidadãos contra a ampliação do terminal de contentores de Alcântara” é exactamente porque ouvi os argumentos de alguns dos notáveis do dito Movimento…
Ouvi os que falaram com atenção. E com redobrada atenção ouvi a ex-Bastonária da Ordem dos Arquitectos, a arq. Helena Roseta.
Sem querer pessoalizar devo dizer que o que ouvi, em síntese, foi um amontoado de banalidades e lugares-comuns “politicamente correctos, à mistura com algumas barbaridades quando a palavra fugia para o tema “Arquitectura”.
Confesso que tenho um gosto, talvez paixão, pelo mar, pelos portos e por tudo aquilo que que ver com cidades portuárias. Cresci numa das cidades portuárias mais bonitas de África – o Lobito. Vivi sempre junto ao mar.
Talvez por isso, navios e contentores sejam para mim parte

da uma cidade que historicamente acolheu e acolhe navios e contentores, navegadores e estivadores.

Acresce que reconheço na aleatoriedade do empilhamento daqueles volumes de 2,5x2,5m de secção, (comprimento variável mas normalizado, cores diversas, vivas e com lettrings apelativos,) um partido estético e uma aproximação à escala arquitectónica muito interessantes.

Depois, estes “movimentos” oportunistas, criados à pressa, fazem-me rir…
De repente, um conjunto de pessoas sequiosas de protagonismo encontra um bom motivo para “acordar mais cedo”… e lá vai petição, conferência de imprensa, frases contundentes, ameaças que ficam a pairar… e enchem colunas de jornais e abrem noticiários e, e...

É o caso do Dr. Miguel Sousa Tavares (MST). Refeito do assalto à sua casa da Lapa e à perda de um ano de trabalho (?!) transforma-se rapidamente em “cabeça de cartaz” e, com o seu estilo arrogante, ressaibiado, e provocador pega nas rédeas de um cavalo que não conhece. Como é costume nele que sobre qualquer assunto debita com a convicção e a certeza de alguém que nunca se dedicou a outro tema durante a vida.

O Dr. Miguel já tem idade para ter juízo. 'Admitiu´ uma “acção popular” caso as coisas não corressem como o “seu” movimento desejava… ameaça velada, pois claro.

Pediu e teve... Não dos “queques da Lapa” de blusão “lacoste” vestido, mas dos estivadores do Porto de Lisboa em “fato de trabalho” e com a cara de quem não está disposto a aturar parvoíces nem a alimentar o número crescente e desesperante do desemprego em Portugal.
Sousa Tavares , ao que consta foi insultado e teve de ser escoltado pela polícia.

Não sou apologista da violência fisica ou verbal, fique bem claro. Contudo, por vezes compreendo as suas motivações.


Talvez agora (MST) entenda também o que sentem os milhares de trabalhadores , (todos os dias, quando reivindicam pelos seus empregos vendidos ao estrangeiro junto às fábricas de portões trancados onde fizeram uma vida), quando chega a Guarda, armada, agressiva e com ordens para “dispersar”. A bem ou a mal. Como “nos tempos da outra senhora.”


Quanto ao Projecto em causa, o mais certo é ter o destino de tantos outros; depois da gritaria "de mão na anca" e "faca na liga" cai no esquecimento e na lista de prioridades civicas dos "movimentados profissionais".


Porto de Luanda. Foto: gad, 2006



E para fechar o post sem "setressingue" dedico ao "Miguel" a letra de uma música dos XUTOS, quase tão conhecida como o Porto de Lisboa... e que não lhe tire o sono! FUI!


Contentores

A carga pronta metida nos contentores
Adeus aos meus amores que me vou
P'ra outro mundo
É uma escolha que se faz
O passado foi lá atrás

Num voo nocturno num cargueiro espacial
Não voa nada mal isto onde vou
P'lo espaço fundo

Mudaram todas as cores
Rugem baixinho os motores
E numa força invencível
Deixo a cidade natal
Não voa nada mal
Não voa nada mal

Pela certeza dum bocado de treva
De novo Adão e Eva a renascer
No outro mundo
Voltar a zero num planeta distante
Memória de elefante talvez
O outro mundo

É a escolha que se faz
O passado foi lá atrás
E nasce de novo o dia
Nesta nave de Noé
Um pouco de fé

letra: Tim
música: Xutos & Pontapés

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Sexta-feira, 31 de Outubro de 2008 - O que se diz e se mostra de um lado... [ video ]

Terminal de contentores
Demolições em Alcântara começam já este ano

[...] Por Sónia Trigueirão
Liscont e Mota-Engil explicaram ontem em conferência de imprensa a prorrogação por 27 anos do contrato de concessão e a necessidade de fazer obras já. Garantiram também que não vai haver nenhuma «muralha de aço» a tapar a vista para o Tejo (Veja o vídeo)

A prorrogação por 27 anos do contrato de concessão do terminal de contentores de Alcântara foi hoje justificada pelo presidente da Mota-Engil Ambiente e Serviços, Gonçalo Martins - num encontro marcado só para esse efeito com jornalistas - com a necessidade de amortizar o investimento feito pelo concessionário nas obras de ampliação daquela estrutura portuária.
Por seu lado, Rocha Morais, o representante da Liscont (a empresa da Mota-Engil que tem a concessão do terminal) explicou o porquê de se avançar com a ampliação agora.
Segundo Rocha Morais, os armadores estão a comprar navios cada vez maiores por ficar mais barato transportar cada vez maiores quantidades de contentores.
Se nada se fizesse, adiantou aquele responsável, «a partir de 2009, os navios iam ter de procurar alternativas», disse, sublinhando as potencialidades de outros concorrentes como o porto de Valência. Segundo Rocha Morais, só assim Lisboa poderá continuar na rota dos grandes armadores internacionais.
Os responsáveis das duas empresas quiseram deixar claro que não vai haver nenhuma «muralha de aço», sublinhando o facto de os contentores terem uma grande rotatividade e não serem empilhados mais de cinco de cada vez.
Lembraram ainda o facto de os edifícios que serão demolidos serem mais altos que os contentores.
O objectivo deste investimento é aumentar a capacidade do terminal de Alcântara, de 300 mil contentores para um milhão por ano.
Para concretizar esta ampliação, será necessário demolir o actual edifício administrativo da Liscont e os restantes imóveis, situados entre a vedação norte do terminal e a Doca do Espanhol.
Será ainda necessário, explicaram os responsáveis da Mota-Engil e da Liscont, fazer um prolongamento do cais do terminal, em mais de 500 metros, e construir uma plataforma de manobra e descarga de composições ferroviárias.
Com ou sem petição, asseguraram aos jornalistas, as demolições avançam até ao final do ano - numa referência ao Movimento de Cidadãos, que integra, entre outros, Miguel Sousa Tavares e Helena Roseta, e que está a reunir assinaturas para impedir a concretização deste projecto.
A polémica estalou quando foi publicado o decreto-lei governamental, determinando o alargamento da concessão à Liscont, até 2042 (mais 27 anos), sem concurso público e ainda com um regime de isenção de taxas portuárias único no sector, como revelou em primeira mão o SOL (edição de 4-10-2008).
O PSD fez, logo a seguir uma conferência de imprensa denunciando a eventual «ilegalidade» deste processo e, depois de ter escrito um artigo de opinião muito crítico sobre o assunto, Miguel Sousa Tavares lançou o movimento de cidadãos.
A conferência de imprensa de ontem (ver vídeo acima) foi apenas mais uma das iniciativas em que, entretanto, se desdobraram, ao longo dos ultimos dias, a Liscont e a Administração do Porto de Lisboa, para responder às criticas ao projecto.
[...]

in: "O Sol"

Sevilha

Sevilha, 2007. Foto: gad.

Wednesday, October 29, 2008

(...) "Portugal, aliás é um concentrado de deprimidos" (...).





[... ] A consciência de que terminou um ciclo do capitalismo tem passado ao lado daqueles eventualmente mais apetrechados para descodificar e proceder à reformulação das grandes categorias económicas. Gritar por Keynes e omitir Marx não é intelectual nem eticamente sério: é revulsivo. Há algo de doentio em apagar a evidência do conhecimento, tornando-o unilateral. As relações culturais não são meramente conflitivas: representam o espaço mais amplo da liberdade. Leio textos editados na Imprensa portuguesa acerca da crise financeira mundial e nenhum dos que li incita à reflexão - sim à depressão.

Portugal, aliás, é um concentrado de deprimidos. Leia-se Manuel Laranjeira. Mas também Antero, Eça (que escondia o acabrunhamento com a zombaria e o cinismo) e, sobretudo, o imenso Oliveira Martins, cujo Portugal Contemporâneo fundamenta um magno tratado do que fomos e do que somos. Além do mais, Martins escrevia num idioma admirável, no qual a clareza se associava ao mais elegante sainete. Mas se quiserem uma excelente introdução a essa época, a essa gente e ao espírito de uma fascinante aventura cultural, estética e ética leiam, com mão diurna e mão nocturna, A Tertúlia Ocidental, de António José Saraiva, outro dos grandes esquecidos. Numa semana em que se comemora um autor estimável, seria bom não olvidar aqueles que tentaram a identificação do "moderno", combatendo a desgraçada condição social do português. Eles procediam de Verney, de Luís da Cunha, de Herculano e de Garrett, e pelejavam com forças inominavelmente superiores. A "desistência" das elites, substituída por uma casta de medíocres, transformou-nos em uma espécie de carpideiras. A depressão vem de longe, e aqueles de nós que almejavam defender a condição de todos e a livre realização de cada um, cedo foram ameaçados, removidos ou impelidos ao silêncio. Sei muito bem do que falo.

O pensamento político dos partidos portugueses continua imutável. O debate entre as duas grandes opções ideológicas, que instigou as gerações saídas da II Grande Guerra, quedou-se na banalidade ou na repetição dos equívocos. Vejamos: se as declarações de Sócrates pecam por um excesso de optimismo ou se se apoiam em técnicas de marquetingue, a dr.ª Manuela Ferreira Leite, ao quebrar o tenaz mutismo, acentua a depressão nacional. Quando a política deixa de ser relação, deixa de ser política e converte-se nesta massa parda e viscosa. Reformular as categorias políticas só seria possível com a radicalização dos conceitos de liberdade e de sociedade. Já se viu a falência do "socialismo real" e estamos a assistir à queda da infausta experiência do "neoliberalismo". Os encomiastas de um sistema económico que deixou o mundo derreado carregam um fardo pesadíssimo. [... ]

Baptista-Bastos Escritor e Jornalista
in: "Dn Digital - 2008-20-29"

Dan Perjovschi

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Outubro 28 – Novembro 22, 2008


[...] "Dan Perjovschi (Romenia, 1961), vive e trabalha em Bucareste e transformou o desenho enquanto medium, no sentido do seu uso para a criação de um objecto, uma performance e uma instalação. Ao longo da ultima decada, Perjovschi tem vindo a fazer os seus desenhos expontanea e directamente nomeadamente nos espaços dos museus, permitindo que quer assuntos locais, quer assuntos do mundo globalizado informem o resultado final.

Temos o prazer de apresentar o trabalho de Dan Perjovschi editado por Joao Felino, na /galeria integrado no programa slideshow'series :



Jack presents
CÇ. DO CORREIO VELHO 3 - 2NDLARGO DE SANTO ANTONIO DA SE1100-171 LISBOA PORTUGALsoon moving to new premises to be announced+ 351 962 453 596

...E eu tenho o prazer de divulgar! (Gad.)

Tuesday, October 28, 2008

Rituais

"Discoteca" Lagos, 2007. Foto: gad.

Monday, October 27, 2008

Sobre (vivências)

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Fachada de um edifício de habitação na Rua Rainha Ginga em Luanda.
Foto: gad, 2007

Destaque: Edifício BESA/SOYO,Angola



AQUI.





Sunday, October 26, 2008

Pedras Preciosas

Benguela, Angola, 2004. Foto: gad

Saturday, October 25, 2008

"a União que faz a Força"

Ilha do Mussulo, Angola, 2004. Foto: gad.

100 COMENTÁRIOS...

2008-10-25, Oeiras, Portugal, Europa. Fotos: gad
[clique na imagem para acreditar...]

Bom Fim-de-semana!

Mérida, 2008. Foto: gad.

Bom Fim-de-semana!

Mérida, 2008. Foto: gad.

s-t

Barcelona, 2007. Foto: gad.

Friday, October 24, 2008

alguns retratos

BARCELONA






Wednesday, October 22, 2008

Olhares "Temperados"

Ilha do Mussulo, 2004. Foto: gad

Ilha do Mussulo, 2004. Foto: gad

Luanda, Ingombotas, 2004. Foto: gad

Luanda, Ingombotas, 2004. Foto: gad

Luanda, Ingombotas, 2004. Foto: gad

Monday, October 20, 2008

"A lente discreta de Carlos Afonso Dias", segundo "O Público"...


Uma referência acompanhada da devida vénia ao jornal "O Público" que hoje, dia 20 de Outubro de 2008 dedicou um artigo (com uma caixa na primeira página e tudo!) à exposição de Carlos Afonso Dias "Fotografias 1956-2008" inaugurada na Galeria Pente 10, em Lisboa no dia 16 de Setembro e aberta ao público até ao próximo dia 7 de Novembro.

Para quem, como eu, só compra "O Público" esporadicamente, dando preferência a leituras diárias mais independentes, aqui cito o texto que um "anónimo jornalista" dedicou a uma exposição retrospectiva da dimensão desta. Anónimo porque não assina, o que no mínimo me parece pouco sério.
De resto salvam-se as excelentes fotografias já que a prosa não é mais do que um somatório de excertos mal colados de prefácios, textos e referências de livros e catálogos que eu também tenho. Até o título é impessoal, foge ao Homem, esconde-se na lente "discreta"...

É legítima a seguinte dúvida; porque será que o filho do fotógrafo se sente tão incomodado com "O Público"?

Todas as dúvidas são aceitáveis num mundo onde os valores e as prioridades nascem exactamenteno berço dos interesses e das cumplicidades. Onde os artistas são feitos e não se fazem. Não têm tempo...
Custa-me conviver com a hipocrisia. Consigo respirar durante muito pouco tempo nesse ambiente.
Por isso pergunto ao senhor Sérgio B. Gomes (nome profissional, bem sei...), responsável pelo blogue "Arte Photographica", blogue Convidado do jornal "O Público" se não assinou o artigo por timidez ou pelo que antes eu escrevi (a propósito silêncio que manteve em torno desta inauguração) em sua "casa" sem nunca merecer resposta. Assim como, provavelmente, não terá resposta para muitas das perguntas que eu ainda tenho para lhe fazer. A seu tempo.

Mas não quero fechar este post sem um verdadeiro comentário à exposição de C.A.D. escrito por outro anónimo (este, por pudor e pelo conteúdo das palavras julgo conhecer), deixado no post que Sérgio B. Gomes dedicou à exposição de CAD no seu disinto blogue. São palavras espontâneas, como espontâneas são as leituras de quem sente a fotografia. De quem se entende com a fotografia e não precisa da agenda para marcar encontro com ela.

As grandes paixões não precisam de agenda. As amantes de ocasião sim. Convém.



O sentir de um "Anónimo" que julgo conhecer:


(...)"Anónimo disse...
O que mais me prendeu a atenção no conjunto de fotografias de Carlos Afonso Dias, expostas no piso inferir da Galeria Pente 10, foi precisamente o jeito discreto e silencioso de fotografar o aparente silêncio dos outros. Fotografias de pessoas de costas, de perfil, muitas vezes com uma mão com que velam parte do rosto, outras vezes numa atitude secreta e interiorizada, coincidentemente cúmplice. Excepto uma criança de rosto e sorriso aberto, três jovens explicitamente a pousar para a câmara e uma mulher com uma garrafa na mão e a outra mão aberta a combinar com um rosto todo exterioridade, todos os demais parecem introverter o olhar ou falar entre si as palavras que a câmara não diz nem ouve mas com a qual se captou o gesto. É raro ver uma relação directa do fotógrafo com o fotografado. Parece um olhar sensível, um tanto tímido que se movimenta invisível em diferentes planos e dos outros parece absorver parte do que já é. Depois há tomadas de vista mais gerais e panorâmicas mas o que mais me ficou na memória foi a quase ausência de olhos voltados para o exterior e a secreta linguagem dos gestos.Tive saudades dos tempos que não eram os meus, da película fotográfica que utilizo poucas vezes, da surpresa das imagens que não se podem ver de imediato e que forçavam a uma maior precisão e atenção no disparo e na escolha do momento, da poesia roubada às horas mortas dos dias do viver comum e do nostálgico encanto do preto e branco.Depois foi aquele contraste entre a década de 50 do séc.XX e o inicio do séc XXI que me fez sorrir e onde ficou claro que já nada é como antes. As linhas estenderam-se, os planos abriram-se, o espaço ganhou cor, a luz directa parece desvirtuar o chiaro-scuro, as pessoas desaparecem dando realce ao espaço que até pode fazer eco… e aquela janela antiga integrada neste contexto parecia mesmo imbuída na parede, mais real que a realidade se é que a realidade é no fim de contas assim tão verdadeira.Desculpem, foi um Amigo com quem gosto de falar de fotografias e com quem os mails saem sempre longos, que me perguntou o que eu tinha achado da exposição. Acabei por lhe responder aqui mesmo, pois estava a adiar a resposta por não saber de modo mais curto. São tudo linguagens próprias de quem fotografa e de cada vez parece fazer menos sentido gostar ou não gostar…"(...)



Ericeira, 1962




(...) Contam-se pelos dedos de uma mão as exposições individuais de fotografia de Carlos Afonso Dias (1930-): cinco. E a primeira só aconteceu em 1989, na Galeria Ether – Vale Tudo Menos Tirar Olhos, em Lisboa, mais de 35 anos depois de ter começado a fotografar com uma AGFA de fole. Gérard Castello-Lopes, seu amigo e companheiro de “conversas fotográficas”, escreveu no prefácio do catálogo dessa mostra que se tratava da “ressurreição” de um fotógrafo e de uma obra que, nos anos 50, primeiro captou Portugal “não como um hobby academizante destinado a provincianos salons e honoríficas medalhas, mas como uma necessidade, uma tentativa de resolver a questão que cada um de nós tem consigo mesmo”.

Essa primeira iniciativa de resgatar do esquecimento o trabalho fotográfico que Carlos Afonso Dias desenvolveu entre 1954 e 1969 partiu de António Sena, fundador da Ether e responsável por trazer à luz toda uma geração de fotógrafos à procura de uma “independência do olhar”, entre os quais Vítor Palla/Costa Martins, Sena da Silva e Gérard Castello- Lopes. Filho de pai que fotografava “a metro”, Carlos Afonso Dias sentiu o impulso fundamental para a fotografia ao ver uma imagem da ressaca da implantação da República de Joshua Benoliel, mítico repórter do jornal O Século. Como as referências em Portugal se resumiam a quase nada, o resto da inspiração encontrou-a na obra de Henri Cartier-Bresson, Walker Evans e nos grandes ensaios fotográficos da revista Life, cultora de um género humanista e socialmente empenhado, matriz das imagens que foi fazendo não só em Portugal como em Espanha, Itália, França, Canadá e nos EUA. Durante anos, fotografou essencialmente para si e para um grupo restrito de amigos. A viver num país em asfixia artística e criativa, “sem palmas nem recompensa”, Carlos Afonso Dias foi “acometido pelo desalento dos que pregam no deserto” (Gérard). Corriam os anos 70 e deixou de fotografar. Durante muito tempo só entraram na lente da sua Leica as imagens do quotidiano familiar e os afazeres da profissão a que se dedicou, engenheiro geógrafo, primeiro em Angola e depois em Portugal. (...)


O sucesso da exposição na Ehter
– vendeu seis fotografias para a Colecção Nacional de Fotografia e a vários coleccionadores privados – fez com que regressasse à prática.

Na quinta exposição em que se apresenta sozinho, na galeria Pente 10, em Lisboa, o lastro alarga-se mais – no tempo e na técnica. São mostradas fotografias captadas entre 1954 e 2008, em suporte analógico e digital.


Galeria Pente 10, Travessa da Fábrica dos Pentes (ao Jardim das Amoreiras), nº10, Lisboa. Até 7 de Novembro


Paris, 1960



O "olhar" de Alexandre Pomar

Saturday, October 18, 2008

Bom fim-de-semana!

"Rebajas" Mérida, 2008. Foto e montagem: gad

Friday, October 17, 2008

s-t

Mussulo, Luanda, 2oo7. Foto: gad

Mussulo, Luanda, 2007. Foto: gad.

Onjyva, Cunene 2007. Foto: gad


Wednesday, October 15, 2008

" A VER NAVIOS..."



EMERALD PRINCESS
PASSAGEM POR PAÇO DE ARCOS. FOTO: GAD 2008;

Literalmente "a ver navios" desde que tive a ideia de "alargar" a estreita vista de mar que tenho do apartamento onde moro em Paço de Arcos. Essa estreita vista contrasta com a visão abrangente que tenho, da mesma casa, sobre a Bacia do Tejo com ponte, Cristo-Rei e tudo.
Mas o que inquietou sempre foi aquele buraco entre a 'muralha' dos prédios do Bairro J. Pimenta(vazio urbano, na moderna linguagem dos arquitectos modernos) que me surpreendia frequentemente com visões de navios que ali passavam muito próximo da Escola Naval.
Essa recorrente inquietação aliada à minha paixão pelo mar e pelos navios (vivi sempre junto ao mar) levou-me a principiar uma série de experiências fotográficas quase sempre falhadas. Por um lado o tempo que medeia entre ver um navio no Tejo e vê-lo passar no "meu buraco" é sempre uma incógnita; depende do navio, do tempo, etc. "Perdi assim muitos navios".



Por outro lado, não foi fácil encontrar o ângulo e a posição do tripé que menos distorções criasse a uma objectiva zoom com 300mm (max) de média qualidade. A regulação da máquina, obrigatoriamente manual vai sendo ajustada com os erros que vou fazendo.
Também a edição das imagens finais tem vindo a ser facilitada à medida em que o meu filho mais velho me vai dando algumas dicas sobre as funcionalidades do Photoshop...
aqui editei a primeira imagem deste "Projecto" - O Queen Mary II".
Aí a ideia foi cruzar as duas 'cidades': a flutuante e a outra. Nesta, a vontade foi mesmo a de "alargar a vista" para lá caber o 'monstro'. Outras se seguirão.~
Nota: Para quem gosta de Navios, destes ou de outros, encontrei nas minhas pesquisas um blogue a eles dedicado: "SHIPS & THE SEA - BLOGUE dos NAVIOS e do MAR" . Por exº fiquei lá a saber quase tudo sobre o "Emerald Princess".


Tuesday, October 14, 2008

Se bem me lembro...


Lubango, Angola 2008. fotos:gad


"Se bem me lembro..."
Estava no Lubango à porta de um Hotel. Esperava o "transporte" para o aeroporto.
Mais uma viagem "relâmpago" no pequeno jacto da 'companhia'.
Se bem me lembro ainda não eram seis horas da manhã. Em África o dia começa pelo princípio. Enquanto 'olhava para nada', cruzei o meu olhar turvo de "nada" com o "nada" do olhar de um senhor que ali perto se preparava para mais um dia de trabalho. A engraxar os sapatos de quem, soube eu depois, razões de sobra teria para lhe 'engraxar a alma'.
Mas o simpático senhor, na sua já profecta idade, também não engraxava por engraxar... Fazia parte do seu dia-a-dia. Há muitos anos.
Se bem me lembro, gostei do homem. Talvez porque o seu olhar turvo, "catarátcico" me lembrasse o olhar de um pai. Falámos muito, a espera foi longa.
Se bem me lembro.Falámos do presente de Angola mas, sobretudo do futuro dos nossos filhos. Aí, como num golpe de teatro, apareceu a filha do senhor.
A filha do senhor era, se bem me lembro, tão humilde e simpática como o pai.
Do carinho que, se bem me lembro (porque a essas horas não me costumo lembrar de nada) envolvia silenciosamente pai e filha sobressaía um sentimento unilateral. Do pai. Obviamente autenticado,se bem me lembro, pela sua dedicada filha: A 'menina' dos seus olhos agora "catarácticos" tinha ganho um futuro diferente do passado que o seu pai, ainda, quando queria, se lembrava.
Estudava aplicadamente na Universidade. Paga pelo dinheiro que o seu pai, que, se bem me lembro, fazia questão de o ganhar a engraxar os sapatos de quem nem sabia que aquele senhor, que ali "nascia", todos os dias, não precisava de engraxar "merda nenhuma". Talvez, se bem me lembro, das muitas palavras que trocámos,fiquei com a certeza de que, a única coisa que o meu amigo engraxador, do Lubango, precisa de ter intocável para continuar vivo é a sua imensa dignidade.
Se bem me lembro, foi das pessoas que mais gostei de conhecer.

Saturday, October 11, 2008

'Princesa da Areia'

foto: gad, Mussulo, Angola, 2008


"Teu ser"

modelado a barro vivo

é de um breve negro
quando te sentas no chão

Escrava dos minutos infinitos
teu ângulo de água aberta

aquece
luas remotas.


José Luis Mendonça*

(Palavra de poeta - Antologia)


*Nasceu a 24 de Novembro de 1955, no Golungo Alto, província do kwanza Norte. Jornalista e poeta, é funcionário da UNICEF Angola, onde atualmente exerce as funções de assistente de informação. Escreve para diversos órgãos de informação angolanos e para o JL - Jornal de Letras, Artes e Idéias, de Portugal. Ingressou na União dos Escritores Angolanos em 1984.

Thursday, October 09, 2008

Esse teu olhar...

Ilha do Mussulo, Angola 2007. foto gad

Esse teu olhar

Quando encontra o meu

Fala de umas coisas que eu não posso acreditar...

Doce é sonhar,é pensar que você,

Gosta de mim, como eu de você...

Mas a ilusão,

Quando se desfaz,

Dói no coração de quem sonhou,

Sonhou demais...

Ah, se eu pudesse entender,

O que dizem os seus olhos."

Tom Jobim


"kizombando" com as sombras.

Bairro Azul, Luanda 2008. Foto: gad.

Wednesday, October 08, 2008

Álvaro Siza Vieira homenageado com prémio da rainha Isabel II

in: Público

O português Álvaro Siza Vieira vai ser homenageado pela sua contribuição para a arquitectura internacional com a Medalha de Ouro Real de 2009 atribuída pelo Instituto Real dos Arquitectos Britânicos, em nome da rainha Isabel II.

A distinção foi ontem anunciada formalmente. O galardão será entregue numa cerimónia em Londres em meados de Fevereiro do próximo ano.

"A rainha aprova pessoalmente o escolhido, mas não costuma estar presente na cerimónia", segundo uma porta-voz do Instituto Real dos Arquitectos Britânicos.

O prémio é atribuído em reconhecimento do trabalho feito ao longo da vida, e é normalmente atribuído a pessoas com uma longa carreira.

No comunicado que anuncia a sua escolha, Siza é descrito como um "arquitecto completo" cujos edifícios "nunca são previsíveis nem comuns".

"Nos edifícios de Siza é às relações entre os elementos da arquitectura que é dada primazia ao invés da forma ou textura dos próprios elementos", elogiou o presidente do Instituto Real dos Arquitectos Britânicos, Sunand Prasad.

"É uma arquitectura", acrescenta Sunand Prasad, "em que a economia de meios expressivos é conciliada com uma abundância de revelação espacial".

A abertura de Siza Vieira a novos arquitectos, a boa relação com os seus colegas de profissão e o facto de continuar a acompanhar pessoalmente todos os projectos do seu gabinete são também louvados.

A Medalha de Ouro Real é atribuída todos os anos desde 1848 e no passado distinguiu conhecidos arquitectos como Le Corbusier (1953), Renzo Piano (1989), Frank Gehry (2000) e Jean Nouvel (2001). Em 2008, o galardoado foi o britânico Edward Cullinan.

Parabéns Siza!

O Peso das (más) Notícias


Lisboa. Foto: gad, Out. 2008

"não existo"

foto: gad 2008

Começo a conhecer-me. Não existo.
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,
ou metade desse intervalo, porque também há vida...
Sou isso, enfim...
Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulhos de chinelos no corredor.
Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo.
É um universo barato.

Álvaro de Campos

"O riso e o risível"

Foto: gad. Messejana, Alentejo 2007.

Monday, October 06, 2008

Amália

foto: gad, 2007


estranha forma de Vida
Foi uma estranha forma de vida porque eu não fiz nada por ela, foi por vontade de Deus, não é? "Que eu vivo nesta ansiedade, que todos os ais são meus que é tudo minha a saudade, foi por vontade de Deus". Já isto fiz com trinta anos! Quer dizer já eu pressentía que tinha sido Deus que me tinha feito o destino, que me tinha marcado o destino, que me deu uma natureza para a qual eu nasci, ... nasci com esta obrigação de cantar fado! Ou foi o fado que fez isto! O fado é destino, portanto deu-me este destino a mim!

Quando eu morrer váo inventar muitas histórias sobre mim, se inventaram sobre a severa e não se sabe se ela existiu, e de mim sabem concerteza que eu existi.

Amália Rodrigues (1920/1999)

Friday, October 03, 2008

Arquitectura. Edifício do Banco Espiríto Santo de Angola (B.E.S.A.) no Soyo . 2006/2008




Alçado para a 'Rua Principal doSoyo Baixa da Cidade'.
foto: Gonçalo Afonso Dias*. Soyo, Angola 2008.

Em Julho de 2006, na sequência de uma das viagens de trabalho que regularmente faço a Angola aqui dei conta num post devidamente ilustrado da fase inicial da construção desta minha primeira obra de média dimensão no país onde cresci.

Se na altura regressei extremamente bem impressionado com a dedicação e o profissionalismo de todas as entidades envolvidas, desta vez, inaugurado e a funcionar o edifício, regressei feliz e agradecido por ter convivido com uma equipa solidária, atenta, disciplinada e cúmplice. E esse conceito de 'equipa' transcende e muito, neste caso, os colaboradores do meu gabinete, alargando-se a todos aqueles (desde os mais influentes aos mais anónimos) que, no local, com todas as dificuldades decorrentes da localização da obra e do contexto sócio-económico e de um país em reconstrução, deram o seu melhor para que este objectivo fosse cumprido. E foi num prazo muito razoável, reportando-me a Portugal.
Com rigor, com muita qualidade técnica e, sobretudo, humana. A todos eles é dedicada esta primeira obra que deixo em África. Ao (B.E.S.A) dispenso elogios. A enorme obra que em poucos anos implantou, desenvolveu e se tornou referencial fala por si.

Este post será completado essencialmente com imagens da obra acabada, acompanhadas eventualmente de pequenos textos ou desenhos esquemáticos, quando forem oportunos para a compreensão daquilo que é mostrado.

cheguei ao Soyo pela primeira vez, em 2005, encontrei uma cidade inserida num ambiente natural fantástico, com o enorme Rio Zaire a separá-la do Congo, serpenteando numa vegetação que , do ar, em tudo me lembrou imagens da Amazónia.




Vista aérea em viagem para Cabinda. Em sequência na imagem; O Congo, o Rio Zaire e o Soyo, Angola.



"Lá em baixo" percorre-se uma das regiões mais fustigadas pela guerra. "Isto foi tudo arrasado..., ficaram aquelas casas" explicou-me o meu anfitrião.

Hoje, poucos anos passados, esta cidade está em franco desenvolvimento, como quase todas as cidades angolanas. Já não é fácil conseguir terrenos como aquele onde se implantou este edifício.
E foi esse contexto social da região, e de um modo mais abrangente do País, que influenciou definitivamente as grandes opções para esta obra. Um desafio aparentemente "difícil de passar" quando o Dono de Obra é uma grande instituição bancária. Mas, não só passou como teve todo o apoio e toda a abertura da administração deste Banco. O desafio consistia em erguer um edifício digno de uma Instituição com a notabilidade desta, que fosse referencial no sítio, estruturante no lugar mas simultâneamente contido e austero..


Marcante sem ser ostensivo; sem ali "cair" como mais uma "bomba" forrada a alumínio e vidro para 'cavar' mais o fosso social tão visível como infelizmente vem acontecendo na capital onde as multinacionais importam para Angola modelos tão pretenciosos como chocantes e desadequados. Vêm de todo o lado, "caem literalmente do céu" como o mais recente condomínio de luxo em construção na Alta de Luanda, notoriamente referenciado ao estilo "novo-rico" arqueado e cor-de-rosa tão do gosto dos fãs das "Quintas" de Portugal... (Do Lago,Da Marinha, Do Patino, etc, etc.)

Mas esse é um assunto que caberá num post a tendo como mote Luanda e as consequências (pre)visíveis de um crescimento económico vertiginoso do País, não sustentado do ponto de vista do Planeamento Urbano.
Voltando atrás...
Estruturante sem ser impositivo; Num lugar com "alma" mas sem referências arquitectónicas, é um dever e uma responsabilidade abrir a porta com todo o cuidado... acreditando que quem porventura venha atrás, na ausência de indicações rígidas (plano) se sinta constrangido por não pensar no futuro da cidade. Utopia? O tempo o dirá.

Gosto de olhar para o edifício de fora e ver as pessoas a passar à sua frente. Sinto que consegui muito do que pretendia; uma determinada intemporalidade, "uma escala muito angolana" uma gramática já muito entendida por este povo.
As chapas metálicas que revestem todo o piso 0 do edifício parecem ganhar uma dignidade que não é material.
PISO 0Ocupado integralmente pela agência do Banco Espiríto Santo de Angola (BESA). No exterior, oposto à Rua Principal, junto às paredes laterais que conformam o rectângulo do edifício, localizam-se os acessos em escada aos dois apartamentos que ocupam o piso superior.
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Foyer e Interlock equipado com uma caixa multibanco.

Vista do foyer e interlock onde se percebe a ocupação parcial do piso 1 pelo gabinete do gerente. Ao fundo a escada de acesso a esse compartimento.

Balcão com 4 postos. As letras (B) (E) (S) (A) foram recortadas nas pedra de revestimento (verde Guatemala) e podem ser iluminadas por dispositivos instalados por trás.



Corte transversal pelo eixo do edifício (corte 5).

Esclarece a ocupação pontual e 'estratégica´ de parte do piso 1 pelo gabinete do gerente,tirando partido do pé-direito duplo do foyer para obter uma visibilidade discreta sobre toda a área de clientes e balcão, assegurando, em tempo útil, o bom funcionamento da agência.

O esquema marca também (recta azul) o atravessamento visual que se tem a partir da rua, abrangendo toda a largura do edifício tornando-o, deste modo, mais apelativo e participativo na vida quotidiana dos cidadãos.

Vista captada do lado posterior ao Balcão (caixas) onde se percebe todo o enfiamento visual o espaço central da agência.


Escada de acesso ao Gabinete do Gerente e localizado no Piso 1, faixa central do edifício.



Perspectiva do Gerente, a partir do seu gabinete, sobre o 'espaço público' da agência.





Pátio Exterior

Este espaço tem acesso reservado aos funcionários do Banco e aos moradores dos apartamentos localizados no Piso 1, através de dois portões localizados nos extremos laterais do lote.Acumula duas funções distintas: Por um lado permite um acesso seguro e discreto às escadas para as entradas individualizadas dos apartamentos, já referidos, existentes no piso superior.

Por outro lado, junto ao muro que conforma o lote a Nascente (oposto à Rua Principal) alberga num só corpo, em compartimentos separados e minuciosamente dimensionados para o efeito, todas as áreas técnicas do edifício com excepção do áreas e da unidade de AVAC localizadas na cobertura. Este posicionamento (termo acumuladores) foi sendo adoptado nos últimos projectos para Angola e tem a ver sobretudo com aspectos de segurança dos moradores.

Projectar para Angola envolve um conhecimento profundo da realidade desse país em todos os aspectos. Desde os mais envolventes e "inspiradores" aos mais técnicos e limitativos; as dificuldades ainda existentes no regular e contínuo fornecimento de energia, de água, de combustíveis, a dificuldade de aprovisionamento de materiais em determinadas províncias, o grande surto de construção concentrado nas cidades mais importantes, etc.





Substituição de um gerador mal posicionado. Esta "simples" operação numa moradia em Luanda ocupou quatro homens voluntariosos e uma máquina durante uma manhã inteira e, ainda assim, não consegui evitar estragos na construção e na paciência dos proprietários...

Para quem nunca projectou com estes pressupostos um simples gerador "doméstico" pode tornar-se num "bico de obra"... É preciso ver, como se põe, como se tira, quem põe e quem tira. Tudo isso são dados do projecto.

O estreito volume foi "fechado" por uma grelha aparentemente contínua que o unifica e assegura, por outro lado, a protecção e a ventilação, sendo apenas interrompido na faixa correspondente à largura da zona pública da agência (6m.) dando lugar a um espaço ajardinado, cenário bem mais do agrado dos funcionários e utentes.

O embasamento foi feito em granito "Negro Angola"

Vista para um dos portões de acesso ao pátio /portão Sul



O Corpo técnico e de apoio aos funcionários externos à agência implantado no limite Nascente do lote.



PISO 1 - APARTAMENTOS

Acessos aos apartamentos a partir do Pátio de Serviço


Na Europa, hoje, estes equipamentos são praticamente pré-fabricados. Têm uma "bitola" que os arquitectos têm de seguir, são normalmente lojas reformuladas e o que acaba por distinguir as agências de um ou de outro Banco é a "Imagem de Marca".
Em Angola, tal como noutros países as instituições bancárias definem estratégias em relação à implementação das suas agências no território. Há naturalmente uma hierarquia de escala e investimento proporcional ao contexto onde se inserem, à urgência da representação, etc.

Por outro lado, sobretudo nas províncias onde as carências são maiores, nomeadamente o alojamento, a situação da construção de uma representação de um banco, no caso do Banco Espírito Santo de Angola (B.E.S.A.) aproxima-se programaticamente daquilo que sucedeu por volta dos anos 70, em Portugal, por exº com os notáveis edifícios/agências da Caixa Geral de Depósitos, espalhados um pouco por todo o país.O programa alargou-se e criou novas funcionalidades para suprir as carências existentes.



Tornou-se recorrente a construção alojamentos destinados a funcionários administrativos a deslocar para a região, ou simplesmente para acolher convidados de outras regiões de uma forma confortável e cordial. Pela mesma razão o edifício do BESA/SOYO acaba por ter um carácter institucional onde, entre outras funções (programáticas), alberga a principal agência desse Banco no Soyo.

PISO 1
Planta /Diagrama do Piso superior do Edifício


Corte Longitudinal

O piso 1,é practimamente ocupado pelos dois apartamentos (T2) . Não são, contudo, apartamentos iguais e simétricos. O gabinete do Gerente (e o seu acesso a partir da agência), estrategicamente localizado neste piso, proporcionou o desenho de duas tipologias com diferentes características. Enquanto o apartamento localizado a Sul (à esquerda no desenho) dá uma resposta linear ao programa funcional , já o T2 oposto, idealmente simétrico, partilha o seu limite "virtual" com o Gabinete do gerente da agência e respectivo acesso a partir do Piso.

De certa forma a disposição espacial das duas habitações acabou por fixar, naturalmente, o seu destino estando a maior vocacionada para uma habitação unifamiliar em permanência (Gerente deslocado para esta província por exº) enquanto a segunda é mais adequada para albergar estadias mais pontuais e rotativas.

O desenho do espaço interior das casas foi, contudo, idêntico e assente em alguns pressupostos que a experiência de projecto tanto em Portugal mas sobretudo para Angola, nos foi ensinando.



Desde logo assegurar o essêncial - a espacialidade, a funcionalidade, a coerência do desenho, o bem-estar de quem se presume vir a habitar o espaço projectado. Implica também, nestes casos pensar no modo de vida angolano, nosseus costumes, no contexto social de cada provincia, etc.


Depois apostar numa pormenorização que passe por opções relativamente correntes mas bem desenhadas, seguras.

Essa é porventura a maior e valia profissional adquirida em quase cinco anos consecutivos a projectar para Angola; ter criado uma certa capacidade de apostar na arquitectura sabendo à partida que não vou, nem quero usar "a mala de truques do arquitecto" como dizia, irónicamente, Vitor Figueiredo.

Gonçalo Afonso Dias, Outubro 2008

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FICHA TÉCNICA :





Promotor da Obra: Banco Espírito Santo de Angola (B.E.S.A)

Representante do promotor em obra
: Eng.º Paulo Silveira director do DAI, assistido por Neusa Mendes, Eng.


Fiscalização: Progest: Eng.º Paulo Nóbrega (Coordenador Área de Fiscalização) e Eng.º Francisco Gaspar.






ConstructoraTeixeira Duarte: Dir. Obra: Eng.º Paulo Almeida





Projecto Geral de Arquitectura: Metáfora, Arquitectos Associados, Lda.

Coordenação da equipa projectista: Arq. Gonçalo Afonso DiasColaboração: Susana Alvarez, Andreia Carinhas, Edgar Soares, Tiago Iglésias, Vanda Santos, arquitectos




Projecto de Fundações e Estruturas: Safre / coordenação: Eng.º. Paulo Freire







Projecto de Instalações Mecânicas: Instec /coordenação: Eng.º. Viegas Rodrigues





Projecto de Instalações Eléctricas, telecomunicações e Segurança: Copreng / coordenação: Eng.º. António almeida






Projecto de Infraestruturas de Águas e Esgotos: Grade Ribeiro, Lda. / coordenação: Eng.º. Grade Ribeiro



Modelação 3D: Arq. Miguel Kriphall





Acessoria e implementação de sistemas de segurança: Securitas de Angola