Monday, October 20, 2008

"A lente discreta de Carlos Afonso Dias", segundo "O Público"...


Uma referência acompanhada da devida vénia ao jornal "O Público" que hoje, dia 20 de Outubro de 2008 dedicou um artigo (com uma caixa na primeira página e tudo!) à exposição de Carlos Afonso Dias "Fotografias 1956-2008" inaugurada na Galeria Pente 10, em Lisboa no dia 16 de Setembro e aberta ao público até ao próximo dia 7 de Novembro.

Para quem, como eu, só compra "O Público" esporadicamente, dando preferência a leituras diárias mais independentes, aqui cito o texto que um "anónimo jornalista" dedicou a uma exposição retrospectiva da dimensão desta. Anónimo porque não assina, o que no mínimo me parece pouco sério.
De resto salvam-se as excelentes fotografias já que a prosa não é mais do que um somatório de excertos mal colados de prefácios, textos e referências de livros e catálogos que eu também tenho. Até o título é impessoal, foge ao Homem, esconde-se na lente "discreta"...

É legítima a seguinte dúvida; porque será que o filho do fotógrafo se sente tão incomodado com "O Público"?

Todas as dúvidas são aceitáveis num mundo onde os valores e as prioridades nascem exactamenteno berço dos interesses e das cumplicidades. Onde os artistas são feitos e não se fazem. Não têm tempo...
Custa-me conviver com a hipocrisia. Consigo respirar durante muito pouco tempo nesse ambiente.
Por isso pergunto ao senhor Sérgio B. Gomes (nome profissional, bem sei...), responsável pelo blogue "Arte Photographica", blogue Convidado do jornal "O Público" se não assinou o artigo por timidez ou pelo que antes eu escrevi (a propósito silêncio que manteve em torno desta inauguração) em sua "casa" sem nunca merecer resposta. Assim como, provavelmente, não terá resposta para muitas das perguntas que eu ainda tenho para lhe fazer. A seu tempo.

Mas não quero fechar este post sem um verdadeiro comentário à exposição de C.A.D. escrito por outro anónimo (este, por pudor e pelo conteúdo das palavras julgo conhecer), deixado no post que Sérgio B. Gomes dedicou à exposição de CAD no seu disinto blogue. São palavras espontâneas, como espontâneas são as leituras de quem sente a fotografia. De quem se entende com a fotografia e não precisa da agenda para marcar encontro com ela.

As grandes paixões não precisam de agenda. As amantes de ocasião sim. Convém.



O sentir de um "Anónimo" que julgo conhecer:


(...)"Anónimo disse...
O que mais me prendeu a atenção no conjunto de fotografias de Carlos Afonso Dias, expostas no piso inferir da Galeria Pente 10, foi precisamente o jeito discreto e silencioso de fotografar o aparente silêncio dos outros. Fotografias de pessoas de costas, de perfil, muitas vezes com uma mão com que velam parte do rosto, outras vezes numa atitude secreta e interiorizada, coincidentemente cúmplice. Excepto uma criança de rosto e sorriso aberto, três jovens explicitamente a pousar para a câmara e uma mulher com uma garrafa na mão e a outra mão aberta a combinar com um rosto todo exterioridade, todos os demais parecem introverter o olhar ou falar entre si as palavras que a câmara não diz nem ouve mas com a qual se captou o gesto. É raro ver uma relação directa do fotógrafo com o fotografado. Parece um olhar sensível, um tanto tímido que se movimenta invisível em diferentes planos e dos outros parece absorver parte do que já é. Depois há tomadas de vista mais gerais e panorâmicas mas o que mais me ficou na memória foi a quase ausência de olhos voltados para o exterior e a secreta linguagem dos gestos.Tive saudades dos tempos que não eram os meus, da película fotográfica que utilizo poucas vezes, da surpresa das imagens que não se podem ver de imediato e que forçavam a uma maior precisão e atenção no disparo e na escolha do momento, da poesia roubada às horas mortas dos dias do viver comum e do nostálgico encanto do preto e branco.Depois foi aquele contraste entre a década de 50 do séc.XX e o inicio do séc XXI que me fez sorrir e onde ficou claro que já nada é como antes. As linhas estenderam-se, os planos abriram-se, o espaço ganhou cor, a luz directa parece desvirtuar o chiaro-scuro, as pessoas desaparecem dando realce ao espaço que até pode fazer eco… e aquela janela antiga integrada neste contexto parecia mesmo imbuída na parede, mais real que a realidade se é que a realidade é no fim de contas assim tão verdadeira.Desculpem, foi um Amigo com quem gosto de falar de fotografias e com quem os mails saem sempre longos, que me perguntou o que eu tinha achado da exposição. Acabei por lhe responder aqui mesmo, pois estava a adiar a resposta por não saber de modo mais curto. São tudo linguagens próprias de quem fotografa e de cada vez parece fazer menos sentido gostar ou não gostar…"(...)



Ericeira, 1962




(...) Contam-se pelos dedos de uma mão as exposições individuais de fotografia de Carlos Afonso Dias (1930-): cinco. E a primeira só aconteceu em 1989, na Galeria Ether – Vale Tudo Menos Tirar Olhos, em Lisboa, mais de 35 anos depois de ter começado a fotografar com uma AGFA de fole. Gérard Castello-Lopes, seu amigo e companheiro de “conversas fotográficas”, escreveu no prefácio do catálogo dessa mostra que se tratava da “ressurreição” de um fotógrafo e de uma obra que, nos anos 50, primeiro captou Portugal “não como um hobby academizante destinado a provincianos salons e honoríficas medalhas, mas como uma necessidade, uma tentativa de resolver a questão que cada um de nós tem consigo mesmo”.

Essa primeira iniciativa de resgatar do esquecimento o trabalho fotográfico que Carlos Afonso Dias desenvolveu entre 1954 e 1969 partiu de António Sena, fundador da Ether e responsável por trazer à luz toda uma geração de fotógrafos à procura de uma “independência do olhar”, entre os quais Vítor Palla/Costa Martins, Sena da Silva e Gérard Castello- Lopes. Filho de pai que fotografava “a metro”, Carlos Afonso Dias sentiu o impulso fundamental para a fotografia ao ver uma imagem da ressaca da implantação da República de Joshua Benoliel, mítico repórter do jornal O Século. Como as referências em Portugal se resumiam a quase nada, o resto da inspiração encontrou-a na obra de Henri Cartier-Bresson, Walker Evans e nos grandes ensaios fotográficos da revista Life, cultora de um género humanista e socialmente empenhado, matriz das imagens que foi fazendo não só em Portugal como em Espanha, Itália, França, Canadá e nos EUA. Durante anos, fotografou essencialmente para si e para um grupo restrito de amigos. A viver num país em asfixia artística e criativa, “sem palmas nem recompensa”, Carlos Afonso Dias foi “acometido pelo desalento dos que pregam no deserto” (Gérard). Corriam os anos 70 e deixou de fotografar. Durante muito tempo só entraram na lente da sua Leica as imagens do quotidiano familiar e os afazeres da profissão a que se dedicou, engenheiro geógrafo, primeiro em Angola e depois em Portugal. (...)


O sucesso da exposição na Ehter
– vendeu seis fotografias para a Colecção Nacional de Fotografia e a vários coleccionadores privados – fez com que regressasse à prática.

Na quinta exposição em que se apresenta sozinho, na galeria Pente 10, em Lisboa, o lastro alarga-se mais – no tempo e na técnica. São mostradas fotografias captadas entre 1954 e 2008, em suporte analógico e digital.


Galeria Pente 10, Travessa da Fábrica dos Pentes (ao Jardim das Amoreiras), nº10, Lisboa. Até 7 de Novembro


Paris, 1960



O "olhar" de Alexandre Pomar

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