Wednesday, October 24, 2012

Filho Perdido - Arquitectura, Obra e (Re)sentimentos

 
 
Desenhos e fotografias: Gonçalo Afonso Dias
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Filho Perdido

Nasceu sem que eu soubesse apesar de tanto o ter desejado, apesar de de tanto o ter sonhado. Por tanto, tanto tempo...

Nasceu onde eu quis que ele nascesse - na cidade que me viu crescer, na cidade onde fui feliz - o Lobito.

Mais tarde, muito mais tarde, soube que o parto não correu bem, que foi feito "à pressa" e que não tinha nascido saudável.

Foi parido no esterco dos feitiços em que o dinheiro e o poder confiam e a que se entregam.

Cegamente...

Vi-o, de longe, no "outro dia". Não me quis aproximar, não quis que ele soubesse que tem um pai exilado pelo Poder dos que pouco Podem mas muito "se Acham".

Ele cresceu depressa, muito depressa - porque assim quiseram que ele crescesse - à força, Apenas bonito por fora.

Mas por dentro está doente, muito doente, agonizante...

E eu, algemado, nada posso fazer. Apenas sofrer e esperar.

Quando ele for grande e o tempo já tiver passado, aquelas parteiras porcas, imundas, que lhe tiraram o pai e a saúde, estarão no sítio onde vão ficar... No Inferno.

Até lá vou continuar a espreitá-lo clandestinamente através das grades que o cercam, que o sufocam e o impedem de "Ser".

Um dia, essas grades hão-de ser derrubadas pela força da verdade.

Há sempre um dia, mais tarde ou mais cedo.


(Dedicado ao Moisés, ao Rui, à Mafalda e à Susana)

 

 

 

 

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