Wednesday, February 15, 2012

"Subir sempre" - A fotografia a P&B




Fotografia:Gonçalo Afonso Dias
Ávila, Espanha, 2010

A fotografia a P&B

"A ausência de cor, sublima, de certo modo, a aparência do mundo. Recusar a cor é considerá-la, de certa maneira, inútil à essência mesmo do que se quer registar."
(Gérard Castello-Lopes)


(Catálogo da exposição Oui-Non, CCB, Abril 2004)

Referi aqui recentemente, no resumo da fotografia "Coca-Cola" a questão da preferência que tenho pela fotografia a preto e branco e, por outro lado, as razões porque, pontualmente opto pela cor.
Afirmei também que essa escolha não era absoluta nem tão pouco obrigatória nos trabalhos que faço. Tem essencialmente a ver com a natureza daquilo que pretendo transmitir.
A fotografia que agora publico é, de certo modo, um pretexto para partilhar alguns conhecimentos que, acredito, poderão ser úteis a alguns membros que procuram informação (sobretudo teórica) que não encontram nos comentários feitos aos seus trabalhos.
Quando se invoca a obra de Gérard Castello-Lopes, Carlos Afonso Dias, e tantos outros dessa geração de fotógrafos pensa-se exclusivamente na fotografia em P&B, maioritariamente revelada e ampliada a gelatina e prata.
Muitos de nós desconhecem, por exemplo, a fantástica série de fotografias a cores de espantalhos feitas pelo Gérard e que originou a exposição «"Espant' Homens» que aconteceu na Fundação de Serralves, há alguns anos.
Carlos Afonso Dias fez também, sobretudo na sua fase derradeira, diversas experiências onde o seu olhar se concentrou na cor e que fizeram parte (ampliadas em grande formato) da sua última exposição na Galeria "Pente 10" em Lisboa. A mais conseguida, no meu entender, tem o título "Garage" e foi feita, quase espontaneamente no piso de estacionamento do prédio onde morava. Uma obra notável que considero uma síntese de toda a sua obra.
Mas o assunto que esta imagem pretende ilustrar é o Preto e Branco.
Respeito evidentemente todas as formas de fotografar e de editar a fotografia monocromática. Desde os alto-contraste, até às investidas mais experimentalistas

Eu entendo que a beleza de uma fotografia em P&B, independentemente do assunto que a motivou, resulta em grande parte da "largura" da "escala de cinzas". Desde o preto até ao branco são infinitas as tonalidades captadas e reproduzidas.
A edição digital destas fotografias deve ter essa preocupação: assegurar uma gama larga de cinzas, não deixar "explodir" os brancos, não exagerar nos negros.

Para quem, como eu, limita a edição das fotos ao essencial (ajuste de luz, brilho e contraste) o Photoshop é uma ferramenta praticamente inútil.
No meu caso, o laboratório da minha preferência e que vai ao encontro das minhas necessidades é o "ACD see). Possui uma ferramenta simples mas de enorme utilidade - uma espécie de equalizador de luz.
Um pequeno truque, a adição no "color Balance" de uma tonalidade muito contida de "amarelos" (-5 nas médias luzes, -3 nas sombras e -1 nas altas-luzes) é o suficiente para quebrar a frieza da edição directa em P&B e conferir às fotografias uma tonalidade mais próxima daquela que se obtinha nos laboratórios.

Mexer demasiado nas fotografias acaba com elas... Cada um, através da pesquisa, da experimentação e da partilha de conhecimentos acaba por encontrar os mecanismos que melhor os permitem transmitir as suas obras.

Espero que esta abordagem possa ter alguma utilidade para alguém já que, os comentários às fotografias incidem excessivamente no objecto fotografado e muito pouco em matérias mais didácticas.

Um abraço a todos (as).

Nota: Texto e fotografia editos no "Olhares.com"

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