Ontem dei um passeio a pé pelo centro de Oeiras para fazer fotografia. A certa altura deparei-me com uma cena que me interessou, em pleno centro histórico; um homem descarregava sacos de cimento para o interior de uma velha casa, a partir de uma camioneta de caixa aberta encostada à janela. Fiz a primeira fotografia e logo o senhor, brasileiro, percebi então, pediu desculpa e perguntou-me se estava ali mal, etc, etc...
Respondi-lhe que não era um polícia mas sim um fotógrafo e pedi-lhe para lhe fazer um retrato ao que acedeu.
Esta cena, por vulgar que possa parecer, contextualizada com as diversas agressões verbais e enxovalhos publicos que tenho vindo aqui a registar, por fotografar pessoas na rua, revela, quanto a mim, o simbolismo atávico e a evidência de um povo com medo de tudo: de ser denunciado, de fazer parte de quaisquer arquivos, de ir "parar à internet", de ser vítima, em conclusão.
Num país saudável, culturalmente evoluído, com legislação adequada, uma pessoa, na rua a fazer fotografias é apenas uma pessoa na rua a fazer fotografias (desde que respeite obviamente o referido quadro legal).
Por cá nem sequer, em caso de conflito, ou divergência na interpretação da Lei do Direito à Imagem, de nada serve recorrer à mediação da policia. Pura e simplesmente desconhece e, pela experiência, já longa, que tenho, toma desde logo a defesa intransigente do cidadão queixoso.
A fotografia em Portugal ainda, só em determinados círculos intelectuais é considerada uma forma de expressão artística.
Os seus autores, só num círculo muito fechado são entendidos como artistas, como são os pintores, os escultores, etc.
O Centro Português de Fotografia e as restantes instituições com responsabilidades na promoção e divulgação da fotografia e na formação de novos fotógrafos, bem como algumas das maiores comunidades de fotógrafos online (ex. Olhares.com) poderiam desempenhar (com acções de sensibilização ou promocionais Públicas) um papel importante junto das pessoas no sentido de, de uma vez por todas fazer perceber a diferença entender a diferença entre uma máquina fotográfica e uma pistola, num "mundo" onde sub-repticiamente somos (todos), cada vez mais, controlados, vigiados e fotografados pelo Estado.
Fotografias: Gad. Oeiras, 2010
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