Wednesday, March 25, 2009

OEIRAS - Oeiras: Assalto aos CTT faz um morto

Igreja Matriz de Oeiras. Foto: Gad, 2009


«Um homem de 61 anos foi hoje baleado mortalmente à saída dos CTT de Oeiras por três encapuçados que tentaram assaltar aquela estação de correios, disse à agência Lusa fonte policial, adiantando que o homem por estar vestido de azul, terá sido confundido como sendo da Polícia. »

Ainda há bem pouco tempo tentei sossegar a minha mãe (muito preocupada com os meus longos passeios nocturnos por Oeiras, na companhia do meu cúmplice e fiel companheiro de quatro patas, o"Lost"), argumentando que à noite e sobretudo de madrugada, corria tantos ou ainda menos riscos do que de dia.
O meu raciocínio é simples; os assaltos, os crimes violentos, os pequenos roubos, acontecem maioritariamente de dia e cada vez com mais frequência o que que cria nas pessoas um sentimento generalizado de medo com consequências sociais diversas; o isolamento dos idosos por não se "atreverem" a sair à rua a partir do pôr do sol, a permanente desconfiança estampada no rosto das pessoas, a ausência de comunicação, a desertificação dos Centros Históricos e, no caso presente, do Centro histórico de Oeiras a que aqui já fiz referência.
Tudo isso cria o "habitat" ideal para o criminoso que aproveita o "deserto da noite" para dormir e recuperar energias para enfrentar mais um dia de "árduo trabalho"...
É evidente que, como em todas as profissões, haverá excepções... há que ser cuidadoso mesmo na hora da "siesta" dos criminosos profissionais.

vem isto a propósito do assalto ocorrido hoje na Estação dos CTT de Nova Oeiras, a "dois passos" da minha casa... e se o faço com alguma ironia não é por ter menos respeito pela vítima que dele resultou, friamente abatida à queima roupa, apenas por estar vestido de azul...
Podia ser eu, podia ser qualquer um. Foi aquele senhor de 61 anos que, inocentemente, cumpria o ritual de colocar uma carta no correio.
O simples gesto de ter escolhido uma roupa azul para se vestir nesta manhã levou os assaltantes a tirarem-lhe o resto da vida, sem hesitações.
É o valor que as nossas vidas têm hoje, de dia ou de noite.
De noite, em Oeiras, como em tantas Vilas, pelo menos não se corre o risco de ser confundido com um policia... pela simples razão que não se vê um único agente da autoridade.
Ontem fiz as contas: em 30 dias (que adoptei o cão -Lost- e saio à noite, tarde, para passear com ele, nunca (repito, nunca) me cruzei com um policia;

Percorri já todo o Centro Histórico;

Estive depois da meia-noite a fotografar uma agência bancária durante largos minutos (estava um cão lá dentro...)

Atravessei frequentemente o Jardim de Oeiras a horas "de risco"...;

Estive tranquilamente sentado em frente ao edifício da Câmara Municipal a fazer um desenho do palácio;

Fiz fotografias a edifícios públicos e privados;

"Plantei-me" de tripé e máquina fotográfica no Adro da igreja Matriz durante largos minutos;

Percorri as ruelas mais recônditas do Centro Histórico e, em alguns casos demorei muito tempo a fotografar ou a desenhar;
Resumindo: Fiz o que gosto de fazer mas preferia, sem dúvida, fazê-lo (em liberdade), sabendo que não estava entregue exclusivamente à minha sorte. Como aconteceu em pleno dia com o Sr. que foi abatido a tiro de caçadeira, apenas por estar vestido de azul.

Para a sua família e os seus amigos aqui deixo as minhas sentidas condolências.






2 comments:

Ana Maria said...

Já morei em cidades que consideraria muito mais perigosas do que Oeiras. Às vezes, ao voltar do trabalho em Roma, a Mãe ligava a saber notícias. Eu respondia: "Estou óptima, no autocarro a voltar para casa". "Às 21:30??!!!" respondia, preocupada! "Não pense que isso é como Oeiras..." Quatro anos em Paris e nada de assaltos à mão armada, 2 anos em Londres e nada de assaltos à mão armada, 2 anos em Roma e nada de assaltos à mão armada! E é de volta a casa, na "minha vilazinha de Oeiras", no "meu Portugal" que sempre achei tão seguro, "cosy" e familiar, que me deparo com este sentimento de insegurança. Não digo que não tivesse medo, às vezes: é sempre "scary", para uma miúda/mulher, voltar para a casa sozinha à meia noite depois de um copo com os amigos! Mas quando a opção é não viver por se ter medo, tentamos contornar as regras! A diferença é que em todas estas cidades, o perigo estava patente em certas zonas ou becos escuros. A polícia era reforçada e as pessoas eram aconselhadas a evitar certos passeios nocturnos (com ou sem "Lost"). Aqui, no mais inesperado dos sítios, às horas mais tranquilas, pode-se morrer!

Não podemos menosprezar a situação que se vive, de desemprego e descontentamento! Também não podemos ignorar a imigração descontrolada de pessoas que chegam apenas para encontrar desemprego também aqui! A culpa não é do desemprego, a culpa não é dos imigrantes (que tantas vezes se sujeitam a trabalhos menosprezados pelos tugas), a culpa não é do descontentamento! A culpa é da falta de adaptação a estas mudanças. Eu continuo a achar que a minha vila é pacata! E ainda antes de ontem fui aos correios buscar um pacote e observava os clientes pacatos enquanto esperava a minha vez! E o pior é que nem eu me quero adaptar, nem o Estado nem as forças de segurança, nem ninguém!

Eu imaginava que qualquer dia me sentasse a beber um café neste sítio "pacato" a dizer: "no meu tempo as coisas eram bem melhores"! O pior é que este ainda é o meu tempo e as coisas já estão mal!


Ana Maria

Gonçalo Afonso Dias said...

Obrigado Ana Maria.
Estou absolutamente de acordo com o teu comentário. Infelizmente o "contexto" actual não permite sonhar com "rapidas melhoras"... pelo contrário. Adivinham-se convulsões e espasmos, febres e reacções alérgicas contagiosas.