Thursday, October 30, 2008

A propósito de Contentores e do Porto de Lisboa - (actualizado 31/11/08)

.

"Habitação colectiva". gad, 2008



Pouco ou nada sei, em concreto, sobre o Projecto Nova Alcântara apresentado pelo Governo em Maio deste ano. Aliás pouco ou nada sei, em concreto sobre qualquer projecto com impacto social e/ou urbanístico que o Governo apresente ou tenha apresentado…

A verdade é que nunca há tempo para esse conhecimento imparcial já que os assuntos mais sérios, ligados aos grandes investimentos, nunca são tecnicamente transparentes, abertos a uma discussão alargada, isenta e devidamente ponderados, transmitidos à opinião pública sem ser numa dimensão para a qual já é obrigatório usar uns óculos especiais. Como nos filmes 3D.

Se este caso me interessa agora particularmente, mesmo sem conhecer os “contornos”, os interesses, as verdadeiras motivações que excitam o Governo, o Porto de Lisboa e a oposição, acrescentada por um denominado “Movimento de cidadãos contra a ampliação do terminal de contentores de Alcântara” é exactamente porque ouvi os argumentos de alguns dos notáveis do dito Movimento…
Ouvi os que falaram com atenção. E com redobrada atenção ouvi a ex-Bastonária da Ordem dos Arquitectos, a arq. Helena Roseta.
Sem querer pessoalizar devo dizer que o que ouvi, em síntese, foi um amontoado de banalidades e lugares-comuns “politicamente correctos, à mistura com algumas barbaridades quando a palavra fugia para o tema “Arquitectura”.
Confesso que tenho um gosto, talvez paixão, pelo mar, pelos portos e por tudo aquilo que que ver com cidades portuárias. Cresci numa das cidades portuárias mais bonitas de África – o Lobito. Vivi sempre junto ao mar.
Talvez por isso, navios e contentores sejam para mim parte

da uma cidade que historicamente acolheu e acolhe navios e contentores, navegadores e estivadores.

Acresce que reconheço na aleatoriedade do empilhamento daqueles volumes de 2,5x2,5m de secção, (comprimento variável mas normalizado, cores diversas, vivas e com lettrings apelativos,) um partido estético e uma aproximação à escala arquitectónica muito interessantes.

Depois, estes “movimentos” oportunistas, criados à pressa, fazem-me rir…
De repente, um conjunto de pessoas sequiosas de protagonismo encontra um bom motivo para “acordar mais cedo”… e lá vai petição, conferência de imprensa, frases contundentes, ameaças que ficam a pairar… e enchem colunas de jornais e abrem noticiários e, e...

É o caso do Dr. Miguel Sousa Tavares (MST). Refeito do assalto à sua casa da Lapa e à perda de um ano de trabalho (?!) transforma-se rapidamente em “cabeça de cartaz” e, com o seu estilo arrogante, ressaibiado, e provocador pega nas rédeas de um cavalo que não conhece. Como é costume nele que sobre qualquer assunto debita com a convicção e a certeza de alguém que nunca se dedicou a outro tema durante a vida.

O Dr. Miguel já tem idade para ter juízo. 'Admitiu´ uma “acção popular” caso as coisas não corressem como o “seu” movimento desejava… ameaça velada, pois claro.

Pediu e teve... Não dos “queques da Lapa” de blusão “lacoste” vestido, mas dos estivadores do Porto de Lisboa em “fato de trabalho” e com a cara de quem não está disposto a aturar parvoíces nem a alimentar o número crescente e desesperante do desemprego em Portugal.
Sousa Tavares , ao que consta foi insultado e teve de ser escoltado pela polícia.

Não sou apologista da violência fisica ou verbal, fique bem claro. Contudo, por vezes compreendo as suas motivações.


Talvez agora (MST) entenda também o que sentem os milhares de trabalhadores , (todos os dias, quando reivindicam pelos seus empregos vendidos ao estrangeiro junto às fábricas de portões trancados onde fizeram uma vida), quando chega a Guarda, armada, agressiva e com ordens para “dispersar”. A bem ou a mal. Como “nos tempos da outra senhora.”


Quanto ao Projecto em causa, o mais certo é ter o destino de tantos outros; depois da gritaria "de mão na anca" e "faca na liga" cai no esquecimento e na lista de prioridades civicas dos "movimentados profissionais".


Porto de Luanda. Foto: gad, 2006



E para fechar o post sem "setressingue" dedico ao "Miguel" a letra de uma música dos XUTOS, quase tão conhecida como o Porto de Lisboa... e que não lhe tire o sono! FUI!


Contentores

A carga pronta metida nos contentores
Adeus aos meus amores que me vou
P'ra outro mundo
É uma escolha que se faz
O passado foi lá atrás

Num voo nocturno num cargueiro espacial
Não voa nada mal isto onde vou
P'lo espaço fundo

Mudaram todas as cores
Rugem baixinho os motores
E numa força invencível
Deixo a cidade natal
Não voa nada mal
Não voa nada mal

Pela certeza dum bocado de treva
De novo Adão e Eva a renascer
No outro mundo
Voltar a zero num planeta distante
Memória de elefante talvez
O outro mundo

É a escolha que se faz
O passado foi lá atrás
E nasce de novo o dia
Nesta nave de Noé
Um pouco de fé

letra: Tim
música: Xutos & Pontapés

...............................................................................

Sexta-feira, 31 de Outubro de 2008 - O que se diz e se mostra de um lado... [ video ]

Terminal de contentores
Demolições em Alcântara começam já este ano

[...] Por Sónia Trigueirão
Liscont e Mota-Engil explicaram ontem em conferência de imprensa a prorrogação por 27 anos do contrato de concessão e a necessidade de fazer obras já. Garantiram também que não vai haver nenhuma «muralha de aço» a tapar a vista para o Tejo (Veja o vídeo)

A prorrogação por 27 anos do contrato de concessão do terminal de contentores de Alcântara foi hoje justificada pelo presidente da Mota-Engil Ambiente e Serviços, Gonçalo Martins - num encontro marcado só para esse efeito com jornalistas - com a necessidade de amortizar o investimento feito pelo concessionário nas obras de ampliação daquela estrutura portuária.
Por seu lado, Rocha Morais, o representante da Liscont (a empresa da Mota-Engil que tem a concessão do terminal) explicou o porquê de se avançar com a ampliação agora.
Segundo Rocha Morais, os armadores estão a comprar navios cada vez maiores por ficar mais barato transportar cada vez maiores quantidades de contentores.
Se nada se fizesse, adiantou aquele responsável, «a partir de 2009, os navios iam ter de procurar alternativas», disse, sublinhando as potencialidades de outros concorrentes como o porto de Valência. Segundo Rocha Morais, só assim Lisboa poderá continuar na rota dos grandes armadores internacionais.
Os responsáveis das duas empresas quiseram deixar claro que não vai haver nenhuma «muralha de aço», sublinhando o facto de os contentores terem uma grande rotatividade e não serem empilhados mais de cinco de cada vez.
Lembraram ainda o facto de os edifícios que serão demolidos serem mais altos que os contentores.
O objectivo deste investimento é aumentar a capacidade do terminal de Alcântara, de 300 mil contentores para um milhão por ano.
Para concretizar esta ampliação, será necessário demolir o actual edifício administrativo da Liscont e os restantes imóveis, situados entre a vedação norte do terminal e a Doca do Espanhol.
Será ainda necessário, explicaram os responsáveis da Mota-Engil e da Liscont, fazer um prolongamento do cais do terminal, em mais de 500 metros, e construir uma plataforma de manobra e descarga de composições ferroviárias.
Com ou sem petição, asseguraram aos jornalistas, as demolições avançam até ao final do ano - numa referência ao Movimento de Cidadãos, que integra, entre outros, Miguel Sousa Tavares e Helena Roseta, e que está a reunir assinaturas para impedir a concretização deste projecto.
A polémica estalou quando foi publicado o decreto-lei governamental, determinando o alargamento da concessão à Liscont, até 2042 (mais 27 anos), sem concurso público e ainda com um regime de isenção de taxas portuárias único no sector, como revelou em primeira mão o SOL (edição de 4-10-2008).
O PSD fez, logo a seguir uma conferência de imprensa denunciando a eventual «ilegalidade» deste processo e, depois de ter escrito um artigo de opinião muito crítico sobre o assunto, Miguel Sousa Tavares lançou o movimento de cidadãos.
A conferência de imprensa de ontem (ver vídeo acima) foi apenas mais uma das iniciativas em que, entretanto, se desdobraram, ao longo dos ultimos dias, a Liscont e a Administração do Porto de Lisboa, para responder às criticas ao projecto.
[...]

in: "O Sol"

No comments: