Monday, May 13, 2013

O Paparazzi...

O Paparazzi...

Domingo, 12 de Maio de 2013
09: 30 da manhã, embarcadouro de Luanda.
De pé, na “ponte” a aguardar que o meu recente companheiro de fotografia (o Anselmo) chegasse.
Na mão a minha “7D” equipada com a objectiva de “combate” – ...uma 28/200 de dimensões e peso consideráveis.
Nas costas a mochila. No chão, junto a mim, dois pequenos sacos de papel. Um com um almoço ligeiro que encomendara antes de sair do hotel. No outro 3 livros dos “Meninos do Mussulo” – Um para a “mamã Zefa”, outro para a “mascote” do nosso projecto (a Zinha) e o último “para o que desse e viesse”…
À minha volta o frenesim habitual no embarcadouro nos fins de semana;
O vai-vem das chatas dos “candongueiros do mar”;
Pessoas a chegar carregadas com os farnéis para alimentar mais um dia passado na praia;
Miúdos a correr de um lado para o outro na esperança de arrecadarem alguns Kwanzas – a tomar conta dos carros que estacionavam ou a transportar as tralhas para as embarcações;
As obras que ali crescem dentro de água e que me fazem temer o pior…;
Cor, muita cor.

Enquanto aguardava pelo Anselmo fui-me entretendo a registar com a minha câmara toda aquela vida que me rodeava.
A certa altura ouvi, ali bem perto, a palavra: “Paparazzi!”…
Voltei-me para o sítio de onde tinha partido “a boca”;
À sombra de um chapéu de sol de um vermelho já desbotado um grupo de jovens marinheiros confraternizava.
Entre ignorá-los e enfrentar a situação optei por arriscar – o que faço quase sempre:
_ Bom dia! Quem é o paparazzi? – abri as “hostilidades”;
_ O senhor mesmo. – respondeu prontamente o mais atrevido do grupo;
_ Tu não sabes o que é um paparazzi. Voltei à carga. E continuei: _ os paparazzi são aqueles que se escondem para fotografar as celebridades nuas! Eu não tenho por que me esconder estás a ver ?! – continuei com o sorriso que o insólito me provocou.
A minha reacção foi bem recebida. Normalmente é assim.
Feitas as apresentações disse-lhes ao que ia. Falei-lhes do nosso projecto para as crianças da ilha. Ilustrei a apresentação com um dos livros que levava.
Rapidamente o grupo cresceu e a animação aumentou. Agora em torno das imagens do livro que folheavam lentamente, divertidos. Aqui e ali reconheciam algumas das crianças fotografadas.
Mas ainda não estava satisfeito.
_ Quem é o “boss” daqui, o mais respeitado? Perguntei.
_ Aquele ali. Apontou um dos miúdos para um senhor que nos observava de longe.
¬_ Acenei-lhe convidando-o a juntar-se a nós.
Apresentámo-nos e voltei a explicar resumidamente o projecto da Aldeia das Artes para os Meninos do Mussulo.
Depois confiei-lhe o livro e pedi:
_ Mostre esse livro a todos daqui! Não quero mais chegar ao embarcadouro e ser chamado de paparazzi! Rematei.
O senhor agradeceu satisfeito com a deferência.
Entretanto o Anselmo chegou.
Dirigimo-nos para a chata do Josemar – um dos marinheiros que conheço à muito tempo.
Partimos ao som dos 40 Cv do motor Yamaha.
Mais um dia, mais uma história que não vou esquecer!
 
 
 
Fotografias de Gonçalo Afonso Dias
Maio 2013
 
 

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