Vou aqui contar e ilustar uma "história" que fala de discriminação, de negligência e de falta de humanidade.
Era segunda-feira, dia 16 e eu estava no Aeroporto de Lisboa. Já era noite.
A dada altura apercebi-me de um enorme burburinho que foi crescendo de intensidade até se tornar numa gritaria.
Olhei para o sítio de onde vinha essa estranha exaltação e vi um grupo grande de africanos, com idosos e muitas crianças - uns 50 no total - embrulhados numa altercação com os funcionários da TAP. Dois polícias assistiam sem intervir.
Pensei que fossem angolanos... era hora de voo para Luanda.
Tinha comigo a EOS 50D com uma 18-200 e um caderno de apontamentos que sempre me acompanha.
Abordei um dos primeiros do grupo e perguntei em "angolanês" _ Qual é a Maka?
Respondeu-me em francês. Tratava-se de um grupo de cidadãos originários do Mali, a residir em Paris e que iam (pensavam eles) de férias para a sua terra.
A TAP anulou o voo, já no dia anterior, sem lhes dar qualquer satisfação credível...
Queriam mandá-los para um hotel por um tempo indeterminado (talvez dois dias, sem qualquer garantia de verem o problema resolvido). Não aceitaram, queriam uma resposta, queriam voltar para Paris... Dali não saíam.
Os funcionários da TAP não percebiam o que eles diziam e tratavam-nos com desdém "se não querem ir dormem aí !" - ouvi, várias vezes exclamarem.
As crianças iam-se entretendo mas os adultos estavam profundamente revoltados e exaltados.
Mostrei-lhes a minha solidariedade e dispus-me a ajudá-los.
Entretanto um dos polícias abordou-me "não nos pode tirar fotografias, disparou. "Bem sei, sou um cidadão informado!, retorqui.
Percebi então que me tinham tomado por um jornalista... aproveitei a deixa e desatei a fotografar enquanto tentava contactar uma estação de televisão.
Estiquei o ISO quase ao limite... Estiquei os nervos, a revolta e a vergonha de assistir a uma situação tão degradante num país que se diz civilizado.
Das estações de TV a quem falei apenas uma (a TVI) me deu uma resposta vaga "quando tivermos uma equipa disponível vamos ver o que se passa"...
Eu sabia que a presença dos media ajudaria e muito a resolver aquela injustiça e insisti.
Liguei para a TSF. Atendeu-me um conhecido jornalista a quem relatei o que se estava a passar. Finalmente alguém reagiu! Mandou de imediato um colega ao aeroporto e as coisas aparentemente ficaram resolvidas.
As pessoas acalmaram-se e chegaram a um acordo com a TAP. Não sei exactamente qual, saí de "mansinho" quando me apercebi que o queria fazer estava feito.
Fotografias: Gonçalo Afonso Dias, Lisboa 07/2012
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