ARQUITECTURA E SENTIMENTOS:
De todos os projectos que já fiz ao longo de 24 anos de arquitectura, tanto em Portugal como em Angola este - o Besa/Lobito/Sede - é, sem dúvida, aquele em que os sentimentos e as memórias maior impacto tiveram e têm na concepção e nas fases posteriores do trabalho.
No Lobito, uma belíssima cidade outrora conhecida como "A Sala de Visitas de Angola", cresci, fui adolescente, livre e feliz.
EDIFÍCIO DA M.E.B.P.A.
Vivi durante muitos anos nesta cidade - primeiro na Restinga, em frente à praia, depois na Caponte, junto à Colina da Saudade, na mesma rua e dois prédios à frente do local desta obra - o "Prédio da Casa Lopes".
No Lobito aprendi a ler a contar e a desenhar... frequentei a Escola Primária Pedro Alexandrino da Cunha, também na Restinga, onde tive como professora da 1ª à 4ª classes a inesquecível D. Célia.
DESENHOS DE 1970 (5 ANOS)
Ali frequentei também o Liceu até à altura em que a guerra, a invasão a partir da África do Sul das tropas da UNITA acompanhadas pelos mercenários Sul-Africanos nos obrigaram, integrados numa memorável coluna de fugitivos, a recuar para Luanda. Uma Odisseia que durou 3 dias e ficará para sempre gravada na minha memória.
Fiz também muitos amigos (O Riki - com quem andava sempre às "turras, o Frazão, o Pedro Vaz Pinto - o maior de todos -, os Catalões, etc.) que "eternizávamos" em pequenos livros de autógrafos e dos quais guardo belas recordações e uma enorme saudade.
A Independência de Angola estava prestes a acontecer e a guerrilha urbana entre os 3 movimentos armados (MPLA, UNITA e FNLA) era intensa e fraticida.
No Lobito fui membro da "Organização dos Pioneiros Angolanos (O.P.A) afecta ao MPLA, tive instrução militar aos 11 anos... participei em comícios e tive a Honra de apertar a mão ao histórico líder e fundador do MPLA - Dr. António Agostinho Neto.
Fotografia retirada da Net
Depois a vida cumpriu o destino. Vivi em Luanda até 1981, no famoso "Prédio do Livro" na antiga Av. Guilherme Capelo, Maianga, altura em que vim para Portugal completar os estudos e fazer a licenciatura em Arquitectura.
Só voltei "à minha cidade" em 2004, quase 30 anos depois de a ter deixado. Fui conhecer "O Sítio" desta obra que deu início a um longo percurso (até hoje) de colaboração com o BESA.
Fui ver a minha escola e o recreio onde brincava.
FOTOGRAFIA "REENCONTRO" 07/2004
«Em 2004, acabada que estava a guerra voltei ao fim de mais de 20 anos à cidade onde cresci e fui feliz; O Lobito. Atordoado pelos sentimentos econfundido pelas memórias procurei desesperadamente pela minha escola primária onde aprendi o "babá" com a D. Célia - a antiga escola Pedro Alexandrino da Cunha. Ninguém me sabia dizer onde era. Eu tinha uma vaga ideia, mas parecia-me agora tudo tão pequeno. Depois de muito penar alguém me disse que já não havia escola. Agora era um hospital e estava a decorrer um período de febres contagiosas... Pouco me importou, tremi ao entrar no átrio recheado de macas com gente a sofrer, o ambiente impregnado de dor e desespero. Fui à minha sala. O mesmo. Corri para o recreio já sem ar, sem controlar as emoções. Foi nesse recreio»
(GAD, 2004)
(TEXTO NO OLHARES.COM). A minha última estadia no Lobito, nos dias 3 a 5 deste Mês de Julho de 2012 foi já no âmbito da Assistência Técnica à obra que vai agora crescendo.
Indescritível foi a emoção de ali ver o grande "Painel da Obra" com o meu nome inscrito. O Sentimento de fazer obra na cidade que me viu crescer, de deixar o meu nome e o dos meus pais e irmãos ligado ao Lobito não é possível traduzir em palavras...
Esta obra é por isso dedicada ao meu pai - Carlos Afonso Dias que dirigiu, durante muitos anos como oceanógrafo a Missão de Estudos Bioceanológicos de Pescas de Angola (MEBPA) e à minha mãe - Fernanda Seixas, angolana do coração que lutou de armas e medicamentos na mão junto dos guerrilheiros, na frente de combate, prestando-lhes os primeiros cuidados de saúde, salvando e confortando muitos deles.
Os meus pais - anos 90, Cascais
É também para os meus irmãos - Manuel e Ana que comigo partilham os sentimentos, as vivências e as emoções que antes descrevi.
A arquitectura não se faz apenas com Donos de Obra, Empreiteiros, Fiscais, orçamentos, programas e prazos. Faz-se também e muito com sentimentos de onde quer que eles venham.
Santo Amaro de Oeiras, 20 de Julho de 2012
1- Introdução:
A proposta do edifício BESA/LOBITO/SEDE é a sequência natural da fase anterior (estudo prévio) apresentada e analisada pelas entidades envolvidas, e após algumas afinações com o objectivo de optimizar funcionalmente o espaço, finalmente aprovada. O iniciar deste projecto foi consequência da conclusão de um processo já desenvolvido para um edifício, que projectado para o mesmo local, já não servia os propósitos e objectivos do requerente.
A fase de projecto que agora concluímos, não só compreende todas as observações, sugestões e críticas construtivas naturais e desejáveis num processo criativo, como tem em consideração a urgência de iniciar os trabalhos de construção, por isso apresenta um desenvolvimento mais aprofundado quer do ponto de vista da arquitectura como, no que diz respeito à intervenção e coordenação das diversas equipas das especialidades.
2- O sítio e a importância urbana desta intervenção:
A responsabilidade de intervir arquitectonicamente no tecido urbano desta cidade, assume elevada importância quando nos debruçamos sobre a História da cidade. A revitalização do caminho-de-ferro e a existência de um porto marítimo conferem à cidade, características únicas num país em franco desenvolvimento. Cidade de belezas naturais ímpares, onde a qualidade arquitectónica e o desenho urbano “respiram” seriedade e bastante reflexão (é disso exemplo a “inventiva” Colina da Saudade), impõem uma intervenção de grande responsabilidade.
LOCALIZAÇÃO (CLIQUE PARA AMPLIAR)
ratando-se de um gaveto junto a um eixo viário estruturante, maior ainda será a visibilidade do conjunto projectado o que aumenta também, o grau de responsabilidade de quem conscientemente projecta.
O GAVETO AINDA COM A ANTIGA CONSTRUÇÃO POSTERIORMENTE DEMOLIDA
(FOTOGRAFIAS DE 07/2004)
A área destinada à construção do edifício situa-se na Caponte, junto à Colina da Saudade. Trata-se de um gaveto nas Ruas Eng. Gomes da Costa e 1º de Agosto, sendo actualmente um terreno descampado, anteriormente ocupado por precárias construções.
Na envolvente próxima, consolidada e qualificada do ponto de vista arquitectónico, destacam-se vários edifícios modernistas de indiscutível qualidade arquitectónica como por exº o "Edifício da Radio", o Mercado do Lobito - com o traço de Vasco Vieira da Costa e ainda o conjunto do Porto do Lobito.
EDIFÍCIO DA RÁDIO
MERCADO DO LOBITO
3 - Programa: O factor impulsionador deste programa foi naturalmente a criação de um edifício do Banco Espírito Santo de Angola (BESA), no centro da cidade do Lobito, dimensionado para dar resposta às necessidades actuais, tendo em conta o desenvolvimento urbano que trará novas e diferentes exigências espaciais.
Um dos problemas com que nos deparamos é a diferente escala dos edifícios circundantes. De forma a minimizar os desequilíbrios volumétricos, formalmente a construção assume diferentes escalas, variando conforme a presença dos edifícios vizinhos.
A fachada principal assume-se na Rua 1º de Agosto, marcando o remate deste eixo urbano com um volume que se quer imponente e contemporâneo, digno da instituição que representará.
Programaticamente o edifício é composto por agência bancária, escritórios, habitações e zonas técnicas :
Piso -1 – Zonas técnicas
Pisos 0 e 1 – Agência bancária
Pisos 2, 3, 4, 5 e 6 – Escritórios
Piso 7 – Habitação
Piso 8 - Sala dos condóminos e Instalações técnicas
3.1 – Zonas técnicas
Dada a complexidade e diversidade do programa funcional do edifício, optou-se por localizar a maioria das infra-estruturas técnicas num piso enterrado. O acesso a este piso é feito unicamente pelo exterior e por um acesso independente do edifício, de forma a facilitar a vivência no interior do edifício (poluição sonora, elevadas temperaturas, etc.) , minimizando o conflito com todas as circulações.
Para evitar uma sobrecarga na estrutura do edifício localizamos neste piso o reservatório de água e respectivas infra-estruturas, o posto de transformação e posto de seccionamento, grupo de geradores e depósito de gasóleo.
3.2 – Agência do BESA
A agência do banco assume, na concepção deste projecto um papel fundamental.
O seu programa espacial, genericamente semelhante aos anteriores, nomeadamente ao do edifício do BESA Soyo ou do BESA Ondjiva, foi no entanto optimizado ao nível das circulações, flexibilidade e segurança.
Esta optimização do modelo tem vindo a ser realizada com base na percepção das necessidades e na evolução dos próprios conceitos do BESA, no que respeita ao funcionamento das suas instalações.
3.1 – Zonas técnicas
Dada a complexidade e diversidade do programa funcional do edifício, optou-se por localizar a maioria das infra-estruturas técnicas num piso enterrado. O acesso a este piso é feito unicamente pelo exterior e por um acesso independente do edifício, de forma a facilitar a vivência no interior do edifício (poluição sonora, elevadas temperaturas, etc.) , minimizando o conflito com todas as circulações.
Para evitar uma sobrecarga na estrutura do edifício localizamos neste piso o reservatório de água e respectivas infra-estruturas, o posto de transformação e posto de seccionamento, grupo de geradores e depósito de gasóleo.
3.2 – Agência do BESA
A agência do banco assume, na concepção deste projecto um papel fundamental.
O seu programa espacial, genericamente semelhante aos anteriores, nomeadamente ao do edifício do BESA Soyo ou do BESA Ondjiva, foi no entanto optimizado ao nível das circulações, flexibilidade e segurança.
Esta optimização do modelo tem vindo a ser realizada com base na percepção das necessidades e na evolução dos próprios conceitos do BESA, no que respeita ao funcionamento das suas instalações.
Sendo um modelo já bastante optimizado, temos sempre que considerar as características morfológicas, as dimensões dos lotes e o contexto em que os edifícios se inserem.
Um dos princípios que tem vindo a ser sistematicamente valorizado tem a ver com o dimensionamento e a espacialidade das áreas de público.
As áreas anexas ao balcão, o átrio de entrada (aqui novamente sublinhado por um duplo pé direito), os atendimentos privados, etc, têm vindo a ganhar uma maior dimensão que se traduz na imagem e no conforto dos funcionários e clientes.
Sendo a área do lote insuficiente para a implementação do programa da agência, optou-se pela ocupação em dois pisos, sendo que no piso 1 se encontram áreas menos utilizadas pelo público (atendimentos privados, gabinete do gerente, zonas técnicas e arquivos)
Noutra vertente tem-se procurado uma maior flexibilidade na utilização dos espaços como por exemplo o Back Office e o Gabinete do Gerente.
A circulação de serviço foi pensada para a obtenção de percursos curtos e práticos.
As áreas mais restritas da agência, tesouraria, gabinetes de contagem e áreas técnicas são posicionadas estrategicamente por forma a diminuir a frequência do seu atravessamento e a aumentar a segurança desses espaços vitais.
3.3 – Escritórios
O funcionamento destas áreas de negócio exigem uma diversidade e complexa rede de apoios, quer técnicos / humanos, quer espaciais. A existência de espaços de escritórios para auxiliar o funcionamento de uma agência é cada vez mais uma realidade incontornável.
Os 5 pisos de escritórios foram pensados para poderem responder a uma ocupação versátil. Desenhados para um grande openspace, permitindo a sua futura divisão, conforme as necessidades de quem o vai ocupar. O acesso a estes pisos é comum aos pisos de habitação, sendo a circulação efectuada por espaço independente do da agência.
Estes pisos estão dotados de instalações sanitárias, pequena copa e zona técnica. A relação com a cidade não é esquecida, existindo sempre varandas em ambas as fachadas (Rua 1º de Agosto e Rua Eng. Gomes da Costa).
3.4 – Habitação
A ocupação deste piso foi estudada de forma a dar resposta a uma necessidade crescente de alojar as pessoas que aqui vão trabalhar. As tipologias apresentadas permitem uma vivência diversificada no que respeita aos agregados familiares. Daqui resultam 1 apartamentos de tipologia T1, e um de tipologia T2, localizados no 7º Piso
O acesso às tipologias T1 e T2 é efectuado por uma galeria exterior, de forma a trazer a iluminação e ventilação natural a esta zona do edifício.
Os espaços interiores são estudados de forma a dar resposta à utilização contemporânea dos dias de hoje (materiais, relações de espaços sociais com privados, instalações sanitárias de carácter social / privado, equipamentos, etc).
As varandas privilegiam a relação com a cidade, quer na integração urbana com o tecido existente, quer com a paisagem natural que a região oferece. O sombreamento destes espaços é uma preocupação, materializado por lâminas verticais, procurando uma solução tão largamente utilizada em edifícios desta cidade ( como é exemplo o edifício do Mercado ).
3.5 – Piso técnico e cobertura
O acesso à cobertura é feito pela caixa de escadas interiores. Este espaço é composto por um espaço que alberga os termo-acumuladores para aquecimento de águas sanitárias e espaço para a localização das máquinas exteriores de ar condicionado e ventilação.
4- Aspectos formais mais relevantes na concepção do projecto:
Dada a já referida importância que a cidade representa e representará num futuro próximo, procuramos que o edifício se imponha através de um desenho simples e contemporâneo mas, também com um carácter digno e corporativo que a instituição BESA merece. O desenho procura equilibrar volumetrias distintas e não ferir a harmonia do tecido da cidade. A forma contida e serena do objecto arquitectónico é já uma constante dos projectos para o BESA que, acreditamos transmitir a idoneidade, a modernidade, e o desenvolvimento que esta instituição tem vindo a consolidar.
5- Breve abordagem aos aspectos técnicos e construtivos:
Este documento vai acompanhado das memórias descritivas das especialidades mais relevantes para esta fase: fundações e estruturas, equipamentos de águas e esgotos e infra-estruturas eléctricas.
No entanto, as restantes especialidades (mecânicas, segurança contra incêndios) foram desde o início consultadas e integradas no projecto garantindo, deste modo, todas as condições e para que a fase de projecto de execução se realize sobre bases rigorosas e adequadas às exigências do edifício.
Em termos construtivos, para além da abordagem anexa do especialista de fundações e estruturas, é de referir que se mantém, neste trabalho, a ideia de uma operacional racionalização dos materiais de acabamento, e uma adequação à realidade construtiva local do grau de dificuldade na execução dos pormenores.
Em síntese, o conceito é o de “não complicar”. Defendendo a qualidade da construção, o rigor do desenho e a visibilidade do edifício, reforçando com isso a postura e visibilidade da própria instituição.
FICHA TÉCNICA:
Promotor da Obra: Banco Espírito Santo de Angola (B.E.S.A) - Coordenação: Eng. Luís Trocado Ferreira
Fiscalização: TPF Angola - Direcção Obra: Eng. Jorge Rocha; Fiscalização: Eng. Jorge Santos (coordenador)
Constructora: Soares da Costa - Direcção Eng. Jorge Rocha, Director Geral adjunto da Soares da Costa / Angola
Directora de Obra: Eng. Joana Alves
Projecto Geral de Arquitectura: Metáfora, Arquitectos Associados, Lda.
Coordenação da equipa projectista: Arq. Gonçalo Afonso Dias
Colaboração: Susana Alvarez, Andreia Carinhas, Edgar Soares, Tiago Iglésias, Vanda Santos, arquitectos
Projecto de Fundações e Estruturas: Safre / coordenação: Eng.º. Paulo Freire
Projecto de Instalações Mecânicas: Instec /coordenação: Eng.º. Viegas Rodrigues
Projecto de Instalações Eléctricas, telecomunicações e Segurança: Copreng / coordenação: Eng.º. António almeida
Projecto de Infraestruturas de Águas e Esgotos: Grade Ribeiro, Lda. / coordenação: Eng.º. Grade Ribeiro
Assessoria e implementação de sistemas de segurança: Securitas de Angola
Maqueta: Edgar Soares
Fotografias: Gonçalo Afonso Dias
Fotografias: Gonçalo Afonso Dias
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