Sunday, June 24, 2012

Todos diferentes, todos iguais /All different, all the same



(Fotografia: Gonçalo Afonso Dias, Ilha do Mussulo, Angola 12/2011)


(Texto inserido no site Olhares.com)


Esta fotografia é dedicada ao João Clemente que, na foto "Sem medos" (http://olhares.sapo.pt/sem-medos-foto5295723.html?nav1 ) desta série expressou uma dúvida muito pertinente sobre estas crianças: "criançada muito alegre, não sei se feliz..".
Sem entrar em reflexões filosóficas do que é a felicidade (uma utopia..., uma abstracção...) essa questão permite-me, neste resumo, dar-vos a conhecer um pouco mais do contexto social e humano em que estas crianças vivem, comparativamente com a maioria das crianças angolanas, uma reflexão baseada no meu profundo conhecimento da realidade Angola, e particularmente das suas crianças um pouco por todo o país, antes e depois da independência, antes, durante e depois da guerra civil que só teve fim em 2001.

O que distingue estas crianças, por ex dos meninos de Luanda?
Qual a razão da sua alegria?

São duas questões cuja resposta, precedida de uma breve contextualização, explica esta realidade.
Os meninos do Mussulo, que acompanho, fotografo e ajudo há mais de oito anos, vivem numa ilha. Apesar da proximidade à grande e densamente povoada Luanda (mais de cinco milhões de habitantes...) na sua grande maioria, não a conhecem. O seu mundo resume-se à ilha onde nasceram e onde continuam a crescer.

Longe do caos, das tentações, dos perigos com que vivem os meninos de Luanda e um pouco por todo o país, não lhes falta o essencial. Os pais, em grande parte ilhéus também, vivem do que o mar lhes dá - o peixe, o marisco.
As famílias no Mussulo mantêm uma estrutura ancestral. Aos mais velhos são respeitados e ouvidos, os mais novos são protegidos e bem alimentados.
A solidariedade existe na comunidade. A entreajuda, as relações entre famílias.
A grande ameaça para esta gente boa é a doença - a Malária, a cólera. Mas, hoje, com as campanhas de consciencialização e de prevenção que têm vindo a ser feitas por todo o país, esses flagelos perderam muito terreno.

O meninos do Mussulo vão à escola, vão ao posto médico e não sabem o que é pedir, o que é passar fome, o que é ver os pais mortos ou mutilados - já nasceram, na sua maioria, em Paz.
Não têm IPods, computadores, brinquedos sofisticados... Mas têm uma imensidão de praia, têm o mar... Constroem, a partir do lixo criativos e engenhosos brinquedos.
Como todas as crianças, como todas as pessoas, têm momentos de tristeza e momentos de alegria. Mas têm momentos de alegria! Muitos, mesmo.

É uma alegria que nasce com eles, que caracteriza, por outro lado, todo o povo angolano que, mesmo vivendo dificuldades para nós inimagináveis, consegue sorrir, cantar e dançar.

Tenho a honra, o gosto e o orgulho de ter proporcionado ao longo destes anos, alguns dos momentos de alegria destes meninos. Tenho-os visto crescer, têm-me visto crescer.

Dia 30 deste mês volto a Angola no âmbito das minhas actividades profissionais e comigo levarei a certeza de os encontrar bem. Levarei uma bola de futebol... Uma corda de saltar e os retratos que lhes fiz e que estão nesta série tão bem acolhida por todos vós - o que agradeço profundamente - por eles. Bem hajam!

Fotografia: Ilha do Mussulo, Angola, 11/2012
Na foto com os meninos do Mussulo - a nossa colega e minha mulher Suzana Alvarez que, pela expressão, revela bem a felicidade de os ter conhecido.


This photo is dedicated to João Clemente, that in the photo "Sem medos" (http://olhares.sapo.pt/sem-medos-foto5295723.html) off this series expressed a very relevant doubt about this children: "Very cheerful children, not sure if happy..".

Without going into philosophical thoughts about what's happiness (an abstraction...), this doubt allows me, in this description, to let you to know a little more of the social and human context in which these children live, compared with most of Angola's children, a reflection based on my profound knowledge of the Angolan reality, and particularly of it's children all over the country, before and after the independence, before, during and after the civil war that only saw an ending in 2001.

What distinguishes these children, for example, of the children of Luanda?

What's the reason of their joy?

These are two questions which question, preceded of a small contextualization, explains this reality.

The kids of Mussulo, that I follow, photograph and help for over 8 years, live in an island. Despite the proximity to the large and densely populated Luanda (more than five million people ...) the vast majority have never been there. Their world comes down to the island where they were born and continue to grow.

Away from the chaos, the temptations, the dangers the kids of Luanda live with, they are not lacking the essentials. Their parents, in most of the islands, live of what the sea gives them - the fish and the shellfish.

Families in Mussulo maintain an ancestral structure. Elders are respected and heard, the young are protected and well fed.

Solidarity exists in the community. The mutual support, the relations between families.

The big threat for this good people are the diseases - Malaria, cholera. But, today, with the big campaigns of awareness and prevention that have been made all over the country, these scourges have lost much ground.

The children of Mussulo go to school, go to the medical post and don't know what's begging, starving, seeing their parents dead or crippled - they were born, mostly, in Peace.

They don't have iPods, computers, sophisticated toys... But they have the beach, they have the sea... They build, from trash, creative and ingenious toys.

Like every children, like everybody, they have moments of sadness and moments of joy. But they have moments of joy! Many, really.

It's a joy that is born with them, that characterizes, on the other size, all the Angolan people that, even living difficulties that for us are unthinkable, can smile, sing and dance.

I have the honor, love and pride to have provided over the years, some of the moments of joy of these kids. I have seen them grow, they have seen me grow.

30th of this month I go back to Angola as part of my professional activities and will bring with me the certainty of finding them well. I will take a football ... A jumping rope and pictures that I have taken from them in this series and are so well received by all of you - which I deeply thank - for them. Thank you!

Translation: Tiago Afonso Dias

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