"Cabeça de Cartaz"
Fotografia: Gonçalo Afonso Dias, Porto, 2011
Tenho aqui, desde há algum tempo, procurado publicar fotografias que sejam, simultaneamente, um pretexto para "falar de fotografia", partilhar textos, experiências e conhecimentos.
Esta imagem, tipicamente uma "fotografia de rua", presta-se a uma breve abordagem a esse género fotográfico, às dificuldades que comporta e a pequenos "truques" que a experiência (sobretudo as más experiências) nos vão ensinando.
Há, desde logo questões éticas que muitas vezes são ignoradas face a um "bom boneco".
Um bom exemplo são as fotografias feitas "à socapa" de pessoas em condições pouco dignas, sem o seu consentimento.
Nesses casos cabe ao fotógrafo encontrar um posicionamento respeitador - evitando, por exº focar a cara dessa pessoa, procurando uma exposição que a deixe na penumbra, irreconhecível.
Os bons fotógrafos prezam esse princípio e não deixam de reportar ou denunciar as misérias que a sociedade faz por não ver.
Em contextos mais pacíficos, como o desta imagem, o fotógrafo encontra um "cenário". Não se esconde, fica sentado (por exº) a focar essa realidade - as pessoas passam normalmente indiferentes ao "tipo" que está encantado pela parede...
Mas é preciso paciência, muita paciência... Não é qualquer figura que se "encaixa" no quadro que se pretende criar. Um chapéu, uma postura diferente, um olhar de esguelha e até um cigarro na boca fazem toda a diferença.
Há alguns anos que faço esse tipo de fotografia, frequentemente em ambientes relativamente hostis - em Angola, por ex.
Adquiri, depois de várias situações complicadas (detenções), abordagens agressivas, etc. uma certa forma de viajar pelas ruas. Determinado, sorrindo e cumprimentando os transeuntes, metendo, aqui e ali, conversa.
Quando se trata de retratar alguém, tenho por princípio, perguntar primeiro se posso. Quando a resposta é "não" avalio a convicção com que foi dada para, no caso de não ser taxativa tentar outra abordagem: "Eu tiro e mostro-te. Se não gostares apago."
perdi a conta às vezes em que este "truque" acabou por me dar uma carga de trabalho... Ele, ou ela, gostou de se ver no LCD e chamou os amigos, os filhos, o avô...
Frequentemente, também, as pessoas, depois de se verem fotografadas pedem para que se lhes dê o retrato. Por vezes é difícil explicar-lhes que a "coisa" ainda tem de passar pelo computador e etc... mas há sempre um amigo ou conhecido que tem um e-mail. Cumprir essas promessas é uma questão de boa educação.
As compactas com o LCD móvel (G12, por ex.) podem ser de grande utilidade para fotografar despercebidamente. Eu não o faço, sinto-me mal com isso, sinto-me como um puto a roubar rebuçados numa loja de doces.
Bom fim-de-semana para todos(as).
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