Thursday, March 01, 2012

"Falar de fotografia" - entre a cor e o P&B.




Dedico-te esta fotografia "a cores" não como um desfio, mas sim como uma forma de prolongar a interessante abordagem que fizeste (à questão da cor , do P&B e das "modas") na resposta ao meu comentário na tua última fotografia - "olhares":


(...) Esta fotografia vale apenas pelo olhar da «neguinha» no quadro e mais nada e talvez pelo vermelho que adoro. É uma fotografia muito difícil de fazer e parece fácil. Não há tempo para nada. Tens uma luz deficiente e portanto vais ter que trabalhar com baixas velocidades e tens pessoas em movimento. Além disso perdi a focagem que estava no olhar da mulher com o upload. Trabalhar a cores é muito mais difícil. Temos mais megas e qualquer coisinha nota-se. Recuso-me a entrar na moda do p&b e fazer o que toda a gente anda a fazer: fotografia de rua. Parece-me tudo muito igual e «já muito batido» e anda muita gente a estragar fotografias passando-as para o monocromático. Trabalhar a p&b não é para qualquer um porque é preciso saber trabalhar a escala de cinzentos. Não estou treinado para o fazer. De maneira que para sair um pouco do «dejá vu» tens que arriscar numa variedade de temas. Um fotografo que se preze tem que fazer coisas diferentes, inovar a cada dia. Tem que mostrar que é capaz de fazer coisas variadas. Há aqui apenas uma meia dúzia deles que inova. Não aponto nomes para não ferir suscetibilidades, mas por exemplo há aqui um dos comentadores a esta foto que muito admiro. Tenta adivinhar quem é. Só faz coisas difíceis e é por aí que eu tento andar, pelas coisas difíceis. Esta foto não é um primor de técnica e o enlace não édos melhores. Mas foi o que se pôde arranjar. Trabalha a cores e depois manda uma foto e vês como vais ter surpresas desagradáveis no upload. Mas concordo ctg no essencial. No acessório lá me tentei explicar da melhor maneira. Para já estou à espera de um pedido de desculpas da administração do Olhares pelo que me fizeram na minha foto «o medo». Já sei que vou esperar sentado… mas tb estou com muito trabalho e preciso de concentração máxima. Abraço.P.S. – Espero ter-te respondido ao que em perguntaste. É que perco-me em explicações por vezes…  (...) [Jorge Garcia]





[GAD]

Rejeito, de facto, as "verdades absolutas", as generalizações.
Não me parece, de todo que exista uma "moda" do P&B e, muito menos da "Street Photography". Basta ver as "fotografias do mês" para concluir que são maioritariamente eleitas fotografias a cores.
No meu caso, aprendi de facto, a ver a preto e branco - na fotografia e na arquitectura.
É curioso, quando principiei a minha licenciatura em arquitectura na antiga Escola de Belas Artes do Porto (ESBAL) o paradigma da forma de expressão pelo desenho (ferramenta essencial no percurso de projecto) era o preto e branco, à imagem (e na forma) como tinha sido consagrado pelo Mestre Siza Vieira.
Já nessa altura eu era "rebelde" e insistia em desenhar a cores, nomeadamente usando aguarelas. Fui várias vezes "achincalhado" pelos profs... chamavam aos meus desenhos "postais para as avós".
É inevitável , sobre este tema, referir a influência que, desde muito pequeno, tive dos P&B's do meu pai.
No entanto, e desculpa toda esta prosa também me perco...), eu e o meu pai, falávamos frequentemente de fotografia, como seria natural. Mas não falávamos por palavras...
O meu pai e eu tínhamos uma forma muito particular de comunicar - com o olhar.
Quando lhe mostrava uma série de fotografias impressas em papel, avaliava a sua crítica pelo olhar e, sobretudo pelas "pausas" que fazia ao virar determinadas imagens.
Quando se demorava ligeiramente nalguma eu percebia que, para ele, tinha algum interesse. E isso acontecia frequentemente nas fotografias a cores.

Eu não acho que seja mais ou menos difícil editar a cores ou a P&B. Do mesmo modo que é fundamental "sentir" a escala de cinzas, a relevância dos contrastes e da intensidade dos negros, ou dos brancos, é decisivo "sentir" a cor, na sua plenitude.
Um negro, por exemplo (e é este o caso) tem uma variedade de cor impressionante. Uma predominância do vermelho (que é preciso moderar), uma gama de amarelos que pode estragar a imagem e por aí fora.

Por fim, eu não fotografo a cores para depois converter para P&B.
Gosto de fotografar como vejo. Se estou a "ver" em P&B, fotografo em P&B, salvaguardando com o RAW, algum momento, que na altura me tenha escapado, onde a cor é decisiva.
Como na arquitectura, exerço, frequentemente, um exercício crítico sobre o que já fiz mas sobretudo sobre o caminho que quero seguir. E tenho vinte e muitos anos de arquitecto e apenas 8 de fotógrafo amador...
Há um aspecto que me parece importante e que tem a ver com alguma maturidade nas formas de expressão artística - a coerência, a descoberta de um fio condutor para avançar criticamente. Uma espécie de "GRAMÁTICA" que se vai consolidando obra após obra e onde a "DÚVIDA" é, mais do que uma angústia, um estímulo.
Um grande abraço.


Fotografia: "Maka". Ilha do Mussulo, Angola, 2008

No comments: