Segunda-feira passada "meti conversa" com o senhor da cadeira de rodas eléctrica que motivou um post recente.
Fora de horas, junto ao jardim em frente à pequena Capela de Santo Amaro, cruzei-me com ele e interpelei-o: _ " sabe? Ontem escrevi uma coisa sobre si no meu blogue...e não me sentiria confortável se não lhe dissesse.
O simpático senhor, agora já lhe conheço o nome - Luís - que me viu tirar a fotografia que postei no artigo, apenas me perguntou se "já tinha fechado o texto..." "É porque as coisas não são bem o que parecem", desabafou. E disse mais... "Há quem não queira, sabe?!
Não, não sabia. Sei há muito que há gente para tudo. Mas o Sr.ª. Luís conhece pelo menos um caso de quem não tenha querido uma cadeira de rodas eléctrica...
Em tudo o resto, da descrição do texto que lhe fiz, estava de acordo e acrescentou alguma "lenha" para a fogueira da indiferença autárquica. falou-me com gosto, e com um brilho nos olhos, de uma livraria "Havanesa", junto à Igreja Matriz, cuja dona mandou fazer uma pequena rampa para que ele pudesse "visitá-la" mais confortavelmente. Uma iniciativa tão simples e tão humana, pensei.
Contou-me também um momento que guarda com tristeza, quando, uma das rodas da frente da sua cadeira se soltou e ele se viu tombado, numa posição «perigosa para os cotos» - "É esse o meu grande problema...". Por perto estava um homem que ele conhecia de rapaz e que se escusou a ajudá-lo justificando-se com uma "oportuna" maleita nas costas...
Foi uma conversa perturbadora mas profundamente humana. confirmei aquilo que pensava. Aquele homem tem uma enorme força, uma enorme coragem.
Não nasceu sem pernas, fiquei a saber. Foram as diabetes que lhe levaram primeiro uma e depois a outra perna cortando-lhe também uma carreira próspera no sector bancário. Perturbador mesmo foi saber que, com a idade que tem, e a vida que já teve, diz sem pudor mas com um ar solene: " não tenho um único amigo" .
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