Saturday, March 14, 2009

Em defesa do desconhecido


Desenho: Gad: 2009
Na passada quinta-feira, um homem de 29 anos esqueceu-se do seu filho de nove meses dentro do automóvel e foi trabalhar . O bebé esteve quatro horas ao sol. Morreu.
Ao olhos da Lei foi cometido um homicídio por negligência.
Aos olhos da generalidade das pessoas foi cometido um acto terrível e inexplicável.
Não hesitam em apontar o dedo em acusações sumárias e irreflectidas.
Na minha opinião, este triste caso teve mais vítimas e tem, com certeza explicação;
Desde logo, com aquele bebé "morreu" também o seu jovem pai. É inimaginável a dor, o sentimento de culpa, o vazio e o desespero que agora e provavelmente durante longos anos, (senão para sempre) o acompanharão. Como conseguirá ele ultrapassar esta dor? como conseguirá a sua mulher, desfeita também, superar o facto de ter perdido o filho deste modo?
É uma relação provavelmente moribunda também.
Depois há o contexto social, a família de um lado e do outro, os amigos, os vizinhos... um inferno de pensamentos incriminatórios ou mesmo de atitudes hostis.
Mas há explicações para que estas situações aconteçam. Cada vez mais.
A competitividade nos empregos, o stress devastador do dia-a-dia, a pressão insuportável de ter (a todo o custo) de aguentar "até ao fim do mês", os anti-depressivos que cada vez mais pessoas consomem, as depressões que aumentam exponencialmente, o desemprego a rondar cada família, a crise a entrar em casa por todas as frinchas. Pode acontecer a qualquer um de nós. Eu sou pai, mas, ainda assim, não consigo imaginar a dor que João Carlos Moreira não consegue aguentar. É nesse sentido que estou solidário com ele.

1 comment:

Pedro Caldeira said...

Solideariedade de todos, é o que este Sr. precisa mais. Antes de alguém apontar o dedo devia primeiro pensa que pode acontecer(infelizmente) a qualquer um de nós.
Eu que ainda não sou pai, estando em vias de, só penso o que sente este homem. Deve ser um sentimento horrível e ainda ter que ser apontado como um assassino. Não merece.
Mas já concordo que tem de ser investigado o caso com a maior descrição, pelos meios legais e próprios e não pelas pessoas que o rodeiam.
Paz à alma da criança e dos seus pais.