Saturday, December 20, 2008

DIZEM QUE É NATAL...

Foto: Gad. Ilha do Mussulo, Angola

Dizem que é Natal.
Insistem em dizer que é Natal.
Para mim, definitivamente, não é Natal.
Mesmo fazendo um enorme esforço por disfarçar o meu verdadeiro desprezo por tudo aquilo que finge ser o que não é.
O Natal, desde que me lembro, nunca foi um momento transcendente de reunião da Família. Pela simples razão de que, desde que me lembro, nunca construí um verdadeiro sentido de família para além do núcleo embrionário.
I.E: Cresci e fiz-me homem com muito pouco no que respeita ao sentimento (que tanto aprecio em tantas famílias que conheci e conheço) de verdadeiros laços familiares. Daqueles que não precisam de pretextos para reunir à volta de uma mesa 20 ou 30 parentes, que ali ficam embalados pelas memórias do tempo que passou ou pelos sonhos dos mais pequenos que querem, a todo o custo, alimentar.
Julgo mesmo, voltando ao princípio, que jamais considerarei a data que se aproxima como uma data festiva ou merecedora de especial atenção.
Apesar de ter filhos, inteligentes (felizmente) que também há muito perceberam que o Natal é mais uma oportunidade para aumentar os seus parcos patrimónios individuais.
Eu também era assim. E se há uma coisa que a memória me continua a surpreender é a sua enorme capacidade de me transportar para a infância! Uma bênção para quem ficou privado da chamada “Memória Recente”.
Eu adorava espreitar e “esburacar” com o meu dedo mais pequenino, as prendas que magicamente (fingia acreditar) se iam adensando sob a árvore de Natal na casa do Lobito. Era um “risco” que valia bem a pena correr...
Muitos e muitos anos passaram destas memórias de um Natal “feito à nossa medida”.
Pagão, sem palermices, sem adultos travestidos de “velhinhos Coca-Cola”, era a nossa festa por ocasião do Natal. Normalmente era no dia 24 de Dezembro e o telefone tocava às 16:00h…
Dizem que é Natal. Há cinco anos o “Pai-Natal” chegou mais cedo a minha casa. Talvez tenha começado a “ronda” desse ano por mim.
Nunca me encontrei com o verdadeiro “Velho-Senhor” das barbas brancas. Queria muito agradecer-lhe a prenda que me deixou antecipadamente no dia 12/12 de 2003. Brindar com ele, fazer uma saúde à sua inesgotável imaginação e ao seu requintado humor. Pode ser que ainda apareça aqui por casa.
Pode ser.
Aí vou convidá-lo a deitar fora as toneladas de merda plastificada que lhe enchem o saco, a imitar brinquedos e bonecas, feitas na China ou noutro “exploratório qualquer” e a trocar tudo, mas tudo, por uma única palavra que nem precisa de embrulho: TOLERÂNCIA.
Tolerância significa para mim, hoje mais do que nunca, conceder o benefício da dúvida, procurar o entendimento pela palavra serena e frontal, rejeitar estatutos ou pressupostos.
Somos todos iguais. Aqui reside o maior problema da humanidade, julgo eu.
Por alguma razão rejeitamos essa condição. Tem sido, infelizmente, a nossa História.
E, depois, quando olhamos para nós, num contexto abrangente, numa escala redutora, sentimos o quanto somos ridículos nos nossos caprichos, o quanto somos efémeros, se assim continuarmos.
Dizem que é Natal.
Um Bom Natal para todos aqueles que acreditam no que dizem.

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