Thursday, December 28, 2006
Monday, December 11, 2006
Casa de fim-de-semana (ou um pretexto para "falar" do Mussulo)
Segundo diversos autores, a origem do nome Mussulo reporta-se à época do tráfico de escravos, em que um grupo significativo, originário do sul, foi ali estabelecido transitoriamente.
Uma outra versão defende que esse topónimo se deve a um homem de nome Mateus de Magalhães, vindo da América, que ali se radicou professando a Religião Muçulmana.
A famosa ilha do Mussulo (em rigor uma península ou restinga) é um dos destinos preferidos para os fins-de-semana de Luandenses e de estrangeiros, devido à relativa proximidade, beleza natural, mas sobretudo às paradisíacas praias de areia dourada e água temperada.
É no Mussulo que "os que podem", recarregam as baterias de uma semana de trabalho vivida no ambiente desgastante da capital.
Acede-se à ilha, a partir da cidade de Luanda, em embarcações privadas (ancoradas nos clubes náuticos), ou colectivas – embarcações das grandes empresas ou ainda "o Kapossoka"(1) que sai do velho embarcadouro na Costa da Corimba.
Os adeptos de “aventuras radicais” podem alugar os serviços de um dos muitos Kandongueiros (2) que fazem uma travessia alucinante, em pequenas (mas velozes)embarcações que se concentram nas imediações do Museu da Escravatura (3).
O acesso automóvel pela estreita lingua de terreno que liga a cidade à ilha é outra façanha, só possível com um jipe tripulado por um motorista experimentado e conhecedor das ”armadilhas” do terreno.
Sociologicamente, este território aparentemente inócuo, contém uma notável complexidade que se reflecte nas relações, crenças, modos de vida e rituais dos nativos dos sete sectores em que a comuna está organizada: Cambambe, Contra Costa, Macoco, Mussulo Centro, Ponta da Barra, Prior e Zanga Dia Nzenga.
O povo do Mussulo é extraordinário e acolhedor sobretudo as suas inumeras crianças que se divertem em grupos e nunca resistem à presença de uma máquina fotográfica.
Quando não brincam no mar, inventam os seus fantásticos brinquedos com materiais que recolhem do lixo.
Contudo, é uma população extremamente pobre, sem condições básicas de educação ou de saúde, indefesa perante doenças mortais como a malária ou a cólera.
Pode-se tentar compreender esta ilha a partir do conhecimento das suas duas longas frentes marítimas - A Costa Continental (Baía) e a Costa Atlântica (Contra Costa).
A vasta faixa de areia entre as duas costas é uma espécie de "terra de ninguém", onde além da vegetação existem algumas originais construções.
A Costa Continental destaca-se, desde logo, pelos impressionantes coqueiros que se perfilam junto à margem.
A construção é permitida ao longo desta costa e tem vindo a crescer, sobretudo nos últimos anos, de uma forma anárquica, sem qualquer planeamento ou infra-estrutura básica.
Há construções de todos os gostos e de todos os feitios, frequentemente ostentando o estatuto dos seus proprietários, numa espécie de "desgarrada" urbanisticamente preocupante.
Recentemente "estão na moda" as casas rústicas "de catálogo"com soluções espaciais diversificadas, formalizadas em modelos importados do Brasil ou da África do Sul.
Os aldeamentos turísticos, com transporte marítimo privativo (O "Zanga"é nesse ramo um dos mais emblemáticos)estão em franca expansão, vocacionados para as férias de cidadãos mais abastados ou para os quadros "expatriados" que servem as inúmeras multinacionais instaladas na cidade.
Explorando zonas ligeiramente mais interiores descobrem-se curiosas ruínas de antigas construções coloniais abandonadas depois da Independência.
Uma das referências arquitectónicas dessa época, é a recentemente restaurada Igreja do Mussulo.
Na Contra Costa, o mar é límpido e mais agitado. A praia estende-se por quilómetros, só pontualmente “perturbada” pela presença das embarcações dos pescadores que aí vivem e trabalham com as suas famílias, em pequenas comunidades isoladas.
Projecto
Em 2005 surgiu-me a oportunidade de intervir neste lugar, através da encomenda de um amigo concessionário de um dos lotes "construíveis" na faixa mais avançada da costa.
Esse lote é parte de um terreno da família, mais vasto, que se estende para o interior.
Confina do lado nascente com um lote idêntico onde está implantada uma das referidas casas "à la carte", impessoal e espacialmente indiferente às potencialidades impares do sítio.
Posteriormente, o projecto acabou por se alastrar a essa casa (propriedade de um irmão) que será ampliada através de um corpo em "L" prolongando o espaço exterior coberto (virado para o mar) e abrigando, numa estreita faixa, um conjunto de espaços de apoio de que a casa carece (cozinha e casa de banho exteriores, arrumo, zona de estendal, barbecue, etc).
O projecto da "casa nova" foi pensado em conjunto com a referida ampliação procurando-se um alinhamento que estabilize a frente do terreno e transmita uma imagem de conjunto.
As únicas exigências "legais" para a nova construção foram a cércea (2 pisos) e a utilização de uma cobertura cerâmica.
A principal reflexão na fase inicial de concepção teve a ver com o acerto da escala da nova construção e com o consequente impacto que esta virá a ter do lado do mar.
Por outro lado, importava integra-la no ambiente sem recorrer ao imediatismo de uma casa de estrutura e ripas madeira com balaústres e arrebicados telhados, assumindo pelo contrário, uma contemporaneidade formal e tipológica.
Uma outra preocupação que esteve na génese do projecto prende-se com o modo muito particular de habitar e de "estar na ilha". A vida é feita "na rua" entre a praia e o Jango(4)onde se celebram as refeições em família que normalmente se alongam em animadas conversas.
O programa funcional para esta casa não difere muito dos programas correntes para as habitações unifamiliares comuns: sala, cozinha, quartos, casas de banho, etc.
A interpretação e adequação do programa à construção numa ilha com as características já mencionadas e a capacidade dos seus espaços potenciarem uma utilização descontraída, flexível e exteriorizada foram provocações fundamentais para o desenvolvimento entusiástico desta proposta.
A previsível dificuldade de interpretação técnica de soluções menos correntes, pelas eventuais pequenas construtoras, informaram (simplificando)desde o início o desenho e a modulação estrutural, no sentido de acautelar erros grosseiros, de outro modo, inevitáveis e comprometedores.
A casa assenta numa plataforma (ensoleiramento geral) de aproximadamente 22x14 metros e o programa distribui-se em 2 corpos desfasados mediados por um espelho de água central descoberto.
Esta secção em "Z" anula o impacto que resultaria de uma edificação de dois pisos com uma frente complanar.
O conceito funcional é claro: o piso térreo é dedicado aos espaços sociais (sala, cozinha interior, sanitário) enquanto o piso superior acomoda as áreas mais privativas da habitação (quartos e respectivas instalações sanitárias).
Essa dicotomia é reforçada pela orientação distinta dos dois corpos.
O volume inferior, voltado a nascente, tira o partido possível da vista e da proximidade ao mar e à praia. A sala desdobra-se para o exterior numa grande plataforma coberta, pavimentada em madeira.
O tradicional "Jango" é aí recriado através de painéis amovíveis em rede emoldurada por caixilhos de ferro que, quando corridos, delimitam e resguardam a área de refeições no exterior.
Do mesmo modo a cozinha interior tem continuidade para fora onde será seguramente mais utilizada.
O volume superior orientado para poente, onde a vegetação é abundante, é rematado por uma varanda corrida que serve todos os quartos.
O fantástico pôr-do-sol do Mussulo poderá daí ser tranquilamente contemplado.
O corredor de acesso aos quartos terá uma vista projectante sobre o espelho de água central através do vazio (entre vigas) já referido.
A obra já se iniciou ao "ritmo possível" tendo em conta as dificuldades existentes (transporte de máquinas e pessoal, aprovisionamento, segurança, etc.).
1- Embarcação pública que faz a travessia Mussulo/Luanda desactivada durante largos anos. Anuncia-se para breve a sua reactivação.
2- Na cidade são as populares as indestrutíveis carrinhas Toyota HiAce azuis e brancas que "fazem as vezes" dos táxis, famosas pelo estilo de condução "Kamikase".
3- Antiga Feitoria a cerca de 18 km da cidade para onde os escravos eram enviados antes de serem vendidos na América.
4- Espaço exterior normalmente circular ou octogonal onde se fazem as refeições da família)
Sunday, June 04, 2006
Saturday, February 25, 2006
arquitectura - "contaminações"
Este post tem como motivação uma fotografia que tirei recentemente (2005) a um "grafiti" inscrito num edifício "meu", obra concluída em 1995 após o primeiro prémio de um Concurso Público lançado em 1991 para esse efeito que conquistei em parceria com a Arq. Daniela Antunes.
É um pretexto para abordar a possível comunhão entre a arquitectura e outros "ofícios" ou mesmo para questionar a capacidade que as obras têm de "aguentar" intervenções fortuitas, gratuitas ou imprevistas, próprias da passagem do tempo por elas.
Contou também, na fase do Projecto de Execução, com a valiosa experiência e aplicação do meu colega, arquitecto e amigo, Paulo Albuquerque.
As Residências de Estudantes do Instituto Politécnico de Coimbra [I.P.C.] - R1/R2 são um conjunto de dois edifícios semelhantes com uma capacidade total de 200 camas e localizam-se em S. Martinho do Bispo (Bencanta) ao lado da Escola Agrária.
Têm como “vizinho” mais relevante, do lado Sul, o cemitério local. Entre os dois existe uma estreita Ladeira (Ladeira do Saramago) onde estão ancorados os túneis em ponte que supostamente serviriam como acesso alternativo ao conjunto dos edifícios a partir das suas coberturas (que foram pensadas como espaços semipúblicos), o que na prática nunca funcionou por razões de gestão interna do Instituto que me ultrapassam.
Essas pontes em túnel, transformaram-se, por isso, (sobretudo após a "mutilação que lhes fosse feita na sequência de uma irresponsável imposição da Câmara Municipal de Coimbra [C.M.C.] ao I.P.C.)* numas entradas para "lado nenhum", ou, quiçá, para o "desconhecido", como o são sempre, para mim, as entradas para os cemitérios.
*A C.M.C., na altura não compreendeu que os limites do terreno foram "encurtados" pelo projecto, cedendo, desse modo uma faixa de cerca de 50 cm ao espaço público, para que os topos dos referidos "túneis em ponte" pudessem ficar salientes da vedação que conforma o lote (também imposta).
Para repor a “sua legalidade" a (C.M.C.) mandou amputar esses 50 cm às pontes já construídas, aniquilando (entre outras coisas) a lógica da modulação das chapas galvanizadas do revestimento...
Agora isso pouco importa. Não adianta "choramingar".
Ficou assim, e ponto final.
Este conjunto de edifícios está presentemente na fase final da sua primeira operação de conservação e recuperação. Algo pouco comum e que é de registar com muito agrado, num país onde normalmente só se cabimentam verbas para as obras, caindo depois no esquecimento a evidência de que as construções, (tal como as pessoas e os animais), "respiram", envelhecem, adoecem e carecem de "cuidados médicos" regulares.
No caso dos edifícios, uma pintura de dez em dez anos e uns "pensos rápidos" são o q.b. para manterem a sua "qualidade de vida", a sua dignidade, e também a dignidade de quem os promove.
Além dos arquitectos já nomeados que comigo tornaram possível este projecto, contámos com a participação do artista plástico português - João Louro, hoje um valor relevante interventivo e reconhecido internacionalmente no mundo das Artes Plásticas. Na altura (91) também a construir tranquilamente as bases para a sua carreira).
A participação ou a "contaminação" dos projectos que coordeno, por pessoas de diversas áreas (fora circuito fechado das relações ; cliente/arquitectos/engenheiros têm sido um processo corrente na minha pratica profissional.
Entendo que esses olhares, mais isentos e menos "viciados", são uma mais valia para o resultado final do trabalho, do mesmo modo que o são as nossas intimas experiências de vida, enriquecidas por tudo aquilo que vemos, lemos ou pelo que "passamos".
O caso particular da participação de artistas plásticos depende em grande parte dos desejos e objectivos para cada projecto.
Não é uma regra.
Contudo, quando acontece (como neste caso ou nas Residências do I.P.C. mais recentes - as R3, cor de laranja, no vale das Flores, no Pólo II da Universidade) a participação deste membro da equipa (o artista plástico) é entendida de um modo integrado, i.e.: não se resume à reserva de uma ou mais paredes para "pendurar uns quadros", mas a uma participação contínua e presente em todas as fases decisivas da concepção.
As obras de arte que ficam nos edifícios encontram, por isso, o seu espaço natural e a sua motivação muito antes de serem concretizadas.
Nestas residências, para além de uma participação critica e activa em aspectos que tinham a ver com a expressão plástica dos edifícios (equilíbrio de cores, por ex.) João Louro concebeu 2 painéis diferentes - um para cada residência), em tela, com o comprimento total das salas de convívio, onde através de uma "reciclagem" de figuras de banda desenhada muito características e reconhecíveis da época "pop" transmite aos jovens habitantes destas casas, de um modo inteligente e divertido, artigos fundamentais da Constituição Portuguesa - textos pouco conhecidos (a Constituição não será propriamente o livro de cabeceira preferido de um (a) jovem de 20 anos...) mas de conteúdo muito adequado, sobretudo se comunicado de um modo mais criativo e apelativo).
Também aqui cabe uma referência ao Politécnico de Coimbra, que tem vindo a acolher com entusiasmo esta fusão entre artes (voltámos a consegui-lo nas R3), "encaixando" com muito esforço, nas escassas verbas que o Ministério da Educação disponibiliza para a construção destes equipamentos, os custos inerentes à concepção, realização e montagem dessas obras.
fotografia da autoria de Fernando e Sérgio Guerra
As R3, compostas por 5 edifícios, têm um conjunto de 25 painéis diferentes em chapa de alumínio serigrafada (5 por residência) também de João louro, inspirados nos grafittis de New York.
fotografia da autoria de Fernando e Sérgio Guerra
Esta prática, que se vem consolidando, começa também a ser uma espécie de "imagem de marca" da instituição que só a valoriza culturalmente.
Voltando ao mote deste post:
Quando me deparei, numa ocasional passagem pelas R1/R2 (de vez em quando visito os meus "filhos de betão") com este curioso e simultaneamente assustador (dado o contexto/proximidade ao cemitério, fiquei agradavelmente surpreendido.
Afinal, tantos anos depois, a obra ainda "mexia" e suportava intervenções que, na minha opinião em nada a prejudicam. Este trabalho espontâneo de um autor desconhecido integrou-se plenamente no suporte cúbico em chapa, virado para o cemitério, e retirou dessa forma e desse contexto o melhor partido.
Tudo farei para a sua preservação junto do meu cliente. O meu maior receio é que, mais uma vez, a C.M.C. "reponha a legalidade" com um balde de tinta branca texturada e um rolo barato comprado no AKI.
É um pretexto para abordar a possível comunhão entre a arquitectura e outros "ofícios" ou mesmo para questionar a capacidade que as obras têm de "aguentar" intervenções fortuitas, gratuitas ou imprevistas, próprias da passagem do tempo por elas.
Contou também, na fase do Projecto de Execução, com a valiosa experiência e aplicação do meu colega, arquitecto e amigo, Paulo Albuquerque.
As Residências de Estudantes do Instituto Politécnico de Coimbra [I.P.C.] - R1/R2 são um conjunto de dois edifícios semelhantes com uma capacidade total de 200 camas e localizam-se em S. Martinho do Bispo (Bencanta) ao lado da Escola Agrária.
Têm como “vizinho” mais relevante, do lado Sul, o cemitério local. Entre os dois existe uma estreita Ladeira (Ladeira do Saramago) onde estão ancorados os túneis em ponte que supostamente serviriam como acesso alternativo ao conjunto dos edifícios a partir das suas coberturas (que foram pensadas como espaços semipúblicos), o que na prática nunca funcionou por razões de gestão interna do Instituto que me ultrapassam.
Essas pontes em túnel, transformaram-se, por isso, (sobretudo após a "mutilação que lhes fosse feita na sequência de uma irresponsável imposição da Câmara Municipal de Coimbra [C.M.C.] ao I.P.C.)* numas entradas para "lado nenhum", ou, quiçá, para o "desconhecido", como o são sempre, para mim, as entradas para os cemitérios.
*A C.M.C., na altura não compreendeu que os limites do terreno foram "encurtados" pelo projecto, cedendo, desse modo uma faixa de cerca de 50 cm ao espaço público, para que os topos dos referidos "túneis em ponte" pudessem ficar salientes da vedação que conforma o lote (também imposta).
Para repor a “sua legalidade" a (C.M.C.) mandou amputar esses 50 cm às pontes já construídas, aniquilando (entre outras coisas) a lógica da modulação das chapas galvanizadas do revestimento...
Agora isso pouco importa. Não adianta "choramingar".
Ficou assim, e ponto final.
Este conjunto de edifícios está presentemente na fase final da sua primeira operação de conservação e recuperação. Algo pouco comum e que é de registar com muito agrado, num país onde normalmente só se cabimentam verbas para as obras, caindo depois no esquecimento a evidência de que as construções, (tal como as pessoas e os animais), "respiram", envelhecem, adoecem e carecem de "cuidados médicos" regulares.
No caso dos edifícios, uma pintura de dez em dez anos e uns "pensos rápidos" são o q.b. para manterem a sua "qualidade de vida", a sua dignidade, e também a dignidade de quem os promove.
Além dos arquitectos já nomeados que comigo tornaram possível este projecto, contámos com a participação do artista plástico português - João Louro, hoje um valor relevante interventivo e reconhecido internacionalmente no mundo das Artes Plásticas. Na altura (91) também a construir tranquilamente as bases para a sua carreira).
A participação ou a "contaminação" dos projectos que coordeno, por pessoas de diversas áreas (fora circuito fechado das relações ; cliente/arquitectos/engenheiros têm sido um processo corrente na minha pratica profissional.
Entendo que esses olhares, mais isentos e menos "viciados", são uma mais valia para o resultado final do trabalho, do mesmo modo que o são as nossas intimas experiências de vida, enriquecidas por tudo aquilo que vemos, lemos ou pelo que "passamos".
O caso particular da participação de artistas plásticos depende em grande parte dos desejos e objectivos para cada projecto.
Não é uma regra.
Contudo, quando acontece (como neste caso ou nas Residências do I.P.C. mais recentes - as R3, cor de laranja, no vale das Flores, no Pólo II da Universidade) a participação deste membro da equipa (o artista plástico) é entendida de um modo integrado, i.e.: não se resume à reserva de uma ou mais paredes para "pendurar uns quadros", mas a uma participação contínua e presente em todas as fases decisivas da concepção.
As obras de arte que ficam nos edifícios encontram, por isso, o seu espaço natural e a sua motivação muito antes de serem concretizadas.
Nestas residências, para além de uma participação critica e activa em aspectos que tinham a ver com a expressão plástica dos edifícios (equilíbrio de cores, por ex.) João Louro concebeu 2 painéis diferentes - um para cada residência), em tela, com o comprimento total das salas de convívio, onde através de uma "reciclagem" de figuras de banda desenhada muito características e reconhecíveis da época "pop" transmite aos jovens habitantes destas casas, de um modo inteligente e divertido, artigos fundamentais da Constituição Portuguesa - textos pouco conhecidos (a Constituição não será propriamente o livro de cabeceira preferido de um (a) jovem de 20 anos...) mas de conteúdo muito adequado, sobretudo se comunicado de um modo mais criativo e apelativo).
Também aqui cabe uma referência ao Politécnico de Coimbra, que tem vindo a acolher com entusiasmo esta fusão entre artes (voltámos a consegui-lo nas R3), "encaixando" com muito esforço, nas escassas verbas que o Ministério da Educação disponibiliza para a construção destes equipamentos, os custos inerentes à concepção, realização e montagem dessas obras.
fotografia da autoria de Fernando e Sérgio Guerra
As R3, compostas por 5 edifícios, têm um conjunto de 25 painéis diferentes em chapa de alumínio serigrafada (5 por residência) também de João louro, inspirados nos grafittis de New York.
fotografia da autoria de Fernando e Sérgio Guerra
Esta prática, que se vem consolidando, começa também a ser uma espécie de "imagem de marca" da instituição que só a valoriza culturalmente.
Voltando ao mote deste post:
Quando me deparei, numa ocasional passagem pelas R1/R2 (de vez em quando visito os meus "filhos de betão") com este curioso e simultaneamente assustador (dado o contexto/proximidade ao cemitério, fiquei agradavelmente surpreendido.
Afinal, tantos anos depois, a obra ainda "mexia" e suportava intervenções que, na minha opinião em nada a prejudicam. Este trabalho espontâneo de um autor desconhecido integrou-se plenamente no suporte cúbico em chapa, virado para o cemitério, e retirou dessa forma e desse contexto o melhor partido.
Tudo farei para a sua preservação junto do meu cliente. O meu maior receio é que, mais uma vez, a C.M.C. "reponha a legalidade" com um balde de tinta branca texturada e um rolo barato comprado no AKI.
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