(Fotografia: Gonçalo Afonso Dias)
Joaquim Manuel Ferreira, 44 anos apenas... Mais novo do que eu, mas velho, moribundo, esfomeado. Ex-guerrilheiro, com um filho que passa fome como ele.
Encontrei-o na praia do Lobito junto ao Hotel Términus onde estava hospedado.
Ao longe, numa praia absolutamente deserta, a silhueta de um homem "perdido" chamou-me à atenção. Fui ter com ele. Estava a ler... um texto biblíco...desidratado, pele e osso nada me pediu. Conversei com ele, dei-lhe atenção. Chamou-me "paizinho" um tratamento comum em relação aos mais velhos. Perguntei pela família, pelo trabalho que não tem...
a vida dele foi a guerra e como muitos milhares, a paz deixou-os no desemprego, na miséria. O Governo esqueceu-os, esqueceu-se das pensões a que tinham direito.
Os seus olhos amarelos com laivos vermelhos contam o desespero mas também a entrega, a resignação ao álcool...
Ajudei-o com 20 dólares para poder comer sabendo de antemão que talvez não os usasse para isso. Mas, na dúvida, prefiro assim.
Quando lhe entreguei o dinheiro, depois de uma conversa grande sobre a morte que o ameaçava, caso continuasse a desistir de viver , chorou como uma criança... Veio-me também uma lágrima ao olho, confesso.
É esta Angola de profundos contrastes de gente muito rica e de muita gente muito pobre que urge mudar. Ainda acredito que, um dia, este homem encontre um caminho que não o do suicídio lento e progressivo que agora percorre.
Lobito, Angola, Julho 2012
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