Tuesday, December 20, 2011

AINDA E SEMPRE, A CESÁRIA - HOMENAGENS PÓSTUMAS, PARA QUÊ?



Cesária Évora partiu mas não se "calou" porque tem um povo simples, humilde, honesto, que a lembrará sempre e celebrará as suas Mornas em qualquer casa, em qualquer bairro, em qualquer país.
Multiplicam-se agora, como é da "praxe" nestas situações, as Homenagens Póstumas.
Umas verdadeiras (as dos amigos, dos admiradores, do povo que ela cantou).


As outras, as mais mediáticas, hipócritas, circunstanciais, previsíveis, vazias e até ofensivas.
Que "mal que cheira", por isso, a homenagem que hoje lhe faz a Câmara municipal de Lisboa.
Como soam a falso as declarações (formatadas) de Cavaco fingindo-se sentido com a morte dessa mulher : "Cavaco Silva lamenta perda de "símbolo eloquente" de Cabo Verde"...

A Cesária levou com ela uma profunda mágoa por Portugal.
Aqui, não foi acarinhada, não foi respeitada, como não é respeitada a sua gente.
É conhecida a indignação da Cesária no que toca a Portugal. Não aos portugueses, acredito, mas sim aos "senhores"do poder, da comunicação.
Cesária quando vinha a Portugal recusava-se a falar português. Falava o seu dialecto Crioulo. "Se quisessem" que arranjassem um tradutor...

Portugal não acarinhou a Cesária. Em Paris encontrou uma segunda pátria. Foi aí que conseguiu levar a sua magia ao Mundo.

A "Diva dos pés descalços" estava-se "nas tintas" para este Portugal mesquinho, pequenino, amestrado.

Os portugueses não conhecem a "alma" do povo de Cabo Verde. Conhecem-nos das "obras", onde eram explorados até à invasão dos "escravos de Leste e, só aí reconhecem as suas qualidades, porque convém.

Eu fui criado, em grande parte, por uma "Cesária". Uma "mulher de armas", uma Cabo-Verdiana, ainda viva, chamada Alice.
Alice, nos momentos mais complicados da guerrilha em Angola, nomeadamente no Lobito, foi, para mim e para os meus irmãos, uma segunda Mãe.
No tempo das filas para comprar uns míseros alimentos (quando havia) e imperava a "regra" de "pôr a pedra" para guardar o lugar nessas intermináveis filas, a Alice defendia o seu posto, lutava (corpo-a-corpo) com os homens e ganhava!

Devo muito à Alice e ao Borges (o seu marido). Com o Borges guiei pela primeira vez, devia ter uns oito anos. Sentou-me ao seu colo e, enquanto controlava os pedais do Jeep Land Rover, deixou-me "fingir" que dominava o volante. Coisas que uma criança nunca esquece.

A Alice está prestes a completar 63 anos.
O Borges está muito doente.
E é neles que eu penso quando celebro a Cesária.
E a Cesária celebra-se ouvindo a sua voz.
Sentindo o seu "sentir".
O resto, tudo aquilo que agora se diz, por conveniência, é apenas isso - restos.
Cesária é grande. É do tamanho de Cabo Verde!
O "Costa", o "Cavaco" e outros ignorantes continuem a ouvir o Quim Barreiros, com todo o respeito que ele (o Quim) me merece

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