Friday, April 10, 2009

Monólogo de uma senhora


Foto: Gad. Angola, 2008


"A Morte me livrou da contingência
A que a matéria bruta não escapa,
De ver meu rosto, etapa por etapa,
Murcho, mirrado, coriáceo, ausência.

O Anjo iníquo da degenerescência
Que azeda o vinho, a alma e a garapa,
E cobre o mundo com a negra capa,
Povoa a terra toda de excrescênclia.

Quando da vida me arrancou chorosa,
Deteve o bisturi da ruga odiosa,
E o triunfo rude da madrasta Hstória.

Liberta dessa carne miserável
Fico guardada bela, inalterável,
Nos Arcanos insondáveis da Memória."

Augusto dos Anjos in "Jornal da Poesia"

2 comments:

Anonymous said...

Linda, linda e linda.

Gonçalo Afonso Dias said...

Obrigado, Obrigado e Obrigado!