Distúrbios mentais poderão vir a atingir um em cada cinco portugueses nos próximos anos
00h30m
HELENA TEIXEIRA DA SILVA
No início, o mau feitio era desculpado pela hérnia. Depois, pela impaciência da baixa médica. António, 51 anos, não tem mau feitio; é bipolar. Mas o diagnóstico não basta para que lhe seja atribuída a reforma por invalidez.
A doença bipolar virou do avesso a vida de Emília. A mulher que ganha a vida a fazer limpeza em casas particulares, no Porto, começou a estudar à noite, a frequentar cursos de auto-conhecimento, a aprender a pesquisar na Internet, tudo para entender a aguda mudança de comportamento de António, o homem com quem casou há mais de 30 anos e que recusa a ideia de poder estar doente. "Cheguei a pensar que eu é que tinha a doença".
"O doente nunca se apercebe da doença", confirma, ao JN, José Jara, director de Serviço de Psiquiatria do Hospital Júlio de Matos, em Lisboa. "A doença começa a manifestar-se com comportamentos e formas de pensar diferentes, a pessoa isola-se, desliga-se do mundo exterior, começa a não ser capaz de desempenhar a sua actividade profissional. Esse retraimento é a constatação da mudança da sua maneira de ser e é percebida por quem está à sua volta. Mas o doente não se apercebe", explica [Ver entrevista].
Emília percebeu as mudanças - "talvez ainda antes dos médicos", diz -, mas isso, em vez de representar uma vantagem, fá-la sentir-se "sozinha, cansada, abandonada pelo Estado português", que ameaça processar. "Quero justiça. O Estado tem que me pagar os danos morais por aquilo que estou a passar. Deixei de ter vida própria, tenho uma depressão reactiva provocada pela doença do meu marido. Sou vítima".
Vítima porque a Segurança Social recusa conceder a reforma por invalidez ao marido. "O recurso foi negado outra vez". Terminou a baixa de que beneficiou durante três anos, e será obrigado a voltar ao trabalho. Isto, apesar de o relatório médico lhe atribuir uma depressão endógena.
Reforma para poupar dinheiro
"Em Portugal não há, efectivamente, grandes respostas para os doentes mentais", concorda José Jara. "A reforma da Psiquiatria, prevista no Plano Nacional de Saúde até 2010, visa apenas poupar dinheiro", critica.
"Houve uma política de desinstitucionalização*. A população residente nos hospitais psiquiátricos é baixíssima** e tenderá a diminuir. E há lista de espera. A situação é grave porque há doentes que carecem de protecção institucional em permanência".
Aparentemente, a solução portuguesa não podia ser pior: "Os doentes vivem fechados em casa, sem qualquer convívio ou qualidade de vida. E quando a família morre, como é?", pergunta o médico? Emília vai mais longe: "Se eu me divorciar, quem toma conta do meu marido?". E conclui: "Só não me divorcio para não sobrecarregar os meus filhos. Eles não podem divorciar-se do pai, não é?"
Fonte: JN
[GAD] A peça que o JN hoje publica sobre esta doença que afecta milhões de pessoas em todo o Mundo (para além de conter erros* e de inventar palavras**) foi, quanto a mim mal estruturada, falhando o objectivo que se intui no título (sensibilizar o comum dos cidadãos para esta doença tão mal "tratada por todos, incluindo o Estado" acabando por se fixar na já "doentia" politiquice pré-eleitoral.
Não sou, como sabem, médico-de-família, psicólogo, nem tão pouco psiquiatra . Sou apenas sensível ao sofrimento dos outros - (hipersensível) porventura.
A Bipolaridade é uma doença do foro psiquiátrico de difícil diagnóstico (se algum dos meus leitores for especialista nesta matéria peço que me corrija). Primeiro porque o doente (não a vitima @) só recorre (não é verdade que nunca recorre) ao médico quando está num contexto familiar propicio e se apercebe, lentamente, por si, da sua condição...
Por outro lado, essa doença faz parte de um conjunto de outras doenças (Depressão Grave, Fobia Social, Distimia ) com sintomas muito semelhantes o que faz com que o diagnóstico seja mais exigente e demorado.
Os estados depressivos são, de facto, uma constante em quase todos os casos mas não se pode confundir esse lugar-comum chamado "mau-feitio" com um estado depressivo ou ainda pior com uma doença mental... corríamos o risco de, muito em breve, com as noticias (da crise) que nos entram constantemente pelos ouvidos, estarmos todos internados...
O JN prestou um Mau Serviço às pessoas que sofrem da Doença Bipolar e uma péssima
informação a todos aqueles que convivem com esses doentes.
Doente, doente mesmo, está o jornalismo em Portugal.
*baixíssima
**desinstitucionalização (o quê?!...)
vitima @) ; quanto a mim não há expressão pior para alguém que sofra de uma doença.
Sentir-se uma vítima é "meio-caminho-andado" para uma reabilitação lenta e exclusivamente dependente do médico e da medicação.
As pessoas têm nestes casos ( as doenças "invisíveis ) como noutros mais correntes, um papel fundamental, diria mesmo heróico, para a sua própria recuperação. Vitimizar-se é "sentar-se sobre o amor-próprio", não querer usar as reservas de força e de ânimo que todos temos bem guardadas num local que desconhecemos. Eu nasci asmático; tive o meu primeiro ataque sério com 9 meses... aos 4 anos , (1960) em Angola, a minha mãe pôs-me na natação onde já estavam os meus dois irmãos mais velhos. a instrutora era uma senhora japonesa "Miss Fumiê" da qual nunca me hei-de esquecer; não porque me ensinou a nadar mas porque sempre que eu começava um ataque de asma dentro de água ela dizia-me para sair, mas não era para ir para casa... como um "coitadinho". Punha-me a fazer exercícios respiratórios para surpresa dos meus colegas e pouco depois ... Agua!. Aos 11 anos (por volta disso...) fui Campeão Nacional na República Popular de Angola na categoria de Infantis, estilos de 100 metros Costas e de 100 metros Bruços. A concorrência, na altura, era escassa e os tempos muito fracos mas o meu Ego agradeceu sempre, em cada vitória contra o "coitadinho"...
Devo-o à minha mãe que desde pequeno me tratou como tratou os meus irmãos. E devo muito também a pessoas esclarecidas como a citada japonesa a quem perdi o rumo, a "Miss Fumiê".
No comments:
Post a Comment