Thursday, March 15, 2012

No Hospital



Há, porventura, poucos lugares onde as palavra "Esperança" e "Espera" tenham um significado tão profundo como nos hospitais.
Quem está internado espera ficar melhor - espera que os médicos lhe devolvam a vida que está a perder. Espera que o "senhor da cama do lado" sobreviva, espera sobretudo pela hora da visita.
Os outros esperam também, com angústia, por notícias dos seus ente-queridos.
Os médicos, os enfermeiros e os auxiliares também esperam, muito.
Apenas a morte não espera. (GAD. 03-2012)






"No Hospital". Fotografias: Gonçalo Afonso Dias
Fevereiro, 2010



Poema de Antonio Miranda

Já passaram por aqui
em desfile
médicos, enfermeiras, técnicos,
nutricionistas, fisioterapeutas,
pessoal da limpeza, eletricistas.
Só faltou a turma do pagodão da Aruc
e do street dance porque não estava na hora deles.
Até um palhaço errou de porta e apareceu.
Ah, e a senhora da Pastoral.
Todos sorrindo como num parque de diversões.

Fizeram as mesmas perguntas, as mesmas anotações,
tiraram sangue, injetaram soro,
me viram por instrumentos.
Já disse o meu nome dez vezes.
Um enfermeiro queria chupar o dedão do meu pé.
A comida sem sal, sem sol.
O médico mostrou o meu pênis para seus alunos.
Olharam no vídeo.
Ficaram satisfeitos, tiraram fotos
e tomaram notas nos cadernos e laptops. Um sucesso!

Meteram uma sonda pelo anus
e aplaudiram emocionados,
as imagens em tempo real
e um pouco de sangue coroou a aula-show.
Faltaram apenas os autógrafos.
Lavaram as mãos com álcool gel
e saíram em fila mais sábios do que nunca.

Evitei fazer caretas.
O médico mostrara que os procedimentos funcionam
e logo
me abandonaram
no escuro do quarto

e me deram uma pastilha para a hipertensão.
Relaxei e dormi.
Diante de mim as pedras
de minha vesícula
num vidro
e nenhum sonho.
Não dou o nome do tranquilizante
porque esta paz é intransferível.
Boa noite.

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