Monday, January 14, 2013

Ilustração - Poesia de Joaquim Monteiro - Não sei Dizer

 
 
Ilustração: Gonçalo Afonso Dias, Janeiro 2013


A sensualidade da poesia de JOAQUIM MONTEIRO, dita por José Proença Carvalho

POESIA com CHÁ - 8 meses/ 8 novos poetas

(...) Associo-me com algum "atrevimento" mas absoluta liberdade a este evento procurando interpretar através do desenho - com ilustrações espontâneas e despretensiosas - o meu sentir em cada um deles.
Tive o privilégio de assistir ao último ensaio onde, a par da voz profunda e melodiosa do José Proença de Carvalho me encantei com a sonoridade exótica de um belíssimo instrumento de origem indiana (Sítar) tocado magistralmente por Henrique Areias (que também dá vida à flauta), com os vocalizos de Anali e ainda o acompanhamento ao piano do incontornável e omnipresente (!) Pedro de Faro.

Aí, enquanto me deleitava com cada poema dito e com cada detalhe e afinação próprios de um ensaio, surgiu-me a vontade de desenhar essas emoções.
Despretensiosamente, porque essas minhas interpretações em nada retiram valor absoluto aos poemas, ao poeta, aos músicos ou ao José Proença - apenas os querem complementar com uma expressão pessoal e relativamente abstracta.

A ideia subjacente a este trabalho (ainda incompleto) é , de certo modo, uma impressão intuitiva, quase imediata e o menos "formatada" possível da leitura de cada um dos 14 poemas que amanhã nos vão encher a alma.

Tal como a poesia, esses desenhos convidam, provocam, a descoberta.

A ordem pela qual os fiz não é a ordem pela qual serão ditos.
A prioridade aqui foi os "sentires".

Um desejo apenas - que, de algum modo, estes desenhos que irei aqui publicar digam alguma coisa, por pequena que seja dos poemas em que se inspiraram.

Espero que gostem. Eu diverti-me (e estou a divertir-me) muito! (...)


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JÁ NÃO SEI DIZER

NÃO SEI DIZER

Já não sei dizer amor; só desamor
Caiu em mim a noite que não dorme
O tecido da tristeza veste-me
A fina flor da lua, transbordou
E eu não sei recolher nas minhas mãos
Convexas, o limite da luz subjacente.

Estou só neste mar branco,
Nesta ausência de lençóis
Amarrotados de sorrisos,
De gargalhadas invertidas, no delírio
Em que se não sabe, a que horas
Parte o combóio do sono.

Os meus olhos estão baços
E as minhas mãos secas de frutos.
Já não me carregas os ombros
E no peito sinto uma leveza
De extremo abandono.

Da minha boca já não nascem
Borboletas que poisavam em teus seios
Já não saem labaredas, que,
Incendiavam o teu ventre de gazela.

As palavras são agora centelhas
Duma tristeza velada
Que só se dá conta, quem colocar
Pássaros azuis à janela.

Deixei de saber contar pelos dedos
Os dias da tua ausência.
Agora só servem para escrever e harpejar
No piano da indiferença, estes
Que adoravam poetar na tua pele.
Dei as lágrimas ao nocturno silêncio
Ao oceano devolvi-lhe o sal do choro.
Não quero mais suas ilusórias figuras
Líquidos cânticos e afagos.
Parto num veleiro sem pavilhão
Em demanda das terras de Preste João

(Joaquim Monteiro)






Notas:

JOAQUIM MONTEIRO

Nasceu em Paus, pequena aldeia do distrito de Viseu. Veio para Lisboa com 2 anos de idade e, aí tem permanecido até aos dias de hoje.
Fez uma incursão pelo Seminário menor de Beja. Da vocação falhada, (ou mudada) ficou-lhe o gosto pelo canto e pela literatura, vertentes essas que o têm acompanhado ao longo dos anos.

Foram publicados no tempo da juventude (68 a 70) vários poemas, nos extintos jornais Diário de Lisboa e República, nos suplementos juvenis, onde conheceu nomes amigos como, Joaquim Pessoa, Gastão Cruz e outros.
Volta agora a escrever, porque tem tempo e, a carne e a alma assim o ditam.
Feliz ficará, se esses escritos servirem para o deleite de alguns.
Publicou… (na tua boca) livro de poesia da Editora Universos e em algumas antologias.
Em preparação novo livro de poemas… (ainda sem titulo)

JOSÉ PROENÇA CARVALHO
Relações públicas, diz poesia regularmente em tertúlias e lançamentos de livros.

Integrou os grupos de jograis "Oeiras Verde" e "Verde em Sol & Lua". Fez parte do projeto de poesia "Teklas kom Sentido(s)".

Quando a poesia começou a entranhar-se na sua pele, começar a dizê-la foi a forma que encontrou para melhor a sentir e interpretar.
A experiência acumulada (teatro, canto, rádio) contribui para melhor dizer as palavras escritas, que jorram dos sentimentos mais profundos e das emoções de quem as escreveu.

www.luchapa.pt

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