Tuesday, December 06, 2011

A polémica sobre a Igreja de S. Francisco Xavier no Restelo - Pretensão e Mediocridade na Crítica de Arquitectura. (With English Translation)





"A arquitetura, boa ou má, representa sempre um momento de procura e esperança profissional quando um arquiteto a elabora. E isso, a meu ver, deve ser respeitado. Criticar um colega é para mim pretensão e mediocridade."
(Oscar Niemeyer)

Pretensão e Mediocridade. A citação de Oscar Niemeyer, sobre a Crítica de Arquitectura,  pareceu-me uma  introdução adequada à finalidade deste texto a propósito da recentemente inaugurada Igreja de S. Francisco Xavier, no Restelo,  projecto da autoria do arquitecto Troufa Real.

Em Portugal Crítica é sinónimo de Maledicência. Na sociedade, na política, na arte e particularmente na Arquitectura.
Não existe uma tradição de crítica séria, fundamentada e objectiva. Por outro lado, a abordagem aos projectos e/ou às obras de maior impacto (quer pela singularidade dos programa, quer pela escala dos edifícios) é, à partida, uma abordagem inquinada por preconceitos, pelos "amores" ou "ódios" aos seus autores e focada essencialmente na expressão plástica das obras (vulgo aspecto exterior).
Portanto, é perversa, vazia, extemporânea. Em suma, inútil.

A polémica é saudável quando não é tardia. A crítica é positiva quando é frontal e construtiva.
Os grandes projectos deveriam envolver as populações, não no sentido de limitar ou condicionar a liberdade criativa dos seus autores, mas num sentido de participação cívica, de discussão pública. Seria com certeza uma mais valia para os arquitectos e para as suas obras.

A polémica que frequentemente se gera (e se alimenta nos media) em torno de uma ideia ou de uma obra de maior impacto não é acompanhada por qualquer iniciativa pedagógica (isenta) da Ordem dos Arquitectos (O-A), instituição que estatutariamente "representa a profissão do arquitecto e regula o respectivo exercício em Portugal".
As poucas iniciativas de que me recordo foram infelizes e serviram basicamente interesses de lobbys mais ou menos organizados (Os casos dos Contentores do Porto de Lisboa ou do Novo Museu dos Coches, por exº.). Acresce que, a (O-A) tem vindo, ao longo dos anos, e independentemente de quem a dirige, a discriminar negativamente os arquitectos. Há uma pequena elite de arquitectos "protegidos" enquanto muitos outros (Troufa Real é disso um paradigma) são ignorados, silenciados, proscritos.


Img -1 (Fotomontagem com a torre que ficou por construir)

Quanto à  Nova Igreja: recuso-me, evidentemente, a alinhar no plano da crítica sem elevação, normalmente limitada a questões de gosto, simplistas e esquemáticas (o "Gosto" e o "Não Gosto"...). Não vou, também, fazer aqui uma dissertação teórica sobre  Arquitectura Religiosa Contemporânea, as suas motivações e os seus simbolismos. É um tema apaixonante, matéria largamente estudada e suficientemente documentada.

Não sou religioso mas tenho "Fé". As igrejas sempre me apaixonaram, muito antes de ser arquitecto. Mais do que em qualquer outro lugar é nas igrejas que encontro o verdadeiro significado de Espaço, de Luz e de Espiritualidade (como dimensão da condição humana e não bem exclusivo da Igreja, enquanto instituição ou de uma Religião em concreto). Nesse sentido, entendo que a "Igreja Caravela" pensada e desenhada por Troufa Real é exemplar e reflecte plenamente essa Dimensão Espiritual da arquitectura.



Simpatizo com o "objecto" enquanto forma de expressão surrealista (tenho pena que a torre não tenha sido construída), plena de simbolismo, artístico, autêntico, pessoal e coerente. As polémicas têm um prazo de validade. As grandes obras não. 
A polémica é vulgarmente suscitada pela "novidade". A memória é curta. As Amoreiras, o CCB, a Casa da Música,  foram, no seu tempo, polémicas. Hoje, não sendo consensuais (e ainda bem), estão assimiladas pelas cidades e pela generalidade dos cidadãos.

Fora de Portugal, não faltam também, exemplos de obras que revolucionaram cidades e mentalidades e que, pela sua originalidade, fazem já parte da Memória Colectiva e da História da Arquitectura Contemporânea.

















The controversy over the S. Francisco Xavier Church in Restelo - Pretension and mediocrity on Architecture Criticism


"Architecture, good or bad, always represents a moment of search and professional hope when created by an architect. And that, in my view, should be respected. Criticizing a colleague is, in my opinion, pretension and mediocrity"

(Oscar Niemeyer)

Pretension and mediocrity. Oscar Niemeyer's citation, about Arquitecture critique, seemed like an adequate introduction to the finality of this text about the recently opened S. Francisco Xavier Church, in Restelo, project by the architect Troufa Real.

In Portugal, Criticism is a synonim of calumnia. In society, politics, arts and mostly Arquitecture.
There is no tradition of a serious, justified and objective criticism. On the other hand, the approach to projects and / or the works of greatest impact (either by the singularity of the program, either by the scale of the buildings) is, in principle, an approach vitiated by prejudice, by "love" or "hate" their authors and mainly focused on the works of artistic expression.
Therefore, it is perverse, empty, out of time. In short, useless.

Controversy is healthy when it isn't late. The criticism is positive when it is frontal and constructive.

Major projects should involve people, not in a sense of limiting or restricting the creative freedom of their authors, but a sense of civic participation, public discussion. It would certainly be an asset to the architects and their works.



The controversy that often generates (and feeds the media) around an idea or a work of greater impact is not accompanied by any educational initiative (free) of the Order of Architects (O-A), an institution that "represents the profession of the architect and regulates the practice in Portugal."



The few initiatives that I remember were unfortunate and served primarily the interests of lobbies more or less organized (The cases of the containers from the Port of Lisbon or the New Museum of Carriages, for example). Moreover, the (O-A) has, over the years, and regardless of who directs it, to discriminate negatively architects. There is a small elite of architects "protected" while many others (Troufa Real it is a paradigm) are ignored, silenced, proscribed.





About the New Church: I obviously refuse, to endorse the plan of criticism without elevation, usually limited to a simplistic and esquematic sense of taste (The “Like” and “Dislike”...). I am not going to make a theoric dissertation about Contemporary Religious Architecture, it's motivations and symbolisms. It is an enthralling subject, widely studied and sufficiently documented.





I am not religious but I have “Faith”. I have always been passionate about churches, long before I was an architect. More than anywhere else, churches are where I find the true meaning of space, light and sprituality (as a dimension of the human condition and not exclusive good of the Church as an institution or any specific religion). In that sense, I understand that the “Caravel Church”, thought and designed by Troufa Real is exemplary and fully reflects that Spiritual Dimension of architecture.

I simpathise with the “object” as a fom of surrealistic expression (It is a pity that the tower wasn't built), filled with simbolism, artistic, autenthic, personal and coherent.
Controversy is commonly raised by the “novelty”. The memory is short. The Amoreiras, the CCB, The Casa da Música, were, in their time, controversial. Today, even (thankfully) not being consensual, are assimilated by the cities and majority of citizens.

Outside of Portugal, there are a lot of examples of works that revolutionalized cities and mentalities and that, by their originality, are already a part of the Collective Memory and History of Contemporary Architecture.




img 1: (Photomontage with the tower)


img 2: (Bilbao Guggenheim Museum, Spain, Bilbao)


img 3: (Oscar Niemeyer Museum, Curitiba, Brasil)


img 4: (New Metrepolis, Amstardam, Holand)


img -5: (“Dancing House”, Plague, Czech Republic)




Gonçalo Afonso Dias (architect)


Translation: Tiago Afonso Dias

http://goncaload-artes.blogspot.com/2008/10/propsito-de-contentores-e-do-porto-de.html

7 comments:

jraulcaires said...

Concordo com o dito acerca da nossa crítica de arquitectura, e das polémicas. Não dou para esse festival, porque acho que é vazio. Mas, precisamente, porque acho que esses edifícios todos muito polémicos: as Amoreiras, o CCB, e, agora, por exemplo, a igreja do Troufa, não me despertam grande interesse. Aparecem de repente como objectos insólitos e as pessoas que habitam até subúrbios inenarráveis, com prédios mal plantados nos interstícios da rede viária, sem espaços públicos, sem sol, a pagar toda a vida a prestações coisas que não prestam para nada, e isso não as choca, ficam indignadas. Ou seja, muito barulho para nada. Para mim, que ainda não visitei a obra, a igreja do Troufa tem a relevância do "binóculo" do Ghery. Se posso achar piada ao Urinol do Duchanp, ou às latas de sopa do Warwhol, já não acho assim tanta piada a essas arquitecturas. Mas que haja pessoas a fazê-lo, isso já me é indiferente e até acho que é legítimo. Posso, eventualmente, estar a ser superficial, como já disse, não fui ainda ver a obra.

jraulcaires said...

Agora estou-me a lembrar do Manuel Graça dias que passava a vida a dizer aos alunos que a Arquitectura deve ser banal. É uma opinião respeitável, mas não passa de uma opinião. Cumprimentos.

jraulcaires said...

Ou outro exemplo: Gonçalo Byrne, Aires Mateus, Souto Moura, etc, fazem casinhas de luxo para um condomínio fechado, que, objectivamente é uma coisa nefasta, e a Ordem promove um concurso em que o prémio é um estágio orientado pelo Manuel Mateus.Já nem discuto a Ordem, o meu ponto de vista em relação às ordens neste país já foi exposto pelo Mariano Gago.

jraulcaires said...

Outra coisa é eu dizer que também gostava de fazer uma igreja, e, então, não faria assim. Mas não é por isso que vou andar para aí a cascar no Troufa, ainda que ele até como pessoa não me inspire simpatia nenhuma. Mais depressa ia para a Opus dei :).

jraulcaires said...

Aliás, o problema dessas questões, como já foi dito é que se centram na questão do gosto e não vão para além disso. O Taveira, que é macaco (mais uma pessoa com quem eu não simpatizo)deu-se até ao trabalho de compilar aquilo que ele designa por teoria do gosto. Eu, por exemplo, se pensar em toda a arte moderna, mexe muito mais comigo a arte abstracta do que a figurativa. Mas isso sou eu.não estou a dizer que as outras coisas não tenham valor.

Gonçalo Afonso Dias said...

Obrigado jraulcaires pela qualidade do teu comentário e pelas questões que ele suscita.
Por serem muito interessantes merecem também, da minha parte, uma resposta e um comentário mais aprofundado que farei em posta dedicada.
Um abraço.

jraulcaires said...

Obrigado.