Para além dos ícones comerciais que a celebrizaram são sobretudo as pessoas, de uma enorme diversidade sociocultural, que lhe dão vida, num vaivém estonteante muito característico de ruas e cidades mais cosmopolitas, onde as ruas e as praças são locais de celebração da vida.
Para um fotógrafo, Santa Catarina é um "Mundo",em constante metamorfose, sempre por descobrir.
Nesta minha recente "investida" por essa rua deparei-me, a certa altura, com um trio de homens já "maduros", sentados à beira de uma montra, a tocar viola e a cantar uma música com a sobrecarga de energia que uma garrafa de tinto lhes ia dando.
Desse trio "barulhento" um destacava-se, referenciando-os culturalmente, (sobretudo pela crista de cabelo com(gel)ado), à Cultura Punk.
Impelido pela curiosidade e pela oportunidade aproximei-me, como sempre faço, sem qualquer hesitação ou temor. A experiência ensinou-me que o "descaramento" me proporciona, (regra geral) uma abordagem natural e relativamente cúmplice.
Disparei a primeira vez a "meia-distância", mas suficiente para não lhes transmitir qualquer sentimento de repulsa.
O homem mais exuberante fez de imediato o gesto que eu esperava; apontou para a caixa da viola que estava no chão, aberta para "recolha de fundos".
Um aceno meu e o tradicional gesto de "OK!" selaram o pacto que, a partir daí me abriu as portas para uma conversa animada e, acima de tudo, para mais uma experiência humana e fotográfica enriquecedora.
Acerquei-me do grupo, sentei-me junto deles e saiu-me uma primeira pergunta: Então o que é que acham disto? O "isto" era, para eles, como é agora para toda a gente (com ou sem crista) uma referência óbvia à situação em que o País (sobre) vive.
_ Uma g'anda merda! Respondeu ele prontamente e, momentos depois apresentou-se como “Nelo Punk”.
_ Pois é... Uma g'anda merda!, assenti sem qualquer "favor".
Apresentações feitas (para além do Nelo Punk de 45 anos, ali estava o "A Guitarra", de 47 e o mais velho de todos - o Corrilho - que já conta 60 embora, quanto a mim, não pareça.
As pessoas iam passando. Algumas, ao ver tão insólito "quarteto", atrasavam ligeiramente o passo, seguindo de imediato os seus destinos.
Interroguei-me, várias vezes, sobre o que iria naquelas cabeças que por ali passavam.
Se em muitos casos era perceptível a costumeira repulsa, (fundada em preconceitos e/ou ignorância), por aqueles que assumem as suas diferenças e "gritam a sua revolta", noutros casos, senti que era eu, de "canhão" em punho, o motivo da curiosidade.
Entre nós a conversa fixou-se na música, tão própria e característica do "Punk Rock" - simples, com 3 ou 4 acordes, e com uma letra onde são explícitas, com um tom agressivo, ideias anarquistas, Niilistas e revolucionárias.
O tema denominava-se "Vitimas da Podridão", um original de uma banda punk brasileira: Os "Calibre 12".
Não resisti a tomar nota dessa música que acabou por dar o nome à série de fotografias que se seguirá:
"VÍTIMAS DA PODRIDÃO"
"Vivemos numa sociedade onde não temos direitos;
Apenas obrigações.
Enquanto crianças morremos de fome;
Sustentamos políticos ladrões;
Somos vítimas da podridão
porque vivemos na merda do sistema.
Queremos apenas liberdade;
O estado é o nosso maior problema.
Não damos o nosso voto a qualquer espécie de parasita,
pois qualquer político não passa de mais um carrasco fascista.
Não queremos governo;
Queremos apenas liberdade para viver;
Por isso abolimos qualquer espécie de poder."
Para o Nelo Punk, o A Guitarra e o Corrilho um abraço solidário e um obrigado sentido pelos momentos que juntos passámos.
Para quem discrimina ou se sente superior a pessoas como eles, identificando-os ignorantemente com outros fenómenos sociais como o racismo ou a extrema-direita, um conselho apenas: procurem aprender in(formando-se); o "Saber" não ocupa espaço e evita lamentáveis mal-entendidos
Fotografias: GAD. Porto, 2011
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