Thursday, October 02, 2008

Teixeira de Pascoaes (02-11-1877 * / 1952)


O Poeta
Ninguém contempla as coisas admirado.
Dir-se-á que tudo é simples e vulgar...
E se olho a terra, a flor, o céu doirado,
Que infinda comoção me faz sonhar!

É tudo para mim extraordinário!
Uma pedra é fantástica! Alto monte,
Terra viva a sangrar, como um Calvário
E branco espetro, ao luar, a minha fonte!

É tudo luz e voz, tudo me fala:
Ouço lamúrias de almas no arvoredo
Quando a tarde tão lívida se cala
Porque adivinha a noite e lhe tem medo

Não posso abrir os olhos sem abrir
Meu coração à dor e à alegria.
Cada coisa nos sabe transmitir
Uma estranha e quimérica harmonia!

É bem certo quer tu, meu coração,
Participas de toda a Natureza.
Tens montanhas na tua solidão
E crepúsculos negros de tristeza!

As coisas que me cercam silenciosas
São almas a chorar que me procuram.
Quantas vagas palavras misteriosas
Neste ar que aspiro, trémulas, murmuram!



* Todas as fontes bibliográficas indicam 2 de Novembro de 1877 como a sua data de nascimento. Contudo, o assento de nascimento/baptismo refere indubitavelmente que ele nasceu às cinco horas da tarde de 8 de Novembro de 1877, em Amarante. Segundo Luísa Borges, em 'O Lugar de Pascoaes', Pascoaes terá adoptado 2 de Novembro, como data do seu aniversário, por razões puramente simbólicas, por ser o Dia dos Mortos, uma "porta" para o "Mais Além". (origem: wilkipédia)

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