Por outro lado, surgiu como uma provocação/teste às minhas "reabilitadas" capacidades para o trabalho.
Por fim, constituiu uma proposta irrescusável para o tão desejado regresso à cidade que marcou toda a minha infância; o Lobito, em Angola.
"REGRESSO A CASA"
Quando fui convidado para este projecto, na "minha terra" e ainda por cima num gaveto com a rua em que vivi nos últimos anos da minha permanência nessa bela cidade,
(os primeiros vivi-os na "Restinga"), não hesitei em meter-me no avião para ansiosamente vencer as 7 horas e meia que me separavam desse destino; Angola!
Projecto:
Tratava-se de um programa simples; um edifício de habitação (2 apartamentos) e de comércio (uma agência de um Banco) que promoveu toda a construção.
Importava, portanto, que o edifício tivesse um "ar" institucional, já que, na realidade irá funcionar como a representação dessa instituição Bancária na região e mais concretamente na Cidade do Lobito cuja importância esteve, desde sempre, associada ao seu grande Porto, à fábrica dos cimentos, e ao caminho de ferro que nele converge, conferindo-lhe uma posição estratégica no território Africano.
Nesse mesmo quarteirão, entre os muitos e sempre criativos edifícios de habitação
sobressai um dos 3 Mercados Municipais (Luanda, Lobito e Benguela) cuja autoria é atribuída ao grande Arquitecto Português Vasco Vieira da Costa.
Verdadeiramente, e tanto quanto sei (e consta na documentação de que disponho), só o Mercado do Quinaxixe em Luanda
No caso deste um gaveto, era importante conseguir uma transição equilibrada das cérceas de altura distinta (2 para 3 pisos) dos dois edifícios conformam o lote, até há pouco tempo ocupado por construções extremamente precárias e degradadas.
Contudo, no interior desses edifícios, resistiam duas actividades muito nobres : Um Centro de Formação de deficientes e uma Creche, ambos sem electicidade ou água potável.
Na primeira visita que fiz ao local, fiquei simultaneamente chocado e emocionado.
Chocado, pelas degradantes e quase inexistentes condições de salubridade em que aquelas pessoas viviam e trabalhavam;
Emocionado pela forma simpática e pela disponibilidade que os seus olhares meigos me transmitiram.
Senti um arrepio, vi nesses olhares em vez de rancor, esperança e coragem. Pensei nos meus "pequenos males" e senti-me, nesse instante, muito "pequenino".
Mais tarde, depois de descrever essa realidade à administração do Banco (já que o edifício condenava à demolição essa miserável mas preciosa "gruta", os dois administradores fizeram questão de ir propositadamente falar com essa gente e sentir o que eu senti. E sentiram, e reagiram. Era natal e a melhor das prendas para eles foi sentir essa cumplicidade.
Ficou assente em todos nós, que antes de mais, era essencial realojar condignamente aquelas almas.
Legalmente, poderiamos ali erguer um bloco com 4 ou 5 andares. No entanto considerando a envolvente e o equilíbrio que pretendia manter, propus ao promotor, com esses e outros argumentos estéticos, que nos "ficássemos" pelos 2 pisos, criando um pequeno corpo num segundo plano, mais recuado (para não interferir com o alinhamento desejado) que albergará eventualmente o apartamento do futuro gerente da agência do piso térreo.
Os apartamentos foram desenhados para corresponder ao modo de vida dos seus previsíveis destinatários.
A empena "cega", virada para a engenhosa "colina da Saudade" virá a ser totalmente preenchida por um enorme "outdoor", com a imagem do bancomuito bem conseguida e apelativa.
A Colina da Saudade é de um engenho notável: sob ela passa em túnel, o caminho de ferro que parte do Porto, enquanto à superfície resolve eficazmente todo o sistema viário principal, em dois eixos estruturantes e paralelos de sentido único (uma espécie de circuito fechado).
A faixa central desta "falsa montanha" de largura generosa, foi dedicada exclusivamente aos peões, que assim rapidamente passam da baixa da cidade (O bairro da restinga) para o centro de comércio (O bairro da Caponte).
O Projecto de Execução pouco alterou o conceito do projecto inicial. Consolidou-o, depurando-o, defendendo a desejada qualidade de construção através das habituais "resmas" de desenhos nas diversas escalas que são sempre a "autoridade" do arquitecto na relação com a sua obra e com os distintos interesses dos principais intervenientes (Dono da Obra, Construtora, Fiscalização).
As condicionantes mais pragmáticas decorrentes do contexto para onde se projecta, (as dificuldades infraestruturais; a estabilidade da energia eléctrica que implica sempre um inevitável Gerador, a climatização, a segurança,a dificuldade de meios para executar caprichosos pormenores, foram realidades que a Equipa Projectista levou necessariamente em consideração, num diálogo permanente com os técnicos locais que conhecem profundamente o terreno e sabem como ninguém "agilizar os processos".
1 comment:
Parabéns!
Vi tudo muito rápido mas parece-me um projecto muito bom.
Não domino a arquitectura nos países africanos, mas do pouco que conhece este é muito bom e muito bem integrado na envolvente construida.
Parabéns
P.C.
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