Tuesday, May 08, 2012

O "TEATRO AZUL" JÁ VAI FAZENDO "ESCOLA"...

E ainda bem (digo eu...)

(Fotografias retiradas da net)

Teatro Municipal de Almada - Gonçalo Afonso Dias. Egas José Vieira, Manuel Graça Dias
Igreja da Boa Nova, Estoril - Roseta Vaz Monteiro - Arquitectos



Igreja Senhora da Boa Nova church ... por architecturalmovies

4 comments:

AM said...

não gostei por aí além...
por fora pareceu-me mais uma versão "moderna" e muito "limpinha" de Ronchamp
pelos volumes tanto podia ser igreja como piscina como biblioteca como centro cívico...
por dentro achei demasiado escultural
e a luz demasiado confusa e "difusa"
sem destaque para o altar...
ao vivo, admito, pode ser completamente diferente
que estou só a falar pelo vídeo

Gonçalo Afonso Dias said...

Meu caro AM,
Estou "mesmo aqui ao lado" e ainda não fui lá ver... Estou como tu - vi apenas as sempre "enganadoras" imagens...
Desde logo achei, e daí a posta, que o edifício (a massa) muito se assemelhava ao TMA... O que, como escrevi, não acho mal (nem bem)...
No nosso percurso - o meu já vai sendo longo - há certos momentos que nos marcam para a vida. Assunto para uma posta, claro.
Um desses momentos, que recordo com saudade aconteceu na antiga ESBAP, no Porto, numa das memoráveis lições do Fernando Távora; disse ele, já lá vão mais de 20 anos; copiem mas copiem bem!.
Antes disso, porém, quando fui "destacado" para o Porto, no primeiro ano, fiz a viagem, numa velha Hi-Ace, com aquele que era, nessa altura o meu "Patrão" - O arquitecto (tão desprezado...) Conceição Dias.
Eu, estava cheio de "Pica"... achava e tornava a achar e, nessa viagem fui largando comentários a tudo o que via...
O arquitecto Conceição Dias, ao volante da velha carrinha, mantinha-se calado e pouco falador.
Até um determinado momento... Quando desviou o olhar da estrada e me disse: tens de educar esse olhar.
Nem mais nem menos. Sábias palavras de quem já me conhecia bem (na altura fazia maquetas para me safar...)
Quando olho para a arquitectura que por aqui se vai fazendo, lembro-me sempre desse momento.
"Tens de educar esse olhar!".
A "Talho de Foice" devo dizer que o arquitecto Conceição Dias, um excelente urbanista, "braço-direito" do memorável Conceição Silva, nunca, que me lembre viu a sua obra (e é vasta, muito vasta - sobretudo no planeamento algarvio - minimamente reconhecida. Para ele, conheço-o bem, isso pouco ou nada importa. Gosta, sobretudo de viver, de fazer as suas pescarias ao largo de Cascais, de conversar, de partilhar, de celebrar.
É um homem já velho, simples e humilde como são todos os grandes homens.
Para acabar, devo dizer-te que, já perto dos "50", estou mais interessado na reflexão do que na "acção"...
Entendo que a critica na arquitectura deve obedecer a determinados conceitos e se deve focar, sobretudo no contexto.
Isto não é muito claro - dito de outra forma: a minha leitura de qualquer obra, e o caso desta igreja é paradigmático, tem em consideração, sempre, o percurso, os antecedentes, a escrita de cada autor. Sou, por isso, muito mais severo e contundente quando critico uma "estrela" do que quando me dou ao trabalho de tecer considerações sobre uma obra (ainda que bem intencionada) de alguém que ainda anda "às apalpadelas". Não sei se me fiz entender... Grande abraço.

AM said...

sim claro
percebo, e admiro, essa necessidade de "fundamentar", (melhor e melhor, e cada vez melhor), a "crítica" mas não digo que não a qualquer coisa de mais "impressionista" e "imediato"
no outro dia, por acaso, ouvi uma entrevista em que alguém dizia que he fazia muita impressão falar sobre um disco novo sem conhecer toda a obra "passada" do mesmo artista (e de artistas "parecidos")
será mesmo assim?
deverá ser mesmo assim?
recordei agora outra história, velhinha, de alguém que dizia não comentar um filme sem o ver umas tantas vezes...
no nosso caso arriscar o comentário ou a (mais "séria") "crítica" sem conhecer "corpo a corpo" (e no sentido bíblico) a obra será estar condenado à asneira?
e, no entanto, todos nos adorámos (de adoração) imensas obras que nunca vimos (nem veremos...)
e chega, chegará, uma "visita", ou a "crítica" exige mais demorada "experiência"?
o mais certo é isto não fazer mesmo muita diferença
ainda "agora" lia sobre o Borromini ignorar (ou desconhecer) a utilização da "ordem gigante" pelo Palladio...
enfim, não interessa :)
(eu, ainda a caminho dos 50, estou tão ou mais interessado - haverá uma sem a outra... - ainda mais interessado na "acção" que na "reflexão"... mas com a nova "situação" o melhor é esperar, pelas obras, sentado...)

Gonçalo Afonso Dias said...

Tenho um amigo que me dizia, há muitos anos, que a música "contemporânea", vendida em CD's se devia auto-extinguir... Como os yogurt's... devia ter um prazo de validade.
Não concordei com esse meu caro amigo, apesar de perceber a sua idéia.
Relativamente à critica da arquitectura, julgo, que é necessária uma cultura mais abrangente, menos focada no "objecto", menos vinculada a "correntes" ou a "modas".
Não é fácil, e, talvez por isso, essa tão desejada actividade critica não exista ou, quando acontece, é limitada pelos vínculos...
Eu não tenho qualquer problema em relação a isso. O que me parece sempre fundamental é dizer aquilo que penso, com aquilo que sei, no momento em que acho que o devo dizer.
Se sair "asneira", "paciência"...
Também é das "asneiras" e das contradições que somos feitos.
O que me parece mesmo mau é o "acriticismo", a subserviência, a redenção aos "lugares comuns.
Recordo-me de um episódio que julgo ilustrar bem esta ideia- há um "par de anos" visitei com o Manuel Graça Dias e mais alguns outros arquitectos um prédio do Siza em Matosinhos; eu achei a obra vulgar, medíocre, até.
Todos os outros, que me lembre, "lamberam" aquela banalidade como se estivessem perante uma "coisa" genial...
Perante isso, calei-me mas "não me calei"... Continuo a achar essa obra (e não é a única do Siza), vulgar, esquemática e desinteressante.
Abraço.