"A arquitetura, boa ou
má, representa sempre um momento de procura e esperança profissional quando um
arquiteto a elabora. E isso, a meu ver, deve ser respeitado. Criticar um colega
é para mim pretensão e mediocridade."
(Oscar Niemeyer)
Pretensão e Mediocridade. A citação de Oscar Niemeyer, sobre a Crítica de Arquitectura, pareceu-me uma introdução adequada à finalidade deste texto a propósito da recentemente inaugurada Igreja de S. Francisco Xavier, no Restelo, projecto da autoria do arquitecto Troufa Real.
Em Portugal Crítica é sinónimo de
Maledicência. Na sociedade, na política, na arte e particularmente na Arquitectura.
Não existe uma tradição de crítica séria, fundamentada e objectiva. Por outro lado, a abordagem aos projectos e/ou às obras de maior impacto (quer pela singularidade dos programa, quer pela escala dos edifícios) é, à partida, uma abordagem inquinada por preconceitos, pelos "amores" ou "ódios" aos seus autores e focada essencialmente na expressão plástica das obras (vulgo aspecto exterior).
Portanto, é perversa, vazia, extemporânea. Em suma, inútil.
A polémica é saudável quando não é tardia. A crítica é positiva quando é frontal e construtiva.
Os grandes projectos deveriam envolver as populações, não no sentido de limitar ou condicionar a liberdade criativa dos seus autores, mas num sentido de participação cívica, de discussão pública. Seria com certeza uma mais valia para os arquitectos e para as suas obras.
A polémica que frequentemente se gera (e se alimenta nos media) em torno de uma ideia ou de uma obra de maior impacto não é acompanhada por qualquer iniciativa pedagógica (isenta) da Ordem dos Arquitectos (O-A), instituição que estatutariamente "representa a profissão do arquitecto e regula o respectivo exercício em Portugal".
As poucas iniciativas de que me recordo foram infelizes e serviram basicamente interesses de
lobbys mais ou menos organizados (
Os casos dos Contentores do Porto de Lisboa ou do
Novo Museu dos Coches, por exº.). Acresce que, a (O-A) tem vindo, ao longo dos anos, e independentemente de quem a dirige, a discriminar negativamente os arquitectos. Há uma pequena elite de arquitectos "protegidos" enquanto muitos outros (Troufa Real é disso um paradigma) são ignorados, silenciados, proscritos.
Img -1 (Fotomontagem com a torre que ficou por construir)
Quanto à Nova Igreja: recuso-me, evidentemente, a alinhar no plano da crítica sem elevação, normalmente limitada a questões de gosto, simplistas e esquemáticas (o "Gosto" e o "Não Gosto"...). Não vou, também, fazer aqui uma dissertação teórica sobre Arquitectura Religiosa Contemporânea, as suas motivações e os seus simbolismos. É um tema apaixonante, matéria largamente estudada e
suficientemente documentada.
Não sou religioso mas tenho "Fé". As igrejas sempre me apaixonaram, muito antes de ser arquitecto. Mais do que em qualquer outro lugar é nas igrejas que encontro o verdadeiro significado de Espaço, de Luz e de Espiritualidade (como dimensão da condição humana e não bem exclusivo da Igreja, enquanto instituição ou de uma Religião em concreto). Nesse sentido, entendo que a "Igreja Caravela" pensada e desenhada por
Troufa Real é exemplar e reflecte plenamente essa Dimensão Espiritual da arquitectura.
Simpatizo com o "objecto" enquanto forma de expressão surrealista (tenho pena que a torre não tenha sido construída), plena de simbolismo, artístico, autêntico, pessoal e coerente. As polémicas têm um prazo de validade. As grandes obras não.
A polémica é vulgarmente suscitada pela "novidade". A memória é curta. As Amoreiras, o CCB, a Casa da Música, foram, no seu tempo, polémicas. Hoje, não sendo consensuais (e ainda bem), estão assimiladas pelas cidades e pela generalidade dos cidadãos.
Fora de Portugal, não faltam também, exemplos de obras que revolucionaram cidades e mentalidades e que, pela sua originalidade, fazem já parte da Memória Colectiva e da História da Arquitectura Contemporânea.





The controversy
over the S. Francisco Xavier Church in Restelo - Pretension and mediocrity on
Architecture Criticism
"Architecture,
good or bad, always represents a moment of search and professional hope when
created by an architect. And that, in my view, should be respected. Criticizing
a colleague is, in my opinion, pretension and mediocrity"
(Oscar
Niemeyer)
Pretension and mediocrity. Oscar Niemeyer's
citation, about Arquitecture critique, seemed like an adequate introduction to
the finality of this text about the recently opened S. Francisco Xavier Church,
in Restelo, project by the architect Troufa Real.
In Portugal,
Criticism is a synonim of calumnia. In society, politics, arts and mostly
Arquitecture.
There is no
tradition of a serious, justified and objective criticism. On the other hand,
the approach to projects and / or the works of greatest impact (either by the
singularity of the program, either by the scale of the buildings) is, in
principle, an approach vitiated by prejudice, by "love" or
"hate" their authors and mainly focused on the works of artistic expression.
Therefore, it
is perverse, empty, out of time. In short, useless.
Controversy is
healthy when it isn't late. The criticism is positive when it is frontal and
constructive.
Major projects
should involve people, not in a sense of limiting or restricting the creative
freedom of their authors, but a sense of civic participation, public
discussion. It would certainly be an asset to the architects and their works.
The controversy
that often generates (and feeds the media) around an idea or a work of greater
impact is not accompanied by any educational initiative (free) of the Order of
Architects (O-A), an institution that "represents the profession of the
architect and regulates the practice in Portugal."
The few
initiatives that I remember were unfortunate and served primarily the interests
of lobbies more or less organized (The cases of the containers from the Port of
Lisbon or the New Museum of Carriages, for example). Moreover, the (O-A) has,
over the years, and regardless of who directs it, to discriminate negatively
architects. There is a small elite of architects "protected" while
many others (Troufa Real it is a paradigm) are ignored, silenced, proscribed.
About the New
Church: I obviously refuse, to endorse the plan of criticism without elevation,
usually limited to a simplistic and esquematic sense of taste (The “Like” and
“Dislike”...). I am not going to make a theoric dissertation about Contemporary
Religious Architecture, it's motivations and symbolisms. It is an enthralling
subject, widely studied and sufficiently
documented.
I am not
religious but I have “Faith”. I have always been passionate about churches, long
before I was an architect. More than anywhere else, churches are where I find
the true meaning of space, light and sprituality (as a dimension of the human
condition and not exclusive good of the Church as an institution or any
specific religion). In that sense, I understand that the “Caravel Church”,
thought and designed by Troufa Real is exemplary and fully reflects that
Spiritual Dimension of architecture.
I simpathise
with the “object” as a fom of surrealistic expression (It is a pity that the tower
wasn't built), filled with simbolism, artistic, autenthic, personal and
coherent.
Controversy is
commonly raised by the “novelty”. The memory is short. The Amoreiras,
the CCB, The Casa da Música, were, in their time, controversial.
Today, even (thankfully) not being consensual, are assimilated by the cities
and majority of citizens.
Outside of
Portugal, there are a lot of examples of works that revolutionalized cities and
mentalities and that, by their originality, are already a part of the Collective
Memory and History of Contemporary Architecture.
img 1: (Photomontage with the tower)
img 2: (Bilbao
Guggenheim Museum, Spain, Bilbao)
img 3: (Oscar
Niemeyer Museum, Curitiba, Brasil)
img 4: (New Metrepolis, Amstardam, Holand)
img -5: (“Dancing House”, Plague, Czech Republic)
Gonçalo Afonso Dias (architect)
Translation: Tiago Afonso Dias
http://goncaload-artes.blogspot.com/2008/10/propsito-de-contentores-e-do-porto-de.html