Friday, December 28, 2012

A Angústia Insuportável de Gente

 
(Aguarela sobre papel)

 
A Angústia Insuportável de Gente
Ah, onde estou onde passo, ou onde não estou nem passo,
A banalidade devorante das caras de toda a gente!
Ah, a angústia insuportável de gente!
O cansaço inconvertível de ver e ouvir!

(Murmúrio outrora d...e regatos próprios, de arvoredo meu.)

Queria vomitar o que vi, só da náusea de o ter visto,
Estômago da alma alvorotado de eu ser...

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa
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Olha o Amolador

Olha o Amolador

Sete notas no ar hoje ecoaram!
O pregão do Amolador anda no ar.
Por todas a casas se procuraram
Tesouras e facas para aguçar.
... Despertou em mim a curiosidade
Fizeram-me recordar as tradições
Passado recente da minha cidade
Lisboa, de encantos e de pregões!
Mas o som da flauta era sonante...
Anunciava a chuva e a tempestade,
Incómoda, enfadonha e marcante
Agora, ao recordar, sinto saudade!

(Rogério Martins Simões

Thursday, December 27, 2012


 
Quero tudo novo de novo. Quero não sentir medo. Quero me entregar mais, me jogar mais, amar mais.
Viajar até cansar. Quero sair pelo mundo. Quero fins de semana de praia. Aproveitar os amigos e abraçá-los mais. Quero ver mais filmes e comer mais pipoca, ler mais. Sair mais. Quero um trabalho novo. Quero não me atrasar tanto, nem me preocupar tanto. Quero morar sozinha, quero ter momentos de paz. Quero dançar mais. Comer mais brigadeiro de panela, acordar mais cedo e economizar mais. Sorrir mais, chorar menos e ajudar mais. Pensar mais e pensar menos. Andar mais de bicicleta. Ir mais vezes ao parque. Quero ser feliz, quero sossego, quero outra tatuagem. Quero me olhar mais. Cortar mais os cabelos. Tomar mais sol e mais banho de chuva. Preciso me concentrar mais, delirar mais.
Não quero esperar mais, quero fazer mais, suar mais, cantar mais e mais. Quero conhecer mais pessoas. Quero olhar para frente e só o necessário para trás. Quero olhar nos olhos do que fez sofrer e sorrir e abraçar, sem mágoa. Quero pedir menos desculpas, sentir menos culpa. Quero mais chão, pouco vão e mais bolinhas de sabão. Quero aceitar menos, indagar mais, ousar mais. Experimentar mais. Quero menos “mas”. Quero não sentir tanta saudade. Quero mais e tudo o mais.
“E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha".
Fernando Pessoa

 
 
 
Aguarela sobre papel
 
 
Da Minha Janela

Mar alto! Ondas quebradas e vencidas
Num soluçar aflito, murmurado...
Vôo de gaivotas, leve, imaculado,
Como neves nos píncaros nascidas!

Sol! Ave a tombar, asas já feridas,
... Batendo ainda num arfar pausado...
Ó meu doce poente torturado
Rezo-te em mim, chorando, mãos erguidas!

Meu verso de Samain cheio de graça,
Inda não és clarão já és luar
Como um branco lilás que se desfaça!

Amor! Teu coração trago-o no peito...
Pulsa dentro de mim como este mar
Num beijo eterno, assim, nunca desfeito!...

Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade"

Tuesday, December 25, 2012

Companheiro

 
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Auto-retrato Gonçalo Afonso Dias,  Dez. 2012

Tomara...

 
 
(Gonçalo Afonso Dias)

 
Tomara
Que você volte depressa
Que você não se despeça
Nunca mais do meu carinho
E chore, se arrependa
E pense muito
... Que é melhor se sofrer junto
Que viver feliz sozinho

Tomara
Que a tristeza te convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz
E o verdadeiro amor de quem se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz

E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais...


(Vinícius de Moraes)
 
 
Fotografia: Gonçalo Afonso Dias
Luanda, Angola 2004
 
 

Wednesday, December 19, 2012

Os meus votos de muita CORAGEM e muita SOLIDARIEDADE para 2013 !

 
 
Fotografia: Gonçalo Afonso Dias

 A "Crise", a "Troika", Passos Coelho e a política criminosa de empobrecimento galopante dos portugueses mudou quase todos os paradigmas - desde os hábitos de consumo, aos anúncios publicitários.
Apenas parece não ter mudado o "tom" dos votos de "Boas Festas"... Continua a prevalecer a hipocrisia, ingénua e bem-intencionada - bem sei - mas, ainda assim Hipocrisia.
Desejar um "Bom Natal", para mim é uma abstracção... como abstracta e sem conteúdo válido (para além do consumismo) é essa "invenção" capitalista. Mas é relativamente pacífico...
Já fazer votos de "Um Bom 2013" me parece, no mínimo, cruel. De certo modo é como desejar a um condenado à prisão "Uma Boa Estadia !"...
Todos sabemos o que nos reserva 2013. Mais pobreza, mais desemprego, menos esperança, menos futuro para os nossos filhos - a isto chama-se "Realidade".
Por isso, não faço votos de "Um Bom 2013 !" - Desejo sim Muita CORAGEM e muita SOLIDARIEDADE para resistir ao ano que está prestes a principiar.
Força!

Sunday, December 09, 2012

Páginas dos meus Cadernos

 
Desenhos: Gonçalo Afonso Dias, 2012

Kandengues

 
 
Fotografia: Gonçalo Afonso Dias
Ilha do Mussulo, Angola, 2004

Kandengue

 
 
Fotografia: Gonçalo Afonso Dias, Luanda 2004

Cota fixe (2)

 
Fotografia: Gonçalo Afonso Dias, Luanda 2004

Cota fixe.

 
 
Fotografia: Gonçalo Afonso Dias, Luanda 2004

As "feridas" do Camutangre

 
 
"Camutangre" - Fotografia: Gonçalo Afonso Dias, Lobito, Angola 2004

Esta é uma imagem dura e violenta. Mas é o retrato verdadeiro de um homem que ficou "desempregado" com o fim da guerra.
Como ele, muitos guerrilheiros que nada mais sabiam fazer viram-se, de repente, abandonados, doentes, na rua,na miséria.
Os camutangres (são uma comunidade da Canata (Cajanguela) no Lobito )foram e são um mito entre os resistentes ao exército colonial.
Conversei muito com este homem que me abordou pedindo trabalho. Dei-lhe dinheiro para se tratar certo de que o iria gastar noutras prioridades...
Edito esta imagem pura e dura, não para chocar ninguém, mas sim porque é preciso acabar com a hipocrisia e com as aberrações sociais nascidas da guerra.
Lobito, Angola 2004

Wednesday, December 05, 2012

Até sempre Joaquim Benite.



Fiquei sem palavras e sem palavras estou... O Joaquim Benite foi para "parte incerta". Prematuramente como acontece aos "Homens Bons". Com ele fizémos o "Teatro Azul". A sua energia, a sua paixão pelo teatro e por Almada tornaram possível esse sonho. Até sempre Joaquim!

Saturday, December 01, 2012

Aterrar em Luanda - Voo doméstico Benguela/Luanda - Air 26

Os "desempregados" do amor



Os desempregados do Amor

 Os portugueses têm hoje no seu vocabulário palavras que, em tempos, não imaginavam; Crise, Economia, Alavancagem, Austeridade, contenção, empreendedorismo, etc.

Portugal agoniza e agoniza também o seu povo... A malfadada "Troika" e a governação servilista de Passos Coelho apertam o "laço" à volta dos nossos pescoços. (que palavra feia... Só agora me apercebi... - pescoços...).

Multiplicam-se, na televisão, as análises (macro) e (micro) económicas. Todas no mesmo sentido - sem sentido nenhum. Não há, de facto, sentido nem "sentir".

 O pragmatismo dos números e das evidências esmaga qualquer sentimento de esperança. Não há aquela "luz ao fundo do túnel"... Porque não há (ponto).

 Aquilo que não é mensurável, quantificável, não se analisa. Não dá jeito...

 Entre muitas outras coisas que deviam merecer alguma atenção por parte dos profissionais da "análise" devia estar - e não está - as "contra-indicações" deste viver nas relações entre as pessoas.

Apercebo-me, e não devo ser só eu, que a "Crise" tem um impacto violento nessas relações. A pior das crises - a "Crise de valores".

Por quantificar estão, sem dúvida, o número de separações passionais, de agressões, de maus-tratos.

Ninguém ainda "me disse" quantos casais com filhos se "desfizeram" no último ano. Uns porque "tinha de ser". Outros, porque um deles "fugiu" à procura de uma vida qualquer, num sítio "qualquer".
Continuando... a "Crise" tem um impacto que não é despiciente nas relações entre as pessoas; Eu sinto.
tu sentes, ele sente.

Impera, nessas relações, um certo "oportunismo" que nasce da incontornável necessidade de sobreviver. Para mim, essa é a pior das "Crises". A dos valores, a do amor. Hoje somos muitos, mesmo muitos os "desempregados do amor". Uma fatalidade, digo eu.