Wednesday, May 09, 2012

POSTA RESTANTE



A ESTA.


Não tenho quaisquer pretensões a ser um crítico (teórico) de arquitectura. 



Não é essa a minha vocação. Muito menos o meu objectivo, ou a minha intenção.



Porventura, não li os livros que devia ter lido. Nem tão pouco me dediquei a estudar, empenhadamente, a História (completa) da Arquitectura.

Confesso que o meu trabalho tem muito mais de intuição do que de "teoria".

Confesso também que invisto muito mais em livros de fotografia do que em revistas de arquitectura...

O que os outros fazem pouco me importa. Sempre foi assim e assim será, desconfio...

Interessa-me muito mais, aquilo que os "outros" fizeram, há muitos anos.

E aí descubro muito daquilo que sou - Corbusier, Loos, Alvar Aalto, Kanh, Tadao Ando.


Um dia, em Angola, há alguns anos, fui convidado para ser professor de arquitectura na "Lusíada de Luanda". Recusei - coitados dos meus eventuais alunos...

A "coisa" ficou apenas por uma palestra onde tentei alertar os futuros arquitectos angolanos para a qualidade (e coerência) da arquitectura feita por portugueses em Angola e da importância de conservar esses exemplos. Vasco Vieira da Costa, incontornável, mas muitos outros que encontraram no "exílio" espaço e tempo para a experimentação.

Nem sei bem porque é que estou agora a falar nisto....

Como sempre, acabo por me perder entre ideias, convicções e, sobretudo, dúvidas.

Comecei esta "posta" por um desenho.

E, também, por uma ideia.

Na sequência da minha anterior "entrada" e sem paciência para grandes abordagens intelectuais, decidi (não decidi - aconteceu) fazer um desenho que, de algum modo, ilustrasse a banalidade da arquitectura que por cá (e por lá...- seja onde for) se vai fazendo.

No fundo, é uma representação, dirigida sobretudo aos jovens arquitectos - sem qualquer paternalismo - da "fórmula" - banalizada - de "dar nas vistas.

É fácil... Entramos no mundo (acho que já falei nisso) da imagem, do impacto.

Eu fiz uma consola maior do que a tua!...

Eu fiz uma "caixinha" melhor do que a tua...

Eu fiz uma "coisa" mais esquisita do que a tua...

Eu fiz um pilar mais "torto" do que o teu...

E, mais nada - um imenso vazio.

É este, na minha opinião, o estado da "nossa" arquitectura. 

Coitada...



Desenho: Gonçalo Afonso Dias. 05-2012

5 comments:

Alex Couri said...
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Alex Couri said...

Ola Gonçalo.. Sei de alguns escritórios brasileiros q estão "descobrindo" Angola e exportando uma "arquitetura global" de péssima "qualidade cultural", se é q se pode utilizar este termo.. mas é isso mesmo, uma arquitetura do dinheiro, do status, s/ vinculo nenhum com o lugar onde esta se inserindo, s/ esforço de afirmação ou recuperação de uma memória, de uma releitura estética, fatores climáticos etc etc etc

Gonçalo Afonso Dias said...

Caro amigo,
Deduzo que seja arquitecto pelo conteúdo do seu comentário - que agradeço.
Sou luso-angolano e nada tenho (muito pelo contrário) contra os brasileiros (em geral) e os que também são arquitectos (em particular).
Interessa-me muito, até, saber mais sobre o "estado da arquitectura no Brasil" - como está o mercado, como os arquitectos brasileiros interpretam o valioso património construído por Lúcio Costa, Oscar Niemeyer e tantos outros.
Indo objectivamente à questão da intervenção das empresas brasileiras em Angola, também me abstenho de criticar contundentemente - Apenas (a Odebrecht é o paradigma disso - aproveitaram aquilo que agora é moda chamar de "uma janela de oportunidade"...
E que grande Janela!|...
Desde o Plano de Luanda Sul (Talatona, por ex.) até às maiores obras promovidas pelo Estado Angolano.
Aliás o vínculo e a cumplicidade entre essa construtora (entre outras coisas...) com o regime de Eduardo dos Santos ultrapassa, e muito, as relações correntes entre um Governo e uma instituição (empresa) comercial.
Dito isto, fica claro, julgo eu, que os "crimes" lesa-arquitectura, praticados sistematicamente no território têm claramente um único responsável - O Governo Angolano.
A total ausência de uma política séria de planeamento e urbanismo, a urgência (emergência) de mostrar obra feita, a irresponsabilidade e a ausência de valores culturais com que se permite (e incentiva)a construção desordenada e caótica de grandes edifícios (em Luanda, por exº) sem qualquer critério que não o do negócio, é a verdadeira causa de um presente descaracterizado e de um futuro inspirado nos "horrores" que se constroem no Dubai. Aliás, para a generalidade dos investidores e promotores angolanos, o Dubai é a imagem da modernidade, do sucesso, do empreendedorismo...
A arquitectura feita no passado (anos e 60) por grandes experimentalistas arquitectos portugueses vai sendo progressivamente "abatida" para dar lugar às tais "torres de cristal".
Um abraço e volte sempre.

Alex Couri said...

ok Gonçalo! mto esclarecedor suas considerações.. Abraços

Alex Couri said...

ok Gonçalo mto esclarecedor suas considerações.. abçs!